quinta-feira, 22 de outubro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Miguel Cadete
Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
 
22 de Outubro de 2015
 
Costa Concórdia? Ou a verdade está lá fora?
 

Bom dia,

Ainda não decidi se vou assinar o Netflix mas, para não me armar em modernaço, posso sempre recorrer à velha cassete VHS. É bem possível que a verdade (?!) da política portuguesa esteja toda escrita, não nas estrelas, mas numa série de televisão. Os X-Files estrearam há 22 anos mas podia ser hoje. Ò que saudades dos agentes Fox Mulder e Dana Scully.

Se lhe disserem que hoje é o Dia D na demanda por um governo estável, não acredite. Lembre-se, sempre, todos os dias, a todas as horas: Trust No One. Mas saiba que o cenário mais provável, ou melhor, aquele que é repetido pela comunicação social é um que jura a pés juntos que a decisão de Cavaco é hoje conhecida e que o mais certo é indigitar Passos Coelho primeiro-ministro ainda esta semana. A ver vamos, como dizia o ceguinho.

O respeito pela “convenção constitucional” assim leva a crer. Essa mesmo que nos últimos 40 anos foi levando a que o líder do partido ou coligação mais votada em eleições fosse chamado a formar governo.

É esse, se quisermos, o cenário mainstream. Aquele em que, ainda durante esta semana, Passos e Portas tomarão posse, e irão apresentar um novo Governo e respetivo programa à Assembleia da República durante os próximos dez dias. E que então esse programa será chumbado pela maioria dos deputados constituída pelo PS, Bloco de Esquerda e CDU. Será? António Costa e Catarina Martins dizem querer queimar etapas e passar já à formação do seu próprio Governo. Voltemos aos X-Files: I Want To Belive!

Acreditemos. Esse calendário faria com que na primeira semana de novembro, o PR endereçasse novo convite para a formação de novo governo, desta vez indigitando António Costa, líder da segunda força política mais votada. Seria então a vez de Cavaco dizer para os seus botões “I Want To Believe”: eles têm realmente um acordo que garante um governo estável e em consonância com os preceitos europeus.

É o que os jornais dizem hoje. Que há acordo. O Expresso noticia que as negociações entre PS e Bloco já vão para lá das condições mínimas. Que a TSU, congelamento das pensões e despedimentos já foram para o galheiro e que agora irá cair a sobretaxa do IRS, o IVA na eletricidade e será aumentado o salário mínimo. (O caro leitor faça o favor de escolher entre os três slogans dos X-Files pois qualquer um é bom neste caso).

Para o “Diário Económico”, a privatização da TAP, e das outras empresas de transportas, também pode ter ido à vida. E diz que o PCP luta pelo aumento do salário mínimo para 600 euros. O “Público” analisa o perfil sociológico dos negociadores – homens, menos de 40 anos, sabedores das coisas de Economia – e adianta que Costa apresentará hoje à Comissão Política do PS um pré-acordo já firmado com o Bloco. Lembre-se sempre: Trust No One. Ou então entregue-se: I Want To Believe.

De volta ao calendário. Não existe (ainda) qualquer acordo fechado, e como sublinhou António Vitorino, na SIC Notícias, “não há acordos parciais”. Nem, muito provavelmente haverá até à véspera da moção de rejeição de um governo liderado por Passos Coelho.

António Costa far-se-á valer do seu peso negocial para arrastar até ao último minuto o fecho da negociação com o Bloco e, sobretudo, com o PCP (sempre mais prudente e sem “passar cheques em branco”) para tentar impor as suas condições. Caso contrário…. Tudo pode acontecer. Ou, dito de outra maneira: The Truth Is Out There.

O certo é que passaram 18 dias desde a data das eleições. António Costa, dado como derrotado, tornou-se a figura central da política portuguesa desde o dia 4 de outubro. O seu caminho tornou-se muito estreito: entalado à esquerda e à direita e com o seu próprio partido a arreganhar a taxa lá vai fazendo esse estreito mas já longo caminho das pedras, escondendo o jogo de todos mas não podendo escapar à primeira semana de novembro.

No “Diário de Notícias” a manchete diz que o “PS esconde acordo com PCP e Bloco”. Assim será até ao fim. Com sorte, no Dia de Todos os Santos, tudo estará resolvido. A Verdade Está Lá Fora, mas não é certo que o Presidente da República tenha pós de perlim pim pim.


OUTRAS NOTÍCIAS
Ricardo Salgado pode deixar a prisão domiciliária, segundo ordens do juiz Carlos Alexandre. Basta pagar três milhões de euros de caução. O antigo responsável máximo do Banco Espírito Santo havia pago, já lá vai mais de um ano (por transferência bancária), semelhante maquia no caso Monte Branco e agora pode fazer o mesmo para poder sair de casa (mas não do país) à vontade. E ele quer isso?

Enquanto não se resolve o Governo, há uma segunda batalha, desta vez pela eleição do Presidente da Assembleia da República. Fernando Negrão pode ser o candidato do grupo parlamentar do PSD. E Ferro Rodrigues, figura da esquerda do PS, está disponível para concorrer pelos socialistas. Mas terá o apoio de todos o partido?

O Benfica perdeu na Turquia, com o Galatasaray, por duas bolas a uma. O golo madrugador de Gáitan, logo aos dois minutos, de nada valeu. Ainda na primeira parte, Podolski selou a derrota da equipa da Luz na terceira jornada da fase de grupos da Liga dos campeões. O Benfica segue no segundo lugar mas tem os turcos a dois pontos. Nada está resolvido. E as atenções já estão postas no jogo de domingo com o Sporting.

Jorge Jesus, treinador dos leões, tem uma ideia diferente das competições europeias. Desta vez não escondeu e avisou de antemão que vai à Europa jogar com a equipa B, poupando os titulares para o jogo no Estádio da Luz. Caso hoje não vença o Skënderbeu da Albânia na fase de grupos da Liga Europa será muito difícil senão impossível ultrapassar o Besiktas ou o Lokomotiv de Moscovo dizendo adeus às competições europeias.

O processo de José Sócrates no âmbito da Operação Marquês continua a verter para as páginas de jornais, depois de a sua consulta ter sido aberta aos assistentes. O jornal “i” fala de um doutoramento em Nova Iorque e em palestras em Columbia com Lula, Sarkozy e o presidente da Argélia. E o “Correio da Manhã” continua a esmiuçar escutas, desta vez entre o arguido e António Guterres.

O novo livro de Astérix e Obélix, “O Papiro de César” é hoje publicado em todo o mundo. Uma das novidades é a personagem inspirada em Julian Assange. Em Portugal, onde também é campeão de vendas, a tiragem subiu a valores record: 35 mil exemplares. E em França, o “Le Monde” já conta tudo o mais sobre esta nova banda desenhada.

A revista “Visão”, agora dirigida pelo meu camarada João Garcia, chega hoje às bancas remodelada, com um novo grafismo e novos colunistas, além dos consagrados António Lobo Antunes e Ricardo Araújo Pereira. Espreite aqui algumas das mudanças, que também abarcam o site e a Visão Sete. No tema que faz capa, “Infotráfico – Quando a presa somos nós”, assinado por João Dias Miguel, alerta-se para a espionagem de informação pessoal. “Eles andam aí”, diriam nos X-Files!

As declarações de Binyamin Netanyahu, que disse ter sido um líder palestiniano a incitar o holocausto, continuam a provocar controvérsia. Netanyahu disse que Hitler não queria exterminar os judeus, apenas repeli-los. A ideia do extermínio teria partido do mufti de Jerusálem, Haj Amin al-Husseini. Ontem, em conferência de imprensa, ao lado de Netanyahu, Angela Merkel terá desmentido o seu parceiro, assumindo as responsabilidades da Alemanha na História e não encontrando razões para alterar a sua perspetiva dos acontecimentos.

Na terça-feira Al Assad viajou secretamente até Moscovo para se encontrar com Putin. O “New York Times” encarou esse encontro como de dois chefes de Estado, da Síria e da Rússia, à procura de melhorar a sua reputação internacional. E revela o seu cinismo: apesar de unirem esforço na guerra da Síria, as relações entre os dois nunca foram boas. E não estão melhores.

 
FRASES
“Voto devia ser obrigatório”. Adriano Moreira ao jornal “i”

“O Presidente não tem funções de orientação dos governos”. Vital Moreira ao “Diário Económico”

“Eu desejo - neste momento não sei o que se pode esperar, parece uma situação complicada - que Portugal não ponha em risco todos os sacrifícios que foram feitos, não se pode brincar com o fogo". Durão Barroso no congresso da direita europeia

“Preferia o BE fora do governo. Permitia afirmar mais a sua autonomia”. João Semedo no “Diário de Notícias”

“Ele é angolano. Também é português, mas é angolano. Nasceu e vive em Angola e está a ser acusado como angolano”. Mónica Almeida, mulher de Luaty Beirão, à Lusa

“A política é amor ao mundo. Sinto imenso amor pelo mundo, pela democracia. A política é lugar onde, clamorosamente, jogamos a nossa existência”. Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, ao deixar as suas funções, à Lusa

 
O QUE ANDO A LER, VER E OUVIR
Um novo disco, “disfarçado”, de Amália Rodrigues que permaneceu inédito até hoje. “Tivoli 62”, como o título indica, é a gravação de um espectáculo que teve lugar há mais de quarenta anos naquele teatro de Lisboa. O evento destinava-se a homenagear Filipe Pinto, um fadista que a história agora recupera e que ficou conhecido enquanto mestre de cerimónias em diversas casas de fado. Amigo dos maiores fadistas do seu tempo (e de sempre), Pinto convidou para a sua festa de homenagem Alfredo Marceneiro, Lucília do Carmo, Fernando Farinha e Amália Rodrigues entre outros. Este disco inclui o registo de todos eles mas a sua piéce de resistance são as oito faixas de Amália em que interpreta algum do seu reportório mais aparatoso como “Estranha Forma de Vida”, “Cansaço”, “Povo que Lavas no Rio” ou “Maria Lisboa”. Tudo enquanto estava no pico de forma, com a voz mais brilhante do que nunca. Escrevo sobre isso na próxima Revista do Expresso, sublinhando a importância deste registo para a história do fado e as suas releituras até porque “fotografa” um raro encontro de gerações, que é disponibilizado pela Valentim de Carvalho a partir de 30 de outubro.

Para ler e ver, recomenda-se vivamente o livro de Alfredo Cunha (fotografia) e Luís Pedro Nunes (textos) onde estão coligidas, em mais de 300 páginas, as reportagens que nos últimos anos fizeram pelo mundo fora. Chama-se “Toda a Esperança do Mundo” e é um calhamaço que pesa mais do que a dívida externa portuguesa. As peças foram originalmente publicadas no Expresso mas nada paga o cuidado desta edição da Porto Editora que será apresentada por Adelino Gomes e Fernando Nobre (AMI) a 13 de novembro na Fnac do Chiado. Mas nem só de letras e luz é feito este projeto. No Porto, além de 30 destas fotografias, serão expostas, no Espaço Mira, a partir de 14, alguns objetos recolhidos por Luís Pedro Nunes como folhas escritas por meninos-escravos, pedaços de um templo que ruiu com o recente sismo do Nepal, uma lata de comida esmagada num campo de refugiados do Iraque ou um fato anti-ébola que veio da Guiné. Todas as receitas revertem para a AMI.

Tenha um bom dia que amanhã cá estaremos de novo.

Henrique Monteiro servirá o curto logo pela fresca. Ainda hoje, não deixa de acompanhar a fervilhante política portuguesa no Expresso Online e, logo mais, não perca o ponto da situação que Expresso Diário apresenta às 18h.

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