segunda-feira, 12 de outubro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Pedro Candeias
Por Pedro Candeias
Coordenador
 
12 de Outubro de 2015
 

António Costa, entre o bluff com o centro e o all in à esquerda 


Bom dia,

Entrámos na fase do jogo político e manda a etiqueta e a norma que puxemos para o tabuleiro os peões, os bispos, os cavalos, o rei e a rainha, as torres e os cavalos; e que falemos de xadrez. É tático e estratégico. É um contra o outro e as regras são iguais para toda a gente, porque o bispo andará sempre na diagonal e o peão mexer-se-á casa a casa. E ambos têm as mesmas hipóteses de ganhar. Obviamente, o xadrez não é política. Mas o póquer, é. Porque depende das cartas que cada um recebe e das que troca, ou da capacidade de fingir que se tem o que não se tem, e de convencer o outro que o que ele tem, não chega.

Esta é a arte do bluff sobre a qual Teresa de Sousa e Manuel Carvalho escreveram no Público sobre António Costa, que se reuniu com o PCP na semana passada e deixou no ar um entendimento inédito entre partidos muito mais distantes entre eles do que a cor de ambos faria supor. Seria o mundo de pernas para o ar e não se vê ninguém a fazer o pino. Mas (há sempre um 'mas') ainda há trunfos a pôr na mesa, para ganhar tempo, pressionar a direita a negociar os termos... noutros termos; ou, então, reescrever a história dos partidos.

Vamos ao dia de hoje, que António Costa está on tour e tem a agenda cheia: encontra-se com o BE no nº 268 da Rua da Palma, às 11h; segue para a sede do PAN, no nº 81 da Av. Almirante Reis, às 14h30; e termina o dia no Palácio de Belém, com Cavaco, às 16h. O Google Maps recomenda este trajeto, a pé ou de carro.

Sobre o encontro entre socialistas e bloquistas: 
o Público escreve que "os socialistas querem um acordo escrito que viabilize a governação e não apenas o programa" e que "o BE vai levar dezenas de iniciativas legislativas calendarizadas"; 
o Diário de Notícias garante que o "PS está dividido" e que irá referendar os militantes sobre a aliança à esquerda, e que o BE de Marisa, Mariana e Catarina não cede na sua posição; 
o Jornal i titula que o Bloco está "fora do governo do PS mas quer viabilizar o orçamento socialista". À hora de almoço, mais coisa, menos coisa, mais para a esquerda, mais para o meio, logo veremos. 

Mas isto não acaba aqui, porque amanhã há novo rendezvous marcado: António Costa, Passos Coelho e Paulo Portas voltam a falar, e o líder do PSD já prometeu que ia ser um bocadinho mais atrevido*, seja lá o que isso for. E, só depois dessa reunião PSD/CDS e PS, podemos começar a perceber se isto é taticismo ou se há a tal mudança de paradigma é real. Se há bluff com o centro, ou all in à esquerda. Ou então recolhe-se o baralho e volta-se a dar cartas. Outra vez.

Do jogo de póquer de António Costa, vamos para a partidinha de King de Marcelo Rebelo de Sousa. O rei-do-comentário-político-que-é-candidato-a-presidente despediu-se da TVI (o contrato fica suspenso) numa emissão em que a Jornal das Oito se transformou no chá das cinco fora de horas. Marcelo recordou histórias e historietas com José Alberto Carvalho, Judite Sousa, José Carlos Castro, Ana Sofia Vinhas, Júlio Magalhães, Sérgio Figueiredo e João Maia Abreu (veja as fotos da festarola, aqui] para Portugal ver.

Esta é a pré-pré-campanha de Marcelo, que disse ter-se decidido avançar a Belém "há pouco tempo" e que iria ter saudades daquela estação. Perde a TVI, claro, mas perde também o Expresso Curto, que tinha um lugarzinho reservado, por defeito, para uma citação do Professor na rubrica das Frases de segunda-feira. Como hoje.

* Nota mental: insolente e arrogante são as primeiras palavras que o Priberam nos dá quando buscamos o significado de atrevido


OUTRAS NOTÍCIAS
Na Turquia, ainda se fazem as piores das contas: as dos mortos (128) e dos feridos (250), vítimas do ataque terrorista de sábado durante uma manifestação pacífica pró-curda. O José Pedro Tavares, correspondente do Expresso, conta-nos que lá se fala num 11 de setembro turco, que o presidente Erdogan está mudo e calado enquanto se pede a sua demissão em Ancara e em Istambul; e que as suspeitas recaem no suspeito do costume: o auto-denominado Estado Islâmico. A Internet explica: vários sites jiadistas festejaram o suicídio dos dois bombistas, porque com eles morreram "ateus." O Guardian noticia que, apesar do atentando e da ameaça à segurança, as eleições vão mesmo para a frente.

Nesta lógica estúpida da guerra de matar ou ser morto, o Iraque anunciou que alguns dos cabecilhas do Daesh perderam a vida num ataque junto à fronteira daquele país com a Síria. A força aérea iraquiana bombardeou o comboio onde viajava o líder Abu Bakr al-Baghdadi, que seguia a caminho de um encontro com elementos terroristas em Karabla. Al-Baghdadi terá escapado, disseram os hospitais locais à Reuters.

Ainda no lugar que já foi de Saddam Hussein, os iraquianos estão a descobrir um herói em Putin. Escreve o NYT que os xiitas aplaudem o dedo de ferro (veja o vídeo, que entenderá melhor) do presidente russo, que ataca os radicais islâmicos pelo ar, cruzando o espaço aéreo iraquiano com os seus aviões. Chamam-lhe Sheique Putin.

Curtas de desporto:
Portugal ganhou à Sérvia (2-1), a sétima vitória consecutiva da seleção no apuramento para o Euro-2016. A Mariana Cabral viu o jogo e escreve sobre o mais do mesmo com Fernando Santos. Nota artística? Zero. Eficácia? 10. Veja aqui quem já está qualificado para o campeonato da Europa, e finja não estar surpreendido de lá encontrar a Islândia, o País de Gales, a Irlanda do Norte, a Áustria ou a Albânia. 
Da redondinha para as quatro rodas. Lewis Hamilton venceu o Grande Prémio da Rússia, teve direito a um abraço de Putin e pôs uma mãozinha no título de campeão do Mundo de Fórmula 1. 
Das quatro para as duas rodas. Miguel Oliveira foi segundo classificado no Japão na categoria Moto 3 do Mundial de Motociclismo. O português está em terceiro lugar do campeonato e para o ano subirá à Moto 2. 


FRASES
"Na TVI, Marcelo apresenta a sua comissão de apoio. Não me lembro de, na vida política portuguesa e no jornalismo, ter visto uma coisa assim. O estado da comunicação social portuguesa começa a merecer um debate sério" Daniel Oliveira, sobre a emissão "pouco ortodoxa" (palavras de José Alberto Carvalho) da TVI, na sua página no Facebook.

"Era a prenda que eu queria para os meus anos. Foi bem conseguida. No outro dia partilhei-a com as mulheres e hoje gostava de a partilhar com o meu pai e com o meu filho. O meu pai está muito feliz hoje, seguramente". Fernando Santos, o engenheiro do hepta (sete vitórias consecutivas), após a vitória contra a Sérvia

"Disse a Costa: na política 30% são derrotas, 30% são vitórias e o resto são traições. Aguenta-te e vai em frente!" Helena 'cuidado-o-que-os-40%-andam aí' Roseta, em entrevista ao i

"Costa Pinheiro não tem apenas a memória de uma antiga cultura mediterrânica, atlântica e pacífica, com a revelação das suas cruzadas, mas tem, também, a consciência de que tudo o que, fora do seu universo poético, de opressivo se passa no presente: a exploração, a conquista, a repressão." O artista plástico alemão Jürgen Claus sobre Costa Pinheiro, ontem falecido, no ensaio "António Costa Pinheiro: o Eu poético no espaço das imagens"


O QUE ANDO A LER
Porque estou com o Purity de Jonathan Franzen nos braços, e porque não quero repetir o que o Ricardo Costa e o Martim Silva já escreveram sobre este livro aqui (e, muito menos, arvorar-me no José Mário Silva, que lhe fez a crítica na Revista E), convido-vos a entrar num trabalho do NY Times. Dou-vos quatro palavras-chave: dinheiro, republicanos, democratas, campanha.

Este artigo especifica, tintim por tintim, quem financia os partidos. E, hélas!, são milionários. Há famílias inteiras que vivem no mesmo quarteirão (os Hildebrand, os Nau, os Sarofim, os Flores, os McNair, etc) e doam aos quartos de milhão, ao milhão e aos dois milhões de dólares. São 152 apelidos que, juntos, juntaram 176 milhões de dólares apenas na fase inicial das campanhas - uma espécie de empurrãozinho milionário. [O NYT também descobriu que os realizadores de Hollywood como Spielberg ou J.J. Abrams também dão o seu quinhão]. E há um padrão: o mecenas é branco, homem, já não é novo e é obviamente rico.

Por hoje é tudo. Não se esqueça de ir passando os olhos pelo expresso.pt, às 18h faça uma leitura ao Expresso Diário - a secção de política será a mosca nas salas de reuniões do PS. E amanhã acorde pela fresca com um café servido pela Cristina Peres.

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