quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

na educação, 'história interminável'...?

Basta um pequeno esforço para reconstruir o discurso do dia.
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Queremos acabar com as mudanças permanentes. Queremos garantir a estabilidade do sistema educativo. As crianças estão no centro da nossa política educativa. Os alunos são a prioridade. As pessoas estão à frente. Por motivos ideológicos, o governo anterior mudou tudo sem rei nem roque. O anterior ministro criou a instabilidade. O governo precedente provocou danos quase irreparáveis. As políticas educativas anteriores, destinadas a promover a desigualdade, deixaram sequelas irreversíveis. Em quatro anos, a educação em Portugal recuou dez ou vinte. O governo anterior só se interessava pela produção de elites. Foi instalada a desordem educativa. As escolas estão destruídas.

Também não é preciso muito para prever o que se segue.

Vamos nós agora garantir que não haverá mais danos. Vamos reparar as sequelas. Vamos criar a estabilidade. Vamos garantir o primado dos alunos. Vamos construir uma escola de sucesso. Vamos levar a cabo uma política sensata, equilibrada, orientada pela ciência, dirigida para os alunos, destinada a promover a igualdade e a democracia. E sobretudo vamos reformar com a garantia da estabilidade. Para já, não haverá mais trabalhos para casa no ensino básico, dado que os alunos eram obrigados a trabalhar de mais. Depois de o Parlamento, numa votação inédita, ter eliminado uns exames, vamos agora eliminar os restantes, que eram um horrendo choque psicológico para os alunos. Vamos fazer provas de aferição sensatas, sem ideologia, sem classificação e sem trauma para os alunos. Não haverá mais exames, para já, no quarto e no sexto, mas sim provas no segundo, no quinto e no oitavo, o que é evidentemente mais democrático, mais pedagogicamente correcto e mais científico. Ámen.

Com a ajuda de António Costa, o ministro Tiago Brandão Rodrigues teve, nas televisões e no Parlamento, dois dias de glória. O ministro não ouviu quem devia ter ouvido, não acatou conselhos sábios de prudência e experiência e tomou medidas radicais a meio do ano lectivo. Com o atrevimento próprio dos ignorantes, denunciou a ideologia dos outros, declarando-se definitivamente científico e no cumprimento do interesse dos alunos. O parecer do Conselho Nacional de Educação diz o contrário? Aconselha várias medidas cautelares? É indiferente, “quem manda é o governo”. A disciplina, o trabalho, o rigor e o método? São etiquetas ideológicas que devemos afastar. O que importa é que a educação promova a igualdade e não a “elitização”, termo inventado por um analfabeto e adoptado pelo ministério. Parece ter ouvido cuidadosamente os dois partidos de extrema-esquerda e a Fenprof: sente-se até nas palavras utilizadas. Exprime-se numa língua de pedra, feita de lugares-comuns e de expressões aparentemente científicas. Diz que o sistema anterior é nocivo, provoca danos, criou traumas, promove a desigualdade, forma elites e traduz a cultura da nota. Não ouve nem dialoga com os parceiros, mas “informa-os das premissas”. Não ouviu os directores das escolas não se sabe porquê, mas também não interessa, porque “quem governa é o governo”. Reformou os exames e as avaliações a meio do ano, o que para ele não tem qualquer espécie de importância. Não falou com várias sociedades científicas, nem com organizações de pais, mas ouviu a Fenprof, que já o felicitou.

E assim recomeça mais um ciclo de reformas da educação. E desta maneira se iniciam discussões litúrgicas e obsessivas sobre os exames e a avaliação contínua, a aferição e a avaliação, a avaliação interna e a externa, a avaliação formativa e a sumativa…
O pior é que já vimos isto tudo. Uma vez. Duas vezes. Tantas vezes. Vezes a mais!
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DN, 17 de Janeiro de 2016
 
 
via feedly...

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