terça-feira, 22 de dezembro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Cristina Peres
Por Cristina Peres
Jornalista de Internacional
 
22 de Dezembro de 2015
 
P de Podemos ou O que podemos nós?
 

Enquanto Bruxelas apela à formação de um governo estável em Espanha, o PSOE e o Podemos já deixaram claro que votam “não” à investidura de Mariano Rajoy e não põem a hipótese de se absterem. Se a esquerda espanhola recusa, já o Ciudadanos diz permiti-la caso o atual chefe do Governo obtenha uma maioria suficiente. O Partido Popular perdeu a maioria e, apesar de ser o mais votado, não é evidente qual é a fórmula capaz de sossegar Bruxelas e satisfazer a vontade de mudança dos eleitores espanhóis. Um óbito é para já definitivo, o bipartidarismo. O diário El País dá-lhe a distribuição dos votos e explica-lhe o que é preciso para que os partidos cheguem a acordo de coligação: não vai ser fácil porque pelo menos um deles terá de ceder e abdicar dos seus princípios inegociáveis. O diário El Mundo dá aqui os cenários de coligação possíveis com prós e contras analisados.

O Expresso Curto de hoje arranca como o do Ricardo Costa de ontem, com os temas futuro governo de Espanha e a venda do Banif. Este segundo é que vai perdurar e doer por aqui. Os contribuintes já perderam os 700 milhões de euros que foram injetados no capital em 2013, a dívida de 125 milhões dessa altura que não foi paga e a parte que não recuperaram dos 2,255 que agora foram utilizados. O Correio da Manhã revela as contas que fez na manchete de hoje: “Banif custa 300€ a cada português”. Tudo falhou no processo de venda. O banco não era atrativo, os oito planos de reestruturação apresentados foram chumbados pela Comissão Europeia, a venda do Novo Banco - que também falhou - foi prioritária para o Governo e houve gestão política, por causa das eleições legislativas.

O Expresso Diário publicou um guia para perceber o resgate do Banif de leitura indispensável, um trabalho de Anabela Campos, Isabel Vicente, João Silvestre e Susana Frexes. Os bancos foram apanhados de surpresa relativamente aos contornos da solução encontrada para salvar o Banif, escreve a Isabel Vicente no site: O Expresso sabe que os bancos não sabiam que iam ser chamados a injetar mais 489 milhões de euros no Fundo de Resolução para a solução encontrada pelo Governo e pelo Banco de Portugal. Os bancos representados no Fundo de Resolução não foram ouvidos sobre o que se estava a passar, refere uma fonte da banca. “Buraco de 3,6 mil milhões”, lê-se na manchete do Diário Económico, que dedica dez páginas ao assunto: Estado já perdeu 2,4 mil milhões de euros com o Banif. O Fundo de Resolução também injeta 489 milhões e o Estado presta duas garantias ao Santander no valor de 746 milhões. 3,6 mil milhões é quanto o Estado poderá vir a perder, resume.

Entretanto, o Santander já se reuniu com a alta direção do Banif, e o banco espanhol garante “tranquilidade total na operação dos balcões”, escreve o Económico. “Portugueses já deram 13 mil milhões para salvar bancos” é a conta que o Diário de Notícias traz hoje na primeira página. Leia aqui como o i sublinha a aposta do PS e do Bloco no afastamento do governador do Banco de Portugal, afirmando que o Governo pode usar o inquérito ao Banif para afastar Carlos Costa. Para tal, é preciso que seja concluída a existência de “falta grave”. Leia aqui a opinião de António Bagão Felix e aqui o editorial do Público intitulado “Um monumento à irresponsabilidade da era Passos: a gestão do anterior governo neste caso não merece perdão”.

 
OUTRAS NOTÍCIAS
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) aceitou apreciar a queixa da defesa de Carlos Cruz, três anos após o requerimento ter sido feito. Os juízes de Estrasburgo aceitaram pronunciar-se sobre a queixa de Cruz (atualmente a cumprir pena na prisão da Carregueira), bem como sobre Manuel Abrantes, Jorge Ritto e Ferreira Dinis, todos condenados a penas de prisão efetiva por abuso sexual de menores, como se escreve aqui no site do Expresso.

O Supremo Tribunal Administrativo pediu uma nova análise da providência cautelar que quer impedir a saída das 85 obras de Miró de Portugal. Vitória para o Ministério Público, que iniciou esta luta jurídica e se tem batido contra a venda das obras, na posse do Estado desde a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), escreve o Público.

Futebol, na Taça de Portugal segue-se o derby da cidade do Porto, com o Futebol Clube do Porto e o Boavista. Há jogos a 12 e 14 de janeiro.

Um ataque suicida perto de Bagram matou seis soldados norte-americanos. Os talibãs têm provocado baixas consideráveis no exército afegão e estão à beira de tomar Sangin, uma cidade na província de Helmand que, no passado, foi palco de notáveis combates das forças americanas, britânicas e de outros aliados da NATO. Hoje está de novo praticamente nas mãos das forças talibãs.

O sudoeste da Turquia está a ferro e fogo com tanques e tropas a intervirem na área mais populosa do país, em particular de etnia curda. Os hospitais estão em alerta e três mil professores foram afastados das escolas em zonas de onde já fugiram dezenas de milhares de pessoas. Desde o colapso do processo de paz em julho último, morreram 550 pessoas (150 civis) na região onde se concentram os curdos. A revista The Economist (fechada) sustenta que o ocidente finge não estar a assistir ao regresso da regra militar imposta pelo partido AK a partir de Ancara, tal como aplicava nos anos 90: sem sucesso. As perspetivas de paz parecem ténues, já que novos jovens militantes, munidos de armamento caseiro, já cavam trincheiras e constroem barricadas. A Al-Jazeera chama à situação a “passagem da paz a guerra de baixa intensidade”.

“Ainda sou o presidente da FIFA, lamento, mas não estou envergonhado”, sustenta Sepp Blatter depois de ter sido afastado do futebol por um período de oito anos. A história não está resolvida e Blatter insiste - “Voltarei!” - quando tanto ele como o dirigente da UEFA, Michel Platini, foram banidos “com efeitos imediatos”, proibidos de desempenhar qualquer papel no mundo do futebol. Leia aqui a história. E aqui, em português.

98,1% de votos favoráveis foi quanto o Presidente Paul Kagame obteve no referendo para alterar a Constituição do Ruanda para poder candidatar-se a um terceiro mandato presidencial. Segundo o diário sediado em Kigali New Times, Kagame, de 58 anos, no poder desde que o seu movimento/partido - Frente Patriótica do Ruanda - pôs fim ao genocídio de 1994, poderá presidir ao Ruanda por mais 17 anos! A comunidade internacional reclama com a moderação de quem aceitou reconhecer-lhe os louros do desenvolvimento do país. A oposição está silenciada e o pós-Kagame já foi pensado: depois de 2017 - ano em que o chefe de Estado poderá candidatar-se a um terceiro mandato de sete anos, os ciclos presidenciais serão reduzidos a cinco anos e limitados a dois por cada candidato. Kagame faz escola e inspira o combate à corrupção. Na Tanzânia, o novo Presidente John Magufuli tomou posse em 5 de novembro e já “limpou” uma série de privilégios às elites tanzanianos, como reporta a Merih-News.com. Chama-lhe a “ruandização” da Tanzânia.

 
FRASES
“Há vendaval político na Europa. O centro político está a desaparecer”, António Campos, ex-eurodeputado do PS, i

“Com a colaboração do Banco de Portugal e da Comissão Europeia, a Direita passou aos contribuintes de hoje a fatura [Banif] da sua ‘saída limpa’”, Mariana Mortágua, deputada do BE, Jornal de Notícias

​ “O Estado pagou o preço de três anos de inação, depois de investir 1.100 milhões de euros no Banif e não ter acautelado o sucesso dos sucessivos planos de reestruturação do banco, que foram sempre chumbados por Bruxelas. A capacidade de recuperação de valor para o Estado está nos ativos transferidos para o veículo”, Mário Centeno, Ministro das Finanças, Negócios

 
O QUE ANDO A LER
Acabada de regressar de férias, desconcentrada pelos melhores motivos… só assim me veria empurrada para um policial que se transformou em mega-sucesso de Bollywood: The Bettelnut Killers, de Manisha Lakhe. Descobri-o numa loja de Colombo, uma espécie de mini LxFactory da capital do Sri Lanka. O destaque de capa, assinado pelo crítico Cyrus Broacha, tornou-o logo irresistível: “It deserves de ultimate accolade: “I’m going to copy it word by word for my next book”. A capa, tão expressiva como qualquer sinal de trânsito daquele lado do mundo, contribuiu para o entusiasmo provocado pelo folhear do arranque: “On a motherfuckin’ day of the Lord… the bastards!”, detective Franklin D Wade muttered under his breath as he negociatedd the far-lined to the sanatorium located by the woods along the Willamette”. Só promessas, por isso comprei as cópias todas (duas). Lamento o egoísmo, mas aquém da Taprobana, só eu posso emprestar um exemplar. As estrelas das criticas não são muitas, mas um sucesso editorial na Índia/Sri Lanka vale uns milhões de exemplares impressos, vendidos e lidos!

Agora mais a sério e totalmente acessível aos leitores, comecei a ler Um Espião na Casa do Amor e da Morte (Arranha-Céus) do grande-grande António Cabrita. Trata-se de uma “reportagem-manifesto contra a diferença do género” que o António escreve combinando os seus trunfos de repórter, analista, ensaísta e escritor. O livro parte de uma investigação no terreno (a realidade ajuda sempre!) para cruzar os factos com o “desencontro” (to say the least) entre a legislação existente e a tradição cultural. O país é Moçambique, ainda que as histórias estejam longe de ser exclusivas, uma mistura explosiva da qual as mulheres são as principais vítimas.

Artes Visuais. A olhar para o ano que está prestes a entrar, o “Espresso”, o diário digital da revista “The Economist”, lembrou que, em 1989, as Guerrilla Girls, um grupo empenhado em expor o sexismo e o racismo no mundo da arte, perguntaram: “As mulheres têm de estar nuas para entrar no Met?”. Deveria ajudar, sem dúvida, uma vez que 85% dos nus do Met são mulheres quando apenas 5% dos artistas ali expostos eram mulheres. A verdade é que a luta continua! Se assim não fosse, as famosas Pussy Riot - que já experimentaram as prisões e a “justiça” de Putin e não desistiram - não se dariam ao trabalho de anunciar que vão abrir um museu em Montenegro que será exclusivamente dedicado a expor trabalho de mulheres. A propósito, no próximo mês, a Saatchi de Londres vai celebrar os seus 30 anos com a primeira exposição composta exclusivamente por obras de mulheres. Abre a 13 de janeiro, chama-se Champagne Life e vai mostrar 14 artistas emergentes dos EUA, Canadá, Coreia do Sul e tal. Vale celebração, não? Fica aqui o preview.

E de novo a propósito, encontra aqui o link para um artigo do site thisisafrica.me que analisa o papel das mulheres no desenvolvimento do continente. Whose Africa is rising? A feminista perspective pergunta quais os critérios para medir os crescimentos e avalia o que eles refletem das sociedades africanas. Das sociedades às pessoas, como aproximar os números das análises das cidadãos individuais?

Deixo-lhe ainda aqui o link para poder apreciar o ano 2015 em fotografias dos Médécins sans Frontières. A lista de fotógrafos é de seguir, se não o fazia já. É uma maneira diferente de viajar pelos acontecimentos. A realidade ajuda sempre! Caso prefira só mesmo pensar em viagens, sugiro para banda sonora este Slip, passível de ser ouvido em loop. Ou este Drop the Game, idem (se não tivéssemos peso seria assim…). Se estiver mesmo a planear viajar não o faça sem primeiro avaliar os preços que o esperam em todo o mundo usando esta infografia.

E chega de Curto por hoje, fique com a atualização permanente do Expresso Online até à hora de “folhear” o Expresso Diário que estivemos azafamados a preparar para si. O João Vieira Pereira fecha a série da cafeína matinal antes do Natal. Bom dia!

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