terça-feira, 13 de outubro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Cristina Peres
Por Cristina Peres
Jornalista de Internacional
 
13 de Outubro de 2015
 


É melhor estar preparado para tudo! 


O que parecia impossível deixou de o ser - pelo menos teoricamente - e, por enquanto, nenhum cenário está posto de parte. O derrotado das eleições foi o Partido Socialista, mas ninguém pode por enquanto descartar um governo de esquerda. O Partido Social Democrata e o Partido Popular apresentaram ontem um “documento facilitador de um compromisso” ao Largo do Rato em que, como explica Ângela Silva, se aproximam de 20 medidas do programa do PS…

Fonte da coligação garante ao Expresso que “há disposição real para negociar” os pilares definidos por António Costa como prioritários: fim da austeridade, proteção do Estado Social, investimento em ciência e educação e uma nova política europeia. Entre as propostas socialistas que estão a ser analisadas para serem levadas esta terça-feira ao encontro com António Costa está a antecipação em dois anos da devolução da sobretaxa do IRS e dos salários aos funcionários públicos.

O PS já constituiu as equipas técnicas que vão negociar hoje com o Partido Comunista Português e amanhã com o Bloco de Esquerda, explica o DN. Catarina Martins declarou ontem o fim da coligação que governou Portugal nos últimos quatro anos e os bloquistas garantem haver “condições de consenso básico” para um governo socialista. António Costa afirma querer um Executivo “estável que corresponda à vontade popular”. Se quiser perceber como é que, de repente, as esquerdas parecem tão próximas leia o que escreveram a Cristina Figueiredo e o Paulo Paixão. Segundo o Público, a direcção socialista deu conta que o “documento facilitador” não incluía “informações detalhadas sobre a actualização do cenário económico” que António Costa solicitara a Passos Coelho. Já a manchete do Correio da Manhã diz que o “medo de Catarina” assusta a bolsa e faz cair a pique as ações.

Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia deixa um alerta ao PS em entrevista ao Diário Económico: um Governo com PCP e BE, ambos partidos anti-europeus e anti-Tratado Orçamental “seria muito negativo” para a confiança em Portugal e, apesar de o país já ter saído da crise, “nada é irreversível”. E deixa claro: “Os eleitores socialistas não votaram no PS para um Governo com PCP e BE. Toda a gente sabe que não foi esse o sentido de voto dos eleitores socialistas”.

Henrique Monteiro é da opinião de que o que António Costa anda a fazer é fingir que não perdeu as eleições enquanto tentar aliar-se aqui e ali, para decidir quem governa.

Já Nicolau Santos escreve, também no Expresso Diário, que foi o líder do PS quem meteu pés ao caminho e se lançou numa ronda de negociações com os outros partidos que deveria ter cabido a Pedro Passos Coelho fazer. E pergunta: António Costa é que foi encarregado de formar Governo?

Com o resultado das eleições legislativas ainda em plena explosão de dados novos e cenários variados e os votos da imigração só serão conhecidos na quarta-feira, as presidenciais de 2016 dão o seu contributo para a confusão. Semana ativa no “quem será quem” nas presidenciais!

António Sampaio da Nóvoa garante que o resultado das legislativas ainda legitimou mais a sua candidatura a Belém e aproveitou ontem para elogiar a maturidade dos partidos. O candidato independente garantiu mesmo que, sendo Presidente, daria posse a uma governo de esquerda, como pode ler no Público. Hoje é o dia em que Maria de Belém vai apresentar a sua candidatura a… Belém. Aguarda-se o seu programa. E o Bloco? Haverá uma candidatura no feminino? 


OUTRAS NOTÍCIAS
O Parlamento iraniano aprovou um projeto-lei de apoio ao Governo para a aplicação do acordo nuclear alcançado com seis potências mundiais. O plano de ação conjunto, que foi alcançado em 14 de julho, contava com a oposição dos conservadores iranianos.

O conflito na Síria, cuja explicação encontra aqui resumida num vídeo da BBC, conheceu novo apelo dos Estados Unidos para que a Rússia pare os bombardeamentos. Como poderá ler no site do Guardian, os ministros dos Negócios Estrangeiros apelam para que a segurança dos civis passe a prioridade máxima, o que implica a suspensão da intervenção russa no território. A responsável pela política externa da União Europeia, Federica Mogherini, sublinhou “alguns elementos muito preocupantes” na intervenção russa, chamando-lhe “game changer”.

Os Estados Unidos reforçam o apoio aos rebeldes, enviando 50 toneladas de munições para o terreno, descreve a CNN. Putin insiste que a intervenção da Rússia é um sucesso necessário cujo objetivo é “estabilizar autoridade legítima” do Presidente sírio Bashar al-Assad.

Outro assunto que também não sai das manchetes dos media internacionais é o atentado de Ancara de sábado passado. Bem dizia Ryszard Kapuscinski - na altura a propósito da revolução de 1978 no Irão - que os funerais são matéria incendiária. Muitos dos enlutados manifestam agora a sua revolta contra o Governo turco, que declara oficialmente 97 vítimas do atentado atribuindo-o ao autodenominado Estado Islâmico. Os organizadores da manifestação pacífica a favor do fim dos confrontos entre as forças de segurança turcas e as do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que foi atingida pelas duas explosões coordenadas, insistem que morreram128 pessoas. Tudo isto acontece na rampa de lançamento das legislativas de 1 de novembro, que Ancara se recusa a adiar e cujo objetivo é recuperar a maioria no Parlamento do partido governamental (AK, Partido Justiça e Desenvolvimento) perdida em junho. Leia aqui o que escreve o correspondente do Expresso na capital turca.

Pode parecer que a prioridade das aflições na política internacional tenha feito desaparecer o tema refugiados/migrantes, porém, não é verdade. A Organização Mundial das Migrações organizou uma base de dados chamada Missing Migrants Project que permite seguir os fluxos de migração de África e do Médio Oriente em direção à Europa, cobrindo os territórios onde eles se movimentam e procurando dar resposta ao momento (atualização diária) às tendências, aumentos e decréscimos de fluxos, incluindo respostas a dúvidas mais e menos fáceis de esclarecer.

Sabia que há refugiados sírios desesperados a regressar ao país tentando fugir à condição miserável que encontraram na Jordânia? Leia aqui o destino dos que não têm meios de fugir em direção à Europa baseado em dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). O alto comissário do ACNUR, António Guterres, ontem de visita a campos de refugiados em Lesbos, na Grécia, voltou a insistir que os refugiados sejam diretamente transferidos dos países de entrada para os de destino na Europa, tentando assim impedir o flagelo do tráfico de seres humanos. Guterres prevê desgraça anunciada para os milhares de migrantes que se deslocam entre países nos Balcãs com a aproximação do inverno.

Mulheres, Paz e Segurança. Hoje é o dia em Espanha - país que preside este mês ao Conselho de Segurança- preside ao debate anual sobre três temas fundamentais para o mundo: Mulheres, Paz e Segurança. Passam 15 anos sobre a adoção da resolução 1325 que reconheceu que o impacto dos conflitos sobre as mulheres tinha diferenças. E que se podia (e devia!) agir sobre essa diferença, dando respostas… diferenciadas. Metade da população mundial passou a ser considerada um dividendo positivo para a paz e a ONU ouve-a agora sistematicamente. Tudo pode ainda melhorar na aplicação mais eficaz e menos insuficiente da resolução 1325.


FRASES
“Espero que coligação e PS encontrem pontos para chegar a acordo”. Há uma coisa que sei: os eleitores socialistas não votaram no PS para um Governo com PCP e BE. Toda a gente sabe que não foi esse o sentido de voto dos eleitores socialistas”, Durão Barroso, Diário Económico

“A Constituição diz que o governo deve ser formado com o partido mais votado. Como a coligação não obteve maioria, abrem-se outras possibilidades. Mas, à partida, não há legitimidade para António Costa formar governo à esquerda porque não o anunciou durante a campanha”, Miguel Sousa Tavares, SIC

“Fecharam os olhos ao ISIL [autodenominado Estado Islâmico]. O ataque teria sido impossível sem apoio interno. Há quem pretenda uma guerra de etnias”, Selahattin Demirtas, líder do partido de oposição turco HDP, em entrevista ao programa Amanpour, CNN


O QUE ANDO A LER
Europa em língua portuguesa com “Portugal na Queda da Europa”, de Viriato Soromenho-Marques, uma edição Círculo de Leitores e Temas e Debates 2014. São 370 páginas dedicadas “a todos os estudantes do programa ERASMUS, pioneiros de uma Europa das pessoas, que não podemos deixar perder”. Melhor dedicatória é difícil de imaginar numa altura em que se ouvem muito mais percentagens e se dá mais atenção a gráficos do que a nomes, identidades e futuro. Veja aqui o vídeo do filósofo numa entrevista perto do lançamento, em junho de 2014. O livro defende que o projecto europeu está em risco de desmoronar, mas ainda pode ser salvo. A solução, defende Soromenho-Marques, está no federalismo moderno, construído à imagem e semelhança dos Estados Unidos da América. Porém, o tempo urge, há uma “bomba-relógio a fazer tique-taque”. O livro recorre à História com sabedoria lembrando que faz sentido recorrer à História num continente com tantas más memórias de uns países relativamente aos outros.

Quanto a ver, depois de ler, ainda a Europa. Aconselho-o a não perder apresentação até 18 de outubro que o coletivo alemão Rimini Protokoll, o trio (que é às vezes dueto, outras quarteto) Haug/Kaegi/Wetzel, faz neste momento em Lisboa no ciclo Europa Improvável do Maria Matos Teatro. O espetáculo “Europa em Casa” acontece todas as noites em cerca de 30 casas distribuídas pela cidade em cada uma das quais decorre um jogo feito para um máximo de 15 pessoas. Estes revolucionários da “cena teatral” trabalham há anos com não-profissionais e têm aberto a porta a muitas experiências inéditas, integrando-as no património das artes de palco que, com eles, raramente acontecem num palco. “Europa em Casa” pergunta o que é a Europa? É uma fronteira geográfica, uma identidade cultural, uma coligação de estados? Como é que falamos da “nossa” Europa em Lisboa, Berlim, Poznan ou Bergen? Rimini Protokoll desafia-nos e pronto. Não vale desvendar mais. Só que já tenho bilhetes!

Aprenda a gostar do outono valorizando os aguaceiros e recolha-se no Teatro Camões para assistir a uma das sessões que a Companhia Nacional de Bailado apresenta até 24 de outubro, em Lisboa, do espetáculo Pedro e Inês. Uma criação da coreógrafa Olga Roriz fez do mais querido mito nacional para a CNB há… 12 anos. Ninguém diria: é uma peça jovem como no primeiro dia, com a maturidade inconfundível da linguagem da Olga Roriz.

E pronto: por cá, tudo indica que o dia vai ser uma roda viva, razão para ir espreitando o Expresso Online até que o Expresso Diário, perto das 18h, lhe ofereça o resumo e a análise dos acontecimentos desta terça-feira. Stay tuned com a Luísa Meireles aqui amanhã logo pela manhã. Para mim, é estreia no Expresso Curto. Isso mesmo: duas jornalistas em dias seguidos no café da manhã do Expresso (devo ser só eu que ligo a esses “pormenores”)…

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