quarta-feira, 22 de abril de 2015

a actualidade do dia-a-dia, numa visão pessoal do jornalista...!

Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Luísa Meireles
Hoje por Luísa Meireles
Redatora Principal
 
22 de Abril de 2015
 


Perdoem-me, mas o tema principal não é futebol! 

Até porque não sou sádica. Mas comecemos já por ele, para matar o assunto. Sim, porque o Porto, esse, morreu-nos ontem em direto, em Munique: 6 - 1 não é um resultado, é um filme de terror, um massacre humilhante, um desastre colossal como o do Mundial, há quase um ano. Depois da semana passada, todas as esperanças portistas, portuenses e portuguesas em geral eram permitidas, mas o jogo Bayern-Porto no campo alemão arrasou-as de vez. A Mariana Cabral, que percebe que se farta de futebol, já tinha explicado como estatisticamente era quase impossível o Porto repetir a façanha, agora, ficou provado que é mesmo assim, tal como o Pedro Candeias pôs preto no branco ainda ontem à noite, e de modo muito sucinto. O jogo desesperou meio Portugal perante os écrans de televisão e quanto aos pormenores, ouviram-se na Grande Área, no programa da Liga dos Campeões, no Especial Desporto no..., tire-se à escolha. Ontem à noite houve muita gente a falar de futebol mas eu, confesso, não ouvi ninguém. Com semelhante resultado não há explicação que valha. Nem pachorra!

Eu avisei. O meu negócio é outro. É a vida próxima futura - aquela que vai ser decidida dentro de meio ano, nas eleições legislativas e que nos vai afetar a todos. É um chavão? Pois é, mas eu compro. Acontece que independentemente do que se pense dela, há finalmente uma alternativa em cima da mesa - e a apresentação do cenário macroeconómico do PS, com propostas concretas para o país, é o começo disso mesmo. Não é uma Bíblia nem foi feito por apóstolos, disse António Costa, mas é a partir dali que o PS vai fazer o seu programa e teremos o necessário confronto eleitoral. A bem dizer, a campanha eleitoral começou ontem e já dá para comparar. Porque depois disto, como hoje já se verá no debate agendado para logo à tarde no Parlamento sobre o Programa de Estabilidade mais o Programa Nacional de Reformas​ (o plano que o Governo tem de apresentar em Bruxelas para ver ratificadas as escolhas posteriores no Orçamento), o tema vão ser as propostas do PS e que a direita já está a dramatizar, qual sete pragas do Egipto, isto para continuar na linguagem bíblica.

Pois bem, vamos a isso. O PS promete a terra do leite e mel? Depois de quatro anos do discurso do rigor e da austeridade, os portugueses estão céticos. Sobem os salários, descem os impostos, aumentam os apoios. É o choque da procura, do consumo, garante. Mas como é que o PS vai pagar as propostas? A pergunta é de vários milhões de euros, a resposta é do João Silvestre. A responsabilidade, claro, é do António Costa, que aposta as fichas todas no crescimento, no verso cujo reverso são as propostas do Governo. Deus o ouça mas, francamente, isto não é uma questão de fé, por mais fé que se tenha na competência técnica de Mário Centeno.

E politicamente, como se pode ver isto? Opiniões há muitas, como sempre. Cá em casa, escolha: a do Ricardo Costa , ou do Pedro Santos Guerreiro, ou do Henrique Monteiro, ou do Bernardo Ferrão. Mas convém e deve diversificar. Se quiser mudar de agulha dê um mergulho no Observador e leia o José Manuel Fernandes, que acha que o Rossio não cabe na Rua da Betesga, sábio adágio popular, o Tiago Freire, ou o Bruno Faria Lopes no Económico (estes só para aguçar o apetite, porque é para assinantes), ou o Virgílio Macedo, no Público. O tema ocupa e justamente, várias páginas dos jornais de hoje. Mas continuamos sem saber o que pensam os partidos de esquerda.

OUTRAS NOTÍCIAS
Também há. Para já, se anda de transportes, previna-se que hoje é dia de greve na Carris, a que se junta uma manifestaç ão dos trabalhadores dos transportes. É capaz de ter a vida complicada. E por falar em greves, só nos faltava mesmo saber que o sindicato dos pilotos admite processar a TAP por gestão ruinosa - há quem não se enxergue. Depois, uma pessoa não pára de se surpreender com a capacidade de inventiva humana, como o atesta a prova do leite que alguns hospitais do norte estão a exigir - já não era sem tempo que a Ordem se mexesse . E porque vivemos muitas vezes suspensos das decisões (e chumbos) do Tribunal Constitucional, como é possível que o feitiço se tenha virado contra o feiticeiro e, afinal, o próprio TC tenha chumbado no Tribunal de Contas, com carros a mais, abonos em excesso e ajudas indevidas?

Também ficamos a saber hoje pelo Diário de Notícias que o antigo ministro e atual deputado Miguel Macedo quer por tudo em pratos limpos e pediu o levantamento da imunidade parlamentar para esclarecer todas as dúvidas sobre a sua eventual implicação na investigação dos vistos gold, razão aliás que o levou a demitir-se por sentir a sua autoridade política diminuída. O assunto, mas na vertente "Os suspeitos violaram os seus próprios planos anticorrupção" faz a manchete do I.

Mas o mundo não somos só nós. Há mais vida... e morte para além de nós. E há mortos, muitos mortos, de gente sobre a qual nunca se saberá quem é. A morte dos 900 náufragos foi há três dias, mas é amanhã que a União Europeia vai debater o assunto em conselho especial. Estou para ver, nesta Europa cuja solidariedade é posta à prova a cada dia e fracassa tantas vezes. Plano já há. Mas não foi o Reino Unido que disse que não estava pronto para participar em resgates no Mediterrâneo? Pode ser que dada a dimensão da tragédia tenha mudado de opinião. É a barbárie em nome da Europa, como escreve a revista alemã Der Spiegel, a que as divergências dos Estados europeus não conseguem pôr termo, realça o El Pais.

A Europa tem o drama das migrações, mas era bom que parasse para pensar no que está a acontecer a leste. Não é seguramente com esta linguagem​ que lá vamos. Mas acontece que este ano celebra-se o 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e vai haver os inevitáveis festejos. Mas que me lembre será uma estreia absoluta o que acontecerá em Moscovo, na célebre parada da Praça Vermelha: o convidado especial será o Presidente chinês Xi Jinping. Estranhos tempos estes em que chineses e russos confraternizam no Kremlin comemorando o fim da Segunda Guerra - são os efeitos daquela outra, que cresce à nossa porta, de modo larvar, na Ucrânia. 

E ainda a glosar o mote "o mundo mudou", então não é os Estados Unidos estenderam o tapete vermelho a Marine Le Pen? O Fígaro conta e nós espantamo-nos. Ainda em França, o testamento político de Charb, o diretor assassinado do Charlie Hebdo vai ser publicado - tinha acabado de por ponto final no seu último livro. Do outro lado do Atlântico, no Brasil, e já que tivemos a visita do vice-presidente Michel Temer, recordamos que por lá, os escândalos não páram. E aqui ao lado, em Espanha, ficamos a saber que Felipe Gonzalez é agora persona non grata na Venezuela. A razão é fácil de perceber: o ex-primeiro-ministro juntou-se à equipa de defensores dos opositores do regime.

FRASES
"O que este estudo revela é que há alternativa às políticas que têm sido seguidas e que é possível virar as páginas das políticas de austeridade". António Costa, ao apresentar o cenário macroeconómico do PS

"Se o caminho miraculoso que o PS descobriu tivesse pés para andar, não havia nos países da Europa comunitária a tendência que tem vindo a ser seguida do ponto de vista da consolidação orçamental e da sustentabilidade". Matos Correia, deputado do PSD, comentando o cenário do PS

"PS: o problema do socialismo não é a gaveta, é o caixão". Ana Sá Lopes, ainda sobre o mesmo cenário

O QUE EU ANDO A LER E A VER
Sempre vários, ao mesmo tempo e ao sabor da vontade, da necessidade e, claro, da disposição, que é o que conta mais. Desta feita ressalto três. O que mais me tem divertido é um pequeno mimo, neste tempo de celebrações da Constituinte. Só o título é todo um tratado em política: "Do pântano só se sai a nado" (Gradiva). É de Joaquim Silva Pinto, que foi secretário de Estado e ministro de Caetano, apanhou o 25 de Abril em funções, exilou-se em Espanha, regressou, militou e deixou de militar no PS e agora conta umas histórias deliciosas sobre o antes e o depois desse "dia inicial e primeiro", e sempre com um exercício dialético: uma pergunta de difícil resposta. Também vou lendo "Ambição" (Guerra e Paz), o romance de estreia da jornalista e minha amiga Maria de Lurdes Feio. Ela já escreveu outras coisas, mas desta vez aventurou-se na complexa arte do romance, coisa difícil, em torno das lides de um governo (?) por dentro, nos gabinetes, nos negócios e na cama. E finalmente, a versão original da House of Cards, de Michael Dobbs (Jacarandá). A série americana é boa, mas excessiva, como muitas vezes fazem os americanos. Os ingleses são sóbrios e está lá tudo, sem os exageros de Hollywood. E quando me canso, vou à 2 - sim, à RTP 2. As séries são ótimas. Agarrei-me à Borgen, segui para Os Influentes e agora estou na Um Crime, Um Castigo, sobre os meandros do direito e da Justiça, do público e do privado, em terras de França.

E para já é tudo, que ainda muita coisa vai acontecer hoje!

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