segunda-feira, 19 de outubro de 2015

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Nicolau Santos
Por Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
 
19 de Outubro de 2015
 

O dr. Costa é torcicologologista? 


«A que horas começa a revolução? (…) Às três. Na praça central». É assim que arranca o mais recente livro de Gonçalo M. Tavares, «O torcicologologista, Excelência» e que por muitas e variadas razões bem se adapta aos estranhos tempos que vivemos. «Gosto muito de bater na cabeça das pessoas com uma certa força». É isto que tem andado a fazer um certo dr. Costa. Mas a inversa também é verdadeira.

António Costa é, por estes dias, um político sujeito a uma brutal pressão, mesmo dos que lhe são próximos. E o tom é sempre o mesmo: tivesse ele ganho as eleições e teria, apesar de tudo, alguma legitimidade política para formar Governo apoiado por PCP e BE. Mas tendo perdido o ato eleitoral e nunca tendo sido evidente para os eleitores que poderia haver um governo de esquerda se o centro-direita não tivesse maioria absoluta, o líder do PS surge como usurpador da vontade expressa nas urnas.

Miguel Sousa Tavares, insuspeito de simpatizar com a coligação de centro-direita, chama-lhe «O grande prestidigitador» na crónica que assinou no Expresso no passado sábado. E no mesmo sentido vão as crónicas de Ricardo Costa, «A importância da força na política», ou de Pedro Santos Guerreiro, «Propostas irrecusáveis». Em contraponto, estão José Miguel Júdice, com o seu «O sorriso de Sá Carneiro», onde defende que a estratégia de Costa tentar governar à esquerda é a que melhor serve «o equilíbrio homeostático do sistema político» e Daniel Oliveira, com o seu «Ou isto ou o pântano», onde sustenta que Costa deve exigir a BE e PCP ou que integrem um futuro governo de esquerda ou que assinem um acordo de médio prazo que dê garantias a um governo só do PS. Também em defesa de Costa escreve Manuel Carvalho da Silva no Jornal de Notícias.

Não surpreendem, por isso, os resultados de uma sondagem da Intercampus para a TVI onde se assinala que, se as eleições fossem hoje, a coligação PSD/CDS subia quase 3 pontos, com 7% dos inquiridos a admitir que mudariam o seu sentido de voto. Contudo, os eventuais 41,3% dos votos que o PàF teria agora não chegariam, mesmo assim, para lhe garantir a maioria absoluta. Surpresa, das surpresas, não é o PS que perde, subindo mesmo a sua votação de 32,3% para 32,7%, nem o BE, que subiria 7 décimas. Quebras haveria sim na CDU e sobretudo nos pequenos partidos, de onde, pelos vistos, viria o aumento de votação na coligação.

Quem saiu a terreiro, dizendo que a acusação de Manuela Ferreira Leite a Costa de que está a fazer «um golpe de Estado» é exagerada foi Luís Marques Mendes, que no seu comentário na SIC, agora aos domingos, no horário que era o de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, defendeu que o Presidente da República deve nomear Passos Coelho para formar Governo.

Entretanto, Passos Coelho respondeu, também por carta, à carta que lhe tinha sido enviada por Costa. O tom oscila entre o duro e o conciliador. O primeiro-ministro sustenta que a carta enviada pelo PS «frustra as expectativas de todos aqueles que contavam com a prossecução das conversas entre o PS, o PSD e o CDS com vista a um entendimento que pudesse garantir a estabilidade e a governabilidade.». Mas «se o PS prefere discutir estas matérias enquanto futuro membro de uma coligação de Governo mais alargada, então que o diga também com clareza», acrescenta. Ou seja, Passos admite, preto no branco, que o PS possa estar representado no futuro Governo da Nação.

Mas o BE continua a tentar o entendimento governativo à esquerda. A Mesa Nacional do Bloco de Esquerda ratificou ontem, por unanimidade, o mandato «sem nenhum limite» da equipa que está a negociar com os socialistas. A resolução fala «na viabilização de um Programa de Governo» e «na votação de cada orçamento do Estado», mas não refere a possibilidade de um Governo conjunto com o PS.

E pronto, ficamos todos à espera não de Godot mas do Presidente da República, que hoje recebe Passos Coelho e amanhã e quarta-feira recebe os representantes dos partidos com assento parlamentar, começando pelo PSD. E como é mais que previsível e justificável, Cavaco Silva vai incumbir Passos de formar governo. Se depois esse governo resiste à moção de censura que BE e PCP já disseram que iriam apresentar no parlamento é outra questão, que a seu tempo terá a resposta de Costa. Que é a que conta edecide, para todos os efeitos. 


OUTRAS NOTÍCIAS
Depois de Catarina Martins e Mariana Mortágua terem sido os grandes trunfos do Bloco nas eleições legislativas, o que lhe valeu um resultado histórico, tornando-se a terceira força do espetro político, os bloquistas voltam a insistir na fórmula: Marisa Matias será a candidata do BE à Presidência da República,uma notícia avançada em primeira mão pelo Expresso. O Público traça o perfil da mais recente candidata a Belém.

Em Angola, o activista Luaty Beirão entra no 29º dia da greve de fome que encetou como protesto pela detenção a que está sujeito desde há mais de três meses, juntamente com 14 outros jovens. Numa carta conhecida ontem mas datada de dia 14 e escrita e assinada por Luaty, este diz estar «plenamente consciente dos meus atos e das consequências daí resultantes e atribuo a responsabilidade desta drástica decisão ao Presidente da República, engenheiro José Eduardo dos Santos, pela sua teimosia em imiscuir-se em assuntos que numa democracia seriam da exclusiva responsabilidade do poder judicial».

Sempre preocupado em não incomodar Luanda, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, disse que nestas coisas de pessoas com dupla nacionalidade – Luaty é luso-angolano – elas são tratadas de acordo com as leis do país onde se encontram. E lá foi o embaixador português em Angola, João Câmara, «escondido» no meio de uma delegação da União Europeia, visitar Luaty. Hoje, através do Diário de Noticias, o ministério corrige o tiro e diz que tem acompanhado a situação de Luaty «de perto e desde a primeira hora, particularmente tendo em conta os seus contornos humanitários». E, coragem das coragens, há mesmo «consultas com as autoridades para visitar o detido a nível bilateral».

Há duas semanas Angela Merkel visitou a Turquia e disse ao presidente Erdogan, claramente, que sempre tinha sido e continuava a ser contra a entrada da Turquia na União Europeia. Mas ontem, pressionada pela crise dos refugiados, mudou de opinião: «A Alemanha está preparada para abrir neste ano o capítulo 17 [política económica e monetária] e iniciar preparações para os capítulos 23 [sistema judiciário e direitos fundamentais] e 24 [justiça, liberdade e segurança]. Podemos falar sobre os detalhes».

A Rússia anunciou ter abatido 60 alvos terroristas na Síria. Os ataques atingiram a rede de túneis, pontos de fornecimento de armas e comida, depósitos de munições e 32 campos de treinos.

Na Alemanha, a candidata independente à presidência da câmara de Colónia, Henriette Reker, responsável pelo acolhimento de refugiados nessa cidade alemã, venceu as eleições municipais de ontem com 51% dos votos, após ter sido esfaqueada por um homem com motivações alegadamente xenófobas.

Um jovem português, de 25 anos, que viajava ontem de Lisboa para Dublin num avião da Air Lingus, faleceu depois de ter sofrido várias convulsões, tendo mordido mesmo um outro passageiro. O piloto aterrou de emergência no aeroporto de Cork, no sul da Irlanda.

Notícia surpreendente: Portugal está em posição de produzir um carro elétrico já em 2016. O Veeco tem apenas dois lugares e três rodas, gasta um euro ou menos para fazer 100 km e tem autonomia para 400 km. Desenvolvido em consórcio pela empresa familiar do Entroncamento VE - Veículos Elétricos e o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, o primeiro protótipo custou 1,5 milhões de euros, dos quais 900 mil financiados por fundos comunitários e está pronto desde o início de 2012. A produção industrial arranca «no primeiro trimestre de 2016», dividida entre várias empresas portuguesas parceiras do projeto. O preço estimado rondará 23 a 25 mil euros, já com baterias incluídas.

Sinal de que a crise acabou em Portugal, pelo menos para alguns, é que a Porsche está a ter o seu melhor ano de vendas desde sempre no nosso país: 401 viaturas entregues nos primeiros nove meses do ano, um aumento de 38,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

E para ajudar à festa, o gasóleo e a gasolina ficam mais baratos a partir de hoje. A queda será maior no 'diesel', tanto nas cadeias de marca branca, como nas gasolineiras.

Para quem gosta de teatro, uma má notícia: Luís Miguel Cintra vai abandonar os palcos. Sábado à noite, após a última apresentação deHamlet, de Shakespeare, que esteve em cena no Teatro da Cornucópia, em Lisboa, o ator e encenador anunciou que, por motivos de saúde,este tinha sido o seu último trabalho como ator.

E por falar em ator, nos Estados Unidos Donald Trump volta a polemizar, ao dizer que há pelo menos três razões pelas quais George W. Bush pode ser responsabilizado pelo ataque às Torres em setembro de 2001. «Goste-se ou não, Bush estava na Casa Branca quando as Torres Gémeas foram derrubadas», disse na sequência de um debate com Jeff Bush, irmão do antigo presidente e também candidato à presidência dos EUA pelo Partido Republicano.

Em Espanha, ao contrário do que tinha prometido aquando da sua investidura, Mariano Rajoy não acabou com os feriados que permitem faDiário de Noticiaszer as chamadas «pontes». E assim 6, terça-feira, e 8, quinta-feira, de dezembro serão dias feriados em Espanha,permitindo seguramente a muitos espanhóis aproveitar essa enorme «ponte» e fazer uma semana de férias.


FRASES
«Um Governo apoiado pela Esquerda não oferece internacionalmente a confiança que se impõe». Ilídio Pinho, presidente da Fundação Ilídio Pinho, IP Holding e Fomentivest, Jornal de Notícias

«Seria um grande erro para o PS formar um Governo apenas com base na viabilização de um OE. Confio que não vá acontecer». Paulo Pedroso, ex-ministro socialista, jornal i

«Tem de ser um acordo sólido, público e transparente. Tudo escrito e assinado». Jorge Coelho, ex-ministro socialista, SIC

«Política de esquerda? Isto é tudo um putedo». Arnaldo Matos, de regresso à liderança do PCTP/MRPP, sobre um Governo PS com apoio do PCP e BE, jornal i

«José Lellos há em todos os partidos». Honório Novo, ex-deputado do PCP, jornal i

«Vamos ter dinheiro nas empresas antes do fim do ano».José Fernando de Figueiredo, presidente da Instituição de Desenvolvimento, que, ao que se sabe, ainda não começou a operar no mercado, Diário Económico

«Se disser que Gungunhana reapareceu, os africanos acreditam». Mia Couto na apresentação de Mulheres de Cinza, o primeiro volume de uma trilogia, Diário de Notícias


O QUE ANDO A LER E A OUVIR
Como o leitor já percebeu, comecei agora a ler o mais recente livro de Gonçalo M. Tavares, «O torcicologologista, Excelência» (se conseguir dizer o título sem ter um torcicolo na língua ganha um prémio), que trata, no fundo, da liberdade, esta liberdade cercada de grades, de proibições, de sentidos únicos, de pensamentos dominantes que, pouco a pouco, vem descendo sobre todos nós, países, povos, pesadamente, cinzentamente, inexoravelmente, asfixiantemente. É por isso que ler, ler, ler mais, ler sempre, continuar a ler sem parar é a única maneira de escapar a esta prisão em que a porta parece estar sempre aberta – mas, na verdade, não está.

E para se evadir nada como voar nas notas dos dois pianos de António Pinho Vargas. «Solo» foi gravado no final de 2007 e conheceu a luz do dia em 2008. Já passaram sete anos, mas continua a ser um excelente veículo para batermos as asas e sair pela janela em direção ao sol da liberdade.

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