sexta-feira, 31 de outubro de 2014

o pensamento do dia...


no público...

leitura [educação] para o fim-de-semana... professores, tecnologias, competências e desenvolvimento...!


o regresso [em todo o seu esplendor?] do lápis azul...?


no público 'online'...

"A primeira razão que Cardoso apresentou para a sua decisão foi o “mau gosto” das imagens que compõem o ensaio visual publicado neste número da revista. Da responsabilidade de Ricardo Campos, da Associação Portuguesa de Sociologia, esse ensaio é composto por um breve texto, no qual se fala de uma tendência de repolitização da forma graffiti no actual contexto social de crise. No fim do texto, o sociólogo expõe imagens de vários graffiti que existem nas ruas de Lisboa e que satirizam e criticam figuras de Estado e grandes empresários, de Angela Merkel a Passos Coelho, de Belmiro de Azevedo a Alexandre Soares dos Santos. Foram estas imagens que o gosto de Cardoso considerou intoleráveis e são elas que, entretanto, têm sido reproduzidas na TVI, na RTP, no PÚBLICO ou no Expresso.

Como outros colegas da direcção cessante da Análise Social, tive oportunidade de explicar a José Luís Cardoso que estava a cometer um grave erro, prejudicial à imagem do ICS e ao prestígio da revista. E que o gesto era injustificável. O sociólogo Ricardo Campos estuda graffiti, o que não significa que comungue do conteúdo dos graffiti que estuda. As imagens que expôs são material empírico que tem recolhido e analisado nas suas investigações sociológicas. Responsabilizá-lo pelo conteúdo dos graffiti é tão descabido como supor que um historiador que edite a correspondência de Salazar é salazarista. Ou que um outro que estude as representações visuais de Hitler seja nazi. Os exemplos de ridículo poderiam multiplicar-se.

Entretanto, a argumentação de Cardoso começou a enredar-se em mais um labirinto de equívocos. Admitiu que, afinal, o seu problema não era com as imagens – e que tão-pouco o incomodaria a exposição dos graffiti. E passou a justificar-se com o facto de a direcção da revista não ter submetido o trabalho de Campos a avaliação externa. É um argumento não menos frágil do que o do “gosto”. Como está explicitado nas normas de publicação da revista, existem determinados conteúdos da mesma que não necessitam de avaliação externa. São conteúdos que ocupam um espaço menor da revista e cuja aprovação depende da avaliação editorial feita pela própria direcção da revista. De resto, esta é uma situação própria de várias outras revistas académicas. O ensaio visual em questão não tinha de ser submetido a avaliação externa e nenhum ensaio visual da Análise Social alguma vez o foi. Será que Cardoso também vai mandar destruir esses números?!? Enfim, suspeito que as explicações apresentadas por José Luís Cardoso não convençam sequer o próprio.

O seu acto é injustificável e não é por eufemisticamente lhe chamar “gestão de conteúdos” – e não censura – que deixará de o ser. Ele é director do instituto que é proprietário da revista, não é o director da revista. Estivesse no lugar do director da revista, o meu colega João Pina-Cabral, e poderia optar por publicar ou não publicar o ensaio visual em questão. Mas não está e a separação entre o conselho de gestão do ICS e a direcção da revista é fundamental para a credibilidade académica de ambos. O que se passou foi um acto de ingerência numa publicação que deve ser cientificamente imune à gestão dos interesses do instituto. A separação entre a responsabilidade editorial e a propriedade da publicação é um princípio sagrado da liberdade de expressão. A academia, e em particular a universidade pública, presta contas a este princípio. E nem falo na leviandade de quem manda destruir revistas impressas com dinheiros públicos.

Finalmente, quero pedir aos leitores que procurem não confundir a instituição com o seu actual director. No ICS existem excelentes investigadoras e investigadores, de doutorandos a catedráticos, bem como funcionários muito competentes. Cardoso diz ter procurado preservar o “bom nome” do ICS, mas está a fazer exactamente o contrário, acabando por arrastar com ele o prestígio da Universidade de Lisboa e das Ciências Sociais portuguesas. Ainda espero que tenha a lucidez de voltar atrás na sua decisão. E que os investigadores do ICS saibam ser suficientemente amigos do seu director para lhe dizerem que errou.

Ao José Luís Cardoso caberá tirar as consequências do seu erro. Da minha parte, e enquanto historiador que tem aprendido com os seus trabalhos científicos, tomo a liberdade de lhe sugerir que a eles passe a dedicar a totalidade do seu tempo de trabalho. Porque para liderar uma instituição universitária é preciso estar seguro de que o bom nome dessa instituição depende sempre, e antes de mais, do respeito pela liberdade e independência científicas. Quando trabalhei no ICS, tanto no tempo da presidência de Manuel Villaverde Cabral como na de Jorge Vala, era isso que se passava."
   
Director adjunto cessante da Análise Social e professor auxiliar na Universidade Nova de Lisboa


aqui.

coisas da (des)educação... dos extremos ao fundamentalismo...?


no jornal de negócios...

"António Sampaio da Nóvoa é um minhoto de Valença. Fez dois doutoramentos: um em Educação na Universidade de Genebra, outro em História na Sorbonne. Foi reitor da Universidade de Lisboa entre 2006 e 2013, é Reitor Honorário da Universidade de Lisboa desde 2014. Há uns meses, recebeu o Prémio Universidade de Coimbra para a personalidade do ano. No último ano, tem estado em Brasília, numa missão da Unesco junto do Governo brasileiro e como professor convidado da Universidade de Brasília. Os seus discursos são empolgantes. A sua dimensão política é inegável. Para usar uma palavra que o próprio não usaria: é tudo menos o chatarrão da academia.
Este Outono pode ser encarado como um começo de fim de ciclo?
Espero que sim. Creio que Portugal precisa de abrir um tempo novo na sua história, na sua vida política. Este tempo da troika está esgotado.

O tempo da troika ou o tempo deste Governo?
É igual. Não consigo separar este Governo da troika nem a troika deste Governo. O Governo já não devia existir. Parece-me óbvio que já devia ter sido demitido.

Qual foi o momento agónico, para si?
Depois do momento Vítor Gaspar, este Governo perdeu grande parte da sua legitimidade e da sua capacidade de governar. Estamos a assistir a um desmantelar do Governo em muitos sectores. Era qualquer coisa que devia ter tido consequências. Consequências do ponto de vista dos órgãos do poder, do Presidente da República.

Mantém-se até ao final da legislatura?
Claro que o Governo vai procurar manter-se até ao final da legislatura, mas espero que haja a capacidade de reagrupar uma energia de mudança.

Os portugueses parecem amedrontados, apáticos, desesperançados. Como é que a sociedade, globalmente, se agrega para operar a mudança?
É um enorme desafio. É um desafio em Portugal, é um desafio na Europa, é um desafio no mundo. Essas energias de mudança não coincidem necessariamente com a tradicional clivagem entre a esquerda e a direita. Elas têm outras configurações que temos que perceber neste século XXI.

Quais são as outras grandes configurações? Ricos e pobres?
Não. Há dois elementos importantes: um são as pessoas que já não aceitam um mundo regulado por um capitalismo financeiro completamente selvagem, sem nenhum controlo, especulativo. Que está a destruir as sociedades. A criar cada vez mais pobreza, mais desigualdade. Desta crise resultam mais ricos e resultam mais pobres. Não podemos deixar de voltar aos vampiros de que falou o Zeca Afonso. São outros vampiros, mas é impressionante como se relê aquela letra...

"Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada".
E há a parte: "Senhores à força, mandadores sem lei"... Levam-nos a tombar, vencidos. É preciso fazer um trabalho para tornar isto insuportável.

Como assim?
Temos que ser capazes, socialmente, em todo o mundo, de dizer que isto é intolerável. Não podemos resignar-nos. Não podemos consentir esta lógica autodestrutiva, estes bancos e empresas que ora estão a ganhar milhões, ora estão na miséria.

Não se sabe exactamente como fazer desse mundo um lugar mais habitável...
Não sabemos. Mas temos que ter, não só maior regulação dos sistemas bancários e financeiros, como admito – e não me ouviria dizer isto há três anos – que tenhamos que ir para a nacionalização de parte dos sistemas bancários.

Em Portugal?
Em Portugal, na Europa e no mundo. O nível de selvajaria chegou a tal ponto que temos que reconquistar algum controlo sobre as nossas vidas.

A segunda reconfiguração destas energias de mudança são as pessoas que acreditam nas sociedades. Vivemos numa dicotomia Estado/mercados como se esta fosse a única possível. E há uma dimensão, que é sempre a mais importante quando estamos num impasse, quando estamos à deriva. A minha âncora é sempre a mesma: a liberdade. No meio disto tudo, onde é que está a liberdade? A liberdade, hoje, está no reforço da sociedade.

Como se faz o reforço da liberdade?
Implica que a liberdade não esteja asfixiada por um Estado que toma conta de tudo e das suas vidas, e que se transforma rapidamente numa estrutura pesada. Vivi isso na universidade. É insuportável a maneira como a nossa vida está controlada por burocracias.

A política educativa do Crato é decalcada da política educativa de George W. Bush, no princípio do século XXI.
 
Quando Crato fala do Português e da Matemática, hoje, a metáfora é a mesma que levou à escola salazarista. Uma escola paupérrima, medíocre, nimalista.


Já todos percebemos que os mercados, ainda que pareçam uma entidade abstracta, não o são, tal o impacto que têm na nossa vida.
Falamos dos mercados como uma coisa com vontade própria. Os mercados querem, os mercados fazem, os mercados decidem. Como se fossem pessoas. O reforço da sociedade é uma coisa muito importante. E implica uma outra política. A política do século XXI não pode ser igual à política do século XX.

Como assim?
A política do século XX está, em grande medida, esgotada. As lógicas das políticas representativas, do voto de quatro em quatro anos, ou de cinco em cinco anos, que permitem, nos intervalos, descansar... O que estamos a perceber é que nunca podemos descansar.

No século XX, tínhamos os intervalos entre guerras, nos quais era preciso descansar da guerra, por um lado, e sobretudo refazer aquilo que a guerra tinha destruído.
Foi. Mas a minha geração, 19 anos no 25 de Abril, durante muitos momentos descansou. Fomos às nossas vidas. Hoje estamos a perceber que temos que ter uma presença na política que não tínhamos, até agora, por via dessa lógica de representação.

Num livrinho sobre a aprendizagem escrito por Michel Serres, um filósofo que gosto de frequentar, ele chama a atenção para o facto de estarmos a viver o que ele designa de terceira revolução na história da humanidade. A primeira foi a revolução da escrita, já lá vão milénios, a segunda foi a revolução do livro impresso, já lá vão 500 anos.

Qual é a terceira, a tecnológica?
O ponto dele é que o tecnológico cria novas maneiras de pensar, de aceder ao conhecimento, de nos relacionarmos, de aprendermos. Novas maneiras de sermos autores, também. Nunca se escreveu tanto como hoje, nunca se leu tanto como hoje.

Em Portugal há 300 mil blogues. Diz qualquer coisa sobre essa capacidade de escrevermos e de nos inscrevermos.
São 300 mil pessoas a ter opinião. Ora, como é possível governar hoje sem a voz e sem a presença diária dessas pessoas? Tem que haver mecanismos de democracia que vão para além da representação de quatro em quatro anos.

As energias de mudança estão nestas duas coisas: primeiro, o trabalho de tornar intolerável a situação actual, este capitalismo voraz, selvagem; e o reforço da sociedade, da presença da sociedade nas suas diversas dimensões.

Pode falar mais sobre o reforço da sociedade?
Só podemos reforçar a sociedade por via do conhecimento. O conhecimento tem que ser três coisas, e se não for estas três coisas não adianta de nada. O conhecimento tem que ser educação, tem que ser formação, mais a capacidade de pôr esta gente bem preparada a trabalhar.

Saber não é o mesmo que saber trabalhar.
Exactamente. Não se pode ficar na primeira parte. Isto em Portugal está a perder-se devido às políticas dos últimos três anos. Depois, a ciência é hoje pedra chave para tudo.

Porque, sobretudo no contexto de investigação, é sinónimo de futuro?
Porque a ciência, mais do que sinónimo de futuro, é sinónimo de cultura. Aquilo que me interessa na ciência é sobretudo a cultura científica. A Prof. Maria de Sousa, que admiro particularmente, escreve muitas vezes isto. Um dos grandes problemas de Portugal é que ciência e cultura científica não estão a chegar à sociedade. Não estamos a ser capazes de fazer dinâmicas de inovação.

Uma terceira dimensão do conhecimento, que hoje é muito importante, é o conhecimento que é capaz de trazer dignidade à vida.

O que é que isso quer dizer? É assim uma frase que, num contexto religioso, muda completamente.
Tem o contexto de ser capaz de estar ao serviço do bem-estar das pessoas. É preciso construir um conhecimento que não seja nem uma deriva tecno-optimista, nem uma deriva tecno-pessimista, mas que seja uma capacidade de construir uma sociedade mais justa.

No fundo, pôr alguns dos valores do Estado Social como centro das nossas preocupações e da nossa construção enquanto sociedade.
Exactamente. Tentar que esse conhecimento seja um conhecimento enraizado em preocupações sociais.

O seu discurso do 10 de Junho de há dois anos e meio foi muito aplaudido, deu um alento. Mas depois, ou porque um discurso é inconsequente no imediato, ou porque estamos cansados, exauridos, vamos à nossa vida, tentar sobreviver. A roda parece que não gira. Porque é que é assim?
Há várias razões. A narrativa do fim da história do Fukuyama acabou por se revelar mais verdadeira do que ele imaginava. Nós até estamos contra os mercados, até estamos contra a especulação financeira..., mas não há nada a fazer. Quantas vezes ouvi isso: "O que é que queres fazer?". Isto é tão, tão superior às nossas forças! Isto dá uma das piores coisas que podem acontecer a uma sociedade: uma revolta inconsequente. Uma indignação que não traz consequências. Não tenho um discurso apocalíptico, mas isto pode criar na Europa um mau estar social de consequências imprevisíveis.

Está a pensar no crescimento da extrema-direita como sintoma disso?
Estou, ou em movimentos populistas, ou em coisas que corrompem a democracia.
No caso português, descansámos com a Europa. Projectámos na Europa, historicamente, o mito do mar. Agora estamos a pagar o preço desse descanso.

Estamos a pagar o preço das reformas que não se fizeram, do dinheiro malbaratado.
O malbaratado é grave, mas nem é o que me interessa. É o estrategicamente mal pensado. Não foi um dinheiro para reforçar a nossa capacidade sustentada. Todo o dinheiro que veio, com conivência de todos, nossa e de Bruxelas, acentuou a dependência, em vez de ter reforçado a independência.

Voltemos ao conhecimento: continuamos a ser contribuintes líquidos da União Europeia na área da Ciência; evoluímos imenso, mas continuamos a dar mais dinheiro para a Alemanha e para a Inglaterra fazerem Ciência do que aquele que recebemos. O Eça dizia: a civilização custa-nos muito caro, temos que pagar direitos de alfândega, e fica-nos curta nas mangas.

A Europa e o dinheiro que daí vem fica curto nas mangas – é o que está a dizer.
No outro dia reencontrei um escrito do Castoriadis: "É preciso escolher: ou descansamos ou somos livres". Ele vai buscar isto ao Tucídides, ao general grego. Quando falo de uma nova forma de democracia, está resumida nesta frase.

Entretanto desapareceu uma coisa que existia na altura em que se podia descansar: a confiança.
É verdade.

Lembrei-me dos rapazes dos tanques, do livro do Adelino Gomes e do Alfredo Cunha. Uma boa parte deles apontava como o pior destes 40 anos de democracia "esta corja de políticos". Ainda que não nos mobilizemos o suficiente para sermos livres pelos nossos meios, já não confiamos naqueles que podiam lutar pela nossa liberdade. Estamos num nó.
Estamos. Esse nó é decisivo para Portugal e para a democracia no século XXI.

A Europa não vai ter a percentagem de riqueza mundial que teve até hoje. (…)
 
Isto obriga-nos - foi uma frase que eu disse uma vez e que as pessoas não gostaram de ouvir - a ser capazes de viver melhor com menos.


Não podemos ler-nos, nem ler esse desencanto, sem ler a Europa, o mundo...
E o lugar da Europa nunca mais voltará a ser o que foi nos séculos passados. A Europa não vai ter a percentagem de riqueza mundial que teve até hoje. Surgiram outras potências, outras regiões, outros equilíbrios. Sermos capazes de construir países livres e países onde o conhecimento esteja ao serviço dessa liberdade, é o que tem futuro na Europa.

A outra coisa certa que temos é que não vai haver no século XXI níveis de crescimento como houve na segunda metade do século XX. Isto obriga-nos – foi uma frase que eu disse uma vez e que as pessoas não gostaram de ouvir – a ser capazes de viver melhor com menos. Não quer dizer que não possamos ter sociedades mais equilibradas, com mais justiça social, mais direitos. É por isso que me bato.

Enquanto isso, enquanto não mudam as placas tectónicas, há uma grande diferença em ter Pedro Passos Coelho e António Costa?
Espero que haja. Há um suplemento de alma que foi dado a estas energias de mudança com a eleição do António Costa. Do ponto de vista de Passos Coelho, temos a ideologia do totalitarismo dos mercados. É a lógica matricial daquela direita, fundamentalista. Portugal é talvez dos países onde essa lógica é levada mais ao extremo, nos discursos e na maneira como este Governo se comporta.

António Costa representa uma outra cultura, uma outra posição política.

Representa uma efectiva alternativa?
O problema maior das energias de mudança é saber se vai ser possível construir uma alternativa – que, a meu ver, não se constrói voltando ao mesmo ou aos mesmos. Os brasileiros usam uma expressão: a mesmice. Com uma cultura da mesmice, de voltar aos mesmos erros, às mesmas pessoas, não haverá alternativa nenhuma. Esse é o ponto que está em cima da mesa hoje. Julgo que não é injusto dizer (é talvez um bocadinho simplista) que tivemos uma governação socialista marcada pela ideia da nova gestão [da coisa] pública. Esta ideologia que aparecia como uma coisa interessante, como uma terceira via, acabou com os privados a tomarem conta dos interesses públicos e dos interesses do Estado. Depois tivemos três anos de hiper-liberalismo. Se for possível reforçar a sociedade do ponto de vista político… Nunca vi grandes benefícios no célebre slogan: "Uma maioria, um Governo, um presidente".

Porquê?
É preciso que haja pluralidade. A sociedade é feita de negociações, de consenso, de acordos. É feita de momentos em que as pessoas se juntam. Não é preciso ter um alinhamento partidário mas lógicas de participação política mais ampla. Espero que o António Costa possa ser capaz de dar corpo a isso, como muitos outros movimentos que têm surgido na sociedade portuguesa, com pessoas que são independentes. Agora, dividir é muito fácil, unir é muito difícil. Esse processo de reunião, de reagrupamento dessas energias de mudança, é difícil.

As primárias do PS e o caso Tecnoforma foram coincidentes. Poucos acreditavam que Costa pudesse seguir directo da presidência do partido para o cargo de primeiro-ministro. Apesar de tudo, criou-se um élan. Do Tecnoforma, consensualmente se diz que mudou a imagem de Pedro Passos Coelho. Passaram umas semanas, e rapidamente o balão desinchou, em relação aos dois casos. Até ao próximo?
É preciso trabalho. O trabalho de não se descansar na construção de uma alternativa. Essas coisas demoram tempo. Mas é verdade que temos umas flutuações de humor rápidas. Falta-nos, às vezes, uma constância. (É uma característica dos portugueses, sempre falada por escritores, por pessoas que nos visitaram.) E é preciso conversar, conversar, conversar. E a partir daí ir construindo um caminho, com uma estratégia.

Quando foi a última vez que Portugal teve estratégia?
Quando entrou na Europa. Foi uma estratégia, a muitos títulos, errada, viemos a perceber mais tarde. Mas havia um pensamento claro de afirmar Portugal como um país europeu. Hoje, a nossa estratégia tem que ser rever essa posição. Apesar de todos os problemas, continuo a acreditar que o nosso lugar é na Europa e que a Europa, com todas as dificuldades, continua a ser uma região na qual se pode construir uma sociedade livre e baseada no conhecimento. Mas a Portugal não basta ter um pé na Europa. É preciso ter um pé…

No Atlântico?
Sim. Em particular no Atlântico sul. E isso tem a ver com a língua portuguesa. Para mim tudo começa e tudo acaba na língua. A língua é o nosso bem maior. (É uma das coisas que me desesperam, ouvir um ministro do actual Governo, há poucos dias, desancar nas Ciências Sociais e Humanas. A mesma pessoa, passados dois dias, está a fazer um grande discurso patriótico sobre a História e o Camões... Lembra-se logo do Almada [Negreiros], e aquela célebre frase: "Enchem a boca de Camões e deixam o Camões morrer de fome".

Desancava nas Ciências Sociais porque as considera inúteis?
A ideia é que a única coisa que é útil é a tecnologia, as aplicações.) A língua portuguesa é um potencial impressionante. Andámos muitas décadas, muitos séculos afastados da Europa. Temos andado muitas décadas afastados de uma vocação, de um lugar. O nosso pensamento estratégico pode ser esse. E, para afirmar esse pensamento estratégico, temos que reforçar uma componente da nossa soberania. Hesito entre soberania e independência... O problema é que a palavra independência ainda é pior. Pode querer dizer isolamento, salazarismo.

O que quer dizer com soberania (ou independência)?
Não podemos estar submetidos a lógicas em que não temos a capacidade de decidir sobre as nossas vidas. A soberania e o bem comum são elementos centrais para uma estratégia para Portugal. Mas o princípio e o fim da nossa estratégia é o conhecimento. Se queremos dizer uma palavra só, é conhecimento.

Olhemos para a actualidade. Há vários ministérios especialmente expostos. Finanças, Justiça, Educação. O que é que correu pior nestes anos?
O problema principal desta governação é a ideologia da austeridade, a maneira como ela foi concretizada e nos trouxe onde nos trouxe. Há uma diferença entre austeridade como necessidade e a austeridade como política. Uma coisa é dizer: "Temos que poupar mais, não vamos ter esta sociedade de consumo em que todos os anos vamos mudar de carro e de tablets…" Outra é a austeridade como ideologia de empobrecimento, de desqualificação, de dependência, da especulação financeira. Os portugueses confundiram estas duas coisas. O Governo teve uma grande capacidade de propaganda na mistura destas duas coisas. As consequências já se começam a notar no trabalho, no desemprego, no desperdício da geração jovem. Mas vão notar-se sobretudo nos próximos anos. E uma das coisas que se vai notar é a política educativa deste Governo.

O problema da colocação de professores causa imenso dano a milhares de meninos, famílias e docentes, mas não tem que ver com a coisa de fundo, que é uma política de Educação. Tem que ver com uma incompetência específica na gestão de um problema.
É isso mesmo. O problema é muito mais grave que esse. Nunca tivemos uma política educativa tão extremista e tão fundamentalista como tivemos desta vez. Desde a década de 60, talvez desde a década de 50, quando o Leite Pinto foi ministro da Educação Nacional, 1955, 61, nunca tínhamos tido uma marca ideológica tão fundamentalista e tão extremista como tivemos neste Governo. A política educativa do Nuno Crato é decalcada, vírgula a vírgula, ponto a ponto, da política educativa de George W. Bush, no princípio do século XXI. Vai ver os programas... Aliás, Nuno Crato nasce para a Educação, e começa a preocupar-se com as coisas da Educação, nesse período.

Não sou candidato a nada, não quero nada, não tenho nenhum interesse.
 
Mas estou disposto a participar. Seja em que lugar for [...]. Sinto uma certa responsabilidade geracional.


Uma linha para definir essa matriz: safam-se os melhores?
Claro. É a competição. O que interessa é a excelência. Nenhum de nós tem nada contra a excelência. O problema é que atrás da excelência está a discriminação, está: "Os melhores que se safem". Conversas nestes meios: os professores não servem para nada, porque os bons alunos não precisam de professores e aos maus alunos não há nada a fazer. É uma maneira de ridicularizar o trabalho dos professores...

A competição, a selecção, os exames… uma coisa são os exames, outra coisa é a obsessão dos exames. A selecção, o cortar as pernas, o afastar as pessoas, é empurrar precocemente para vias profissionais. Isso é uma linha clara desta política. A segunda linha é o famoso "back to basics". É o voltar ao famoso "ler, descrever e contar" do salazarismo. Quando Nuno Crato fala do Português e da Matemática, hoje, a metáfora é a mesma que levou à escola salazarista. Uma escola paupérrima, medíocre, minimalista.

Qual foi o resultado disto nos EUA?
Há um livro extraordinário, da senhora que foi a principal assessora de George Bush, Diane Ravitch, que depois de sair do Governo escreveu um livro a dizer: "Errei em tudo, estávamos errados em tudo". Isto conduziu a um desastre nos Estados Unidos da América e está a conduzir a um desastre cá. Como há esta descrença na Educação, estas pessoas estão disponíveis, do ponto de vista político, para aceitarem cortes na educação. O que vai transpirando – eu não tenho as informações que tem o Marques Mendes, do conselho de ministros –, é que o Nuno Crato nunca levantou a voz em relação aos cortes que houve na área da Educação.

Para o próximo ano, o corte anunciado é de 700 milhões.
A Educação foi de longe o sector onde houve mais cortes orçamentais ao longo destes últimos três anos. Houve cortes muito superiores aos que estavam propostos no memorando da troika. Alegremente. Estamos a recuar, em termos de percentagem do PIB dedicado à Educação, a valores da década de 80, quando a escolaridade obrigatória ainda era de quatro anos, quando havia muito menos pessoas no sistema. O retrocesso não se nota de imediato, não é amanhã. Estamos a criar um atraso e um desastre – é a palavra certa – que vai ter consequências graves no futuro.

É isso que mais vai ficar deste Governo? Duradouramente e visto retrospectivamente.
É o que vai ficar mais forte. Com todas as dificuldades noutros sectores, no sector da Saúde, tem sido possível preservar certas coisas no Serviço Nacional de Saúde. Vamos ter que tentar reconstruir um consenso na sociedade portuguesa em torno da Educação, para voltar a níveis aceitáveis de investimento e a uma escola pública que não tenha esta matriz.

Admito - e não me ouviria dizer isto há três anos - que tenhamos que ir para a nacionalização de parte dos sistemas bancários.
 
Em Portugal, na Europa e no mundo. O nível de selvajaria chegou a tal ponto que temos que reconquistar algum controlo sobre as nossas vidas.


E a sua carreira política, no meio disto tudo?
Não tenho carreira política. Essa é a resposta mais fácil.

Já se falou muito de si, sobretudo na sequência do discurso do 10 de Junho, como eventual candidato à Presidência da República. Desde aí o seu nome aparece sempre como um ministeriável, presidenciável, como um político executivo. No último ano esteve no Brasil. A política executiva é uma coisa que está no seu horizonte?
Tenho 59 anos, fiz a minha vida na universidade. Em todos os lugares que ocupei, nunca quis ocupar lugares. Se tenho algum projecto de vida, todos os meus amigos o sabem, é poder estar em lugares como este [cafetaria do Museu de São Roque], a ler e a escrever até ao fim dos dias. Mas é verdade que sinto uma certa responsabilidade geracional. Sinto que quando chegamos a um determinado momento das nossas vidas, e se pudermos ajudar em certas coisas, temos a obrigação de o fazer. Sempre que seja para uma lógica de mudança, e para uma lógica que vá no sentido daquelas coisas que procurei aqui defender, estarei disponível. Disse uma vez: "Não quero nada, mas estou disposto a dar tudo".

Significa, em sentido rigoroso, que não é candidato a nada?
Não sou candidato a nada, não quero nada, não tenho nenhum interesse. Mas estou disposto a participar. Seja em que lugar for. Não me interessa se é em primeiro lugar ou em último lugar. As primeiras vezes em que falei publicamente, falei a partir de um direito individual. Depois de dizer a palavra, percebi que isso me criava uma responsabilidade, que eu não tinha percebido. De repente, quando a pessoa fala, adquire um compromisso.
Não me omitirei, não me demitirei, não me resignarei. Estarei presente na medida em que isso possa contribuir para um "rassemblement", para essa capacidade de juntar um conjunto de energias de mudança, que existem na sociedade portuguesa, mas que estão adormecidas ou resignadas.

Vai voltar para o Brasil.
Estou em transição.

Brasília é a base?
Brasília é a minha cidade. Ando de bicicleta o tempo todo. Vou para o ministério, para a universidade, para todo o lado de bicicleta."


aqui.

(d)a teia de interesses instalados... o caos é previsível...?


aguarela... na praia... de paula rego...!


no expresso revista...

o boneco do dia...


no cm...

enfim... a má [relativamente?] notícia do dia...!


no expresso 'online'...

uma das imagens do dia...


agora mesmo, no sapo...

coisas da educação... uma óptima notícia...!


no público...

das teias que a burocracia tece...?


informações [educação]... ensino secundário, alunos e ciências, concurso e museus... no boletim do cirep...!

Informações Gerais

A UBI vai criar uma academia de ciências para estudantes do ensino secundário
A Universidade da Beira Interior vai criar uma academia de ciências para estudantes do ensino secundário. O anúncio foi feito pelo reitor da instituição na cerimónia de abertura do ano académico.

Será feita uma parceria com as escolas secundárias da Cova da Beira que se prende com a necessidade de continuar a cativar alunos, principalmente para os cursos que têm menos procura, os que têm como base as engenharias e as ciências.


IPS Junior Challenge - Concurso de Ideias para Ensino Secundário

O Instituto Politécnico de Setúbal apresenta a quarta edição do IPS Junior Challenge, um concurso anual que procura desafiar o espírito empreendedor dos jovens, em particular dos estudantes do ensino secundário e profissional de todo o país.

No âmbito do Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação “Horizonte 2020”, o “IPS Junior Challenge 2015” tem como objetivo a seleção de ideias inovadoras, originais e criativas, que apresentem potencial para a criação de novos projetos que contribuam para o envelhecimento ativo da população, promovendo a inclusão dos idosos na sociedade e a importância do seu contributo para o desenvolvimento económico e social.
Aos grupos participantes é ainda oferecida a oportunidade de participarem no workshop "Do Sonho à Inovação", que este ano será realizado nas diferentes escolas do país.


Museu das Crianças
O museu das Crianças é um lugar de aprendizagem

Onde há vida!
Onde se fazem perguntas;
Onde se aprende como é por dentro e por fora;
Onde se experimenta para ver o efeito e aprender;
Onde respeitar não impede a brincadeira;
Onde se descobrem e estimulam os valores humanos.

Além da exposição patente, «Vermelho… Uma viagem através da cor», exposição interativa inspirada na cor vermelha, focando especialmente as emoções e os sentimentos que podemos viver no mundo que nos rodeia, o Museu das Crianças oferece ainda um conjunto muito variado de outras atividades que visam o desenvolvimento da curiosidade, da imaginação e da criatividade das crianças, através de uma grande variedade de propostas.


nota: estas informações são uma transcrição directa do boletim, logo respeitam o ao... infelizmente...!

ah... hoje é dia mundial da 'poupança' (*)...?


no destak...


(*)... à custa do esforço alheio, naturalmente.

informações [educação]... grupo 550... via dgae...!


necessariamente... sem comentários...!


no público...

o roteiro da actualidade [capas e destaques]... via jornais do dia...!



Capa do Correio da Manhã Correio da Manhã

Bolsa de Tóquio sobe mais de 5%
Hong Kong: Manifestantes planeiam viajar até Pequim
Macau exportou mais 8% até setembro, mas défice aumentou na balança comercial
PR de Timor-Leste lamenta morte de homólogo da Zâmbia
China muda tipo de combustíveis em 2015 para reduzir poluição atmosférica
Pyongyang avisa UE das "consequências" de levar o país ao Tribunal Penal Internacional
Filhos de passageiro de MH370 processam Malaysia Airlines

Capa do Público Público

Má sorte ter sido jihadista
Incompetência ou terroristas informáticos?
Raymond Gary e a permanente tragédia do Ocidente
Antes as bruxas
A ecologia literária
As metamorfoses do poder
O Maio português de Patxi

Capa do Diário de Notícias Diário de Notícias

Fazer exames poderá ser mais difícil por causa de greve
Universidades portuguesas vão a Angola procurar mais alunos
Novos horários para bares de Lisboa em consulta pública
Turistas estrangeiros já preferem Lisboa ao Algarve para as férias
De restaurante mítico a casa dos gigantes do surf em Carcavelos
Boas todos os dias
Para Passos pôr e repor é um supor

Capa do Jornal de Notícias Jornal de Notícias

Greve de técnicos de diagnóstico pode dificultar exames e análises
Presidente do Burkina Faso não se demite
Suspeito de sabotagem no Citius passa de segurança a especialista da PJ em dois anos
Padre de 91 anos atropela mulher na passadeira
Kelli Garner é a nova Marilyn Monroe
Metade dos mortos de Lisboa e Porto já são cremados
Militares do Burkina Faso anunciam recolher obrigatório

Capa do i i

Capa do Diário Económico Diário Económico

A sequela vem já a seguir
Principais economias devem ajudar zona euro
Taxas e taxinhas
Não culpem a imprensa!
A lição de Carmona
Da infância em Beja até à Comissão Europeia
Directores de supervisão trocam Banco de Portugal pela PwC

Capa do Jornal Negócios Jornal Negócios

Maria Luís Albuquerque: Pior que pode acontecer a Portugal é precisar de outro resgate e não o ter
Negócios vence prémio de melhor publicação de informação económica
Doze dicas para cortar custos na sua empresa
Afinal, a poupança não cresceu tanto como se pensava
Poupanças de longo prazo pagam menos IRS
"A poupança está no somatório dos cêntimos"
O pouco que ainda pode poupar no IRS

Capa do Oje Oje

“Existe espaço para um maior crescimento do comércio entre Portugal e Brasil”
Montepio passa de prejuízo a lucro até setembro
Mexia já esperava manutenção da sobretaxa energética
Greve dos tripulantes da TAP deixa 145 voos em terra
Voluntariado, uma questão de cidadania
Vêm aí os russos
Inteligência Competitiva

Capa do Destak Destak

Bolsa de Tóquio sobe mais de 5%
Manifestantes planeiam viajar até Pequim
Macau exportou mais 8% até setembro, mas défice aumentou na balança comercial
PR de Timor-Leste lamenta morte de homólogo da Zâmbia
China muda tipo de combustíveis em 2015 para reduzir poluição atmosférica
Pyongyang avisa UE das "consequências" de levar o país ao Tribunal Penal Internacional
Filhos de passageiro de MH370 processam Malaysia Airlines