sexta-feira, 24 de julho de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Ricardo Costa
Por Ricardo Costa
Diretor
 
24 de Julho de 2015
 

A maioria absoluta é de quem a apanhar 


Há alguma coisa que faz Passos Coelho igual a António Costa? Sim, são candidatos a primeiro-ministro e sim, passam as semanas a dar entrevistas a televisões e falar um pouco sobre o que (nos) calha. Mas no resto, digamos que cada um rema para seu lado. Exceto num ponto que é cada vez mais relevante para a campanha eleitoral: a exigência, ou para ser mais correto, o pedido de uma maioria absoluta. Foi exatamente essa a marca principal da entrevista que o primeiro-ministro deu ontem à TVI, no estilo "o país pergunta" - um modelo muito menos assertivo e adversativo, mas que permite aos candidatos terem um ar mais moderno, dar uns passos pela pista e, em suma, serem como nós todos.

Além da semiótica cenográfica, o que fica? Uma boa conversa, um primeiro-ministro bem preparado, meia dúzia de frases chave (tipo, o IVA não vai descer, não estou a pensar cortar as pensões, o programa eleitoral está quase a sair do forno, etc) e uma ideia muito forte: a de que os programas da maioria e do PS são inconciliáveis e, portanto, precisam de uma maioria absoluta. Ou seja, Passos chega mesmo ao ponto de dizer que prefere uma maioria absoluta do PS, do que uma situação de impasse. O PS nunca disse esta frase de forma tão clara, mas anda lá perto.

Ou seja, já vimos o que nos espera o Verão. Passos pede a maioria absoluta de manhã, Costa exige a maioria absoluta à tarde e depois, à noite, todos os comentadores vão explicar (aos eleitores e aos candidatos, que, pelos vistos, precisam) que ninguém vai ter maioria absoluta. Claro que os dois principais candidatos sabem isso de ginjeira e o Presidente da República não sabe outra coisa. Daí o seu discurso de terça a noite, a prepará-los para longas negociações pós-eleitorais. Mas a campanha é isso mesmo, um longo sonho numa noite de verão. Dia 4 de outubro acordam todos e lá terão que se amanhar. Porque a maioria absoluta só é de quem a apanhar. E não cai do céu aos trambolhões.


OUTRAS NOTÍCIAS
Por falar em campanha, hoje a maioria governamental vai ter um dia em cheio. Com os dados da execução orçamental (às 17h), já se vai saber com mais propriedade qanto é que pode valer a devolução da sobretaxa de IRS. Ou seja, o governo prometeu no Orçamento de Estado que, caso as receitas de IRS e de IVA excedessem o previsto, devolviam esse excedente no próximo ano aos contribuintes.

E estamos a falar do quê? Meio ponto, um ponto, ponto e meio? O meu colega João Silvestre, que sabe fazer contas - como vimos na semana passada com as estísticas do desemprego, para desespero do governo que gosta de brincar às estatísticas - já escreveu no Expresso que a devolução pode mesmo ser total. Uma bela ajuda à campanha de 2015 e aos nossso bolsos em 2016.

Com uma mão no bolso e outra na consciência, deve andar a administração do Montepio. É que o Público anuncia hoje que o Banco de Portugal detetou falhas nos mecanismos de controlo de operações suspeitas de crimes de branqueamento de capitais com origem em... Angola. Olha que surpresa. E já fez queixa à Procuradoria.

E, já agora, aqui que ninguém nos ouve, qual é o nome qual é ele, que por acaso está em Angola, gosta de dar prendas chorudas a banqueiros, conseguiu escapar a uma Comisão de Inquérito por viver no estrangeiro mas corta o cabelo na Amadora e aparece nesta história do Montepio? Isso mesmo, José Guilherme. Portugal é demasiado previsível.

Ainda na banca, o Jornal de Notícias garante que os funcionários do Novo Banco estão em pânico com a chegada dos emigrantes para as habituais férias e que têm muitas reclamações a ajustar.

A operação Lava Jato (confesso que tenho um fraco por este nome) continua a fazer manchetes. Agora é o Correio da Manhã, que diz que a justiça Brasileira está a investigar tudo o que a Odebrecht e a Bento Pedroso ganharam em Portugal nos anos do governo Sócrates.

Muito curiosa é a manchete do Diário de Notícias, que garante nos centros de saúde de Lisboa os médicos e enfermeiros deixaram de poder fazer chamadas telefónicas, seja para o que fôr. Não sei de quem foi a decisão, mas aconselho o génio a consultar os tarifários das operadoras e a perceber o que são coisas com VOIP, Viber, Skype, Whatsapp, entre outras. Sim, os telefones estão para as telecomunicações como a penicilina para um centro de saúde.

Paulo Portas está em Angola em mais uma viagem como empresários portugueses e defende que a crise angolana, moticada por uma excessiva dependência do petróleo, que tem visto o preço a cair de forma brutal, é passageira. "Acreditamos na diversificação da economia angolana", garante o vice primeiro-ministro e parece que não fez figas.

Lá fora, Juncker continua a falar sobre o que (lhe) aconteceu nas últimas semanas e a defender que, para ele, o Grexit nunca foi uma opção. Jura que sim. E nós acreditamos.

Coisa séria é a entrada da Turquia na luta contra o Estado Islâmico. Pela primeira vez os turcos bombardearam posições do Estado Islâmico e permitiram que forças da coligação internacional usem pelo menos uma base em território turco.

Só para acabar, na Venezuela já não há cerveja em sete províncias. E isto num dos dez países do mundo em que mais cerveja se bebe. Não sei se Nicolas Maduro alguma vez leu o jornalista mais louco do séc. XX, P.J. O'Rourke. Para ele a explicação da queda do comunismo era simples: "nenhum povo aguenta calçar sapatos romenos durante quarenta anos". Eu aposto que não beber cerveja deve ser pior que andar com sapatos made by Ceausescu.

E é tudo, que eu hoje atrasei-me e por isso é que há poucos links e demasiadas piadas. É um truque meu. Vamos então às frases e às leituras. É só seguir o ecrã por aí abaixo.


FRASES
"Estou disponível para o que António Costa quiser", Maria Elisa, ex-apresentadora de televisão e ex-deputada do PSD, ao i

"A minha opinião é que é excessiva esta prisão preventiva de Sócrates". Paulo Trigo Pereira ao Jornal de Negócios

"'Consenso’. Apesar de tão parecida e pronunciada de forma tão idêntica, não é 'com senso'. Por alguma razão será". Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias


O QUE EU ANDO A LER
Não sou um grande consumidor de literatura de viagens, mas quando estou de partida, acabo quase sempre por levar qualquer coisa do género na mala. Já aqui vos falei do maior dos vivos (Paul Theroux) e do mais genial dos recentes mortos (Bruce Chatwin). Pois bem, a 24 horas das minhas férias, partilho que levo comigo as "Viagens", de Paul Bowles, um dos viajantes e exilados mais interessantes do séc. XX, que fez de Tânger a sua terra durante 52 anos e da sua casa um albergue de excêntricos e génios, de Tenesse Williams, a Capote ou Vidal, passando por todos os expoentes da beat generation que conseguiram chegar vivos a Marrocos e sair de lá pelo próprio pé.

Para muitos, Bowles é "o deserto". O génio das letras e da música (compositor, musicólogo e etnólogo) que ficou famoso por um só livro – o brilhante "O céu que nos protege", que, já agora, não valia muito a pena ter sido adaptado ao cinema por Bertolucci, e muito menos levar aquele título português: “Um chá no deserto”.

Uma frase de Bowles que diz tudo:

"Porquê ir? A resposta é que quando um homem já lá esteve e sofreu o batismo da solidão não consegue evitá-lo"

Já agora, outra, sobre uma das cidades mais bonitas do mundo:

“Marraquexe é uma cidade de grandes distâncias, plana como uma tábua. Quando sopra o vento, o pó rosado das planícies estende-se para o céu, obscurecendo o Sol, e toda a cidade, pintada com uma demão de terra rosada sobre a qual assenta, reluz em vermelho sobre a luz cataclísmica”

Quem já teve em Marraquexe, sabe o que isto quer dizer. Quem um dia lá for, perceberá. Até lá, percorram o país e o mundo no Expresso Online, que nós estamos aqui para isso. Ao fim da tarde, trazemos um Expresso Diário, com novidades fortes, contas bem feitas, informação organizada e opinião muito variada (para os políticos poderem dizer "é pá, eu não percebo os gajos do Expresso…").

E é isso que nos diverte, mesmo verão adentro. Eu vou de férias quinze dias, mas fica cá gente mais que suficiente para virar o mundo do avesso e contar-vos tudo, 24 horas por dia.

E pronto, como diria o Gaugin, vou para os mares do Sul. Bom dia
 

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