terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

e por que hoje é dia...





nota -

não que me sinta para aqui muito voltado, para afectos, carinho e meros abraços, mais ou menos reconfortantes, mas as minhas luzes são e estão demasiados cinzentas e carregadas de energias negativas... e o espírito é fraco.


mas que viva s. valentim para todos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

a partir das 20 desligo o móvel mas tenho o fixo à mão, que atendo ou não consoante quem está a ligar...






Pais, professores e educadores vivem cada vez mais no dilema de saber como ser exemplo construtivo e exercer a sua influência com autoridade e eficácia. Como ajudar a crescer, como fortalecer o caracter, como reforçar valores e competências, como fazer para que crianças e jovens se tornem adultos confiantes, seguros, realizados e felizes. Mais: capazes de fazer outros felizes e ajudar outros a crescer, influenciando-os também de forma positiva.
Sabemos que humanamente todos temos uma inclinação natural para repetir os modelos educativos que tivemos na infância e juventude e, daí, haver tantos adultos que apesar de terem sido filhos maltratados, se tornam pais maltratantes. Felizmente tudo isto se conjuga pela positiva e, nesta lógica, também os filhos de pais que confiaram e responsabilizaram, se tornam pessoas confiáveis e responsáveis.
Vem isto a propósito de uma sucessão de encontros de pais, professores e educadores em escolas e centros educativos dentro e fora de Lisboa, onde me pedem para participar com regularidade. Alguns dos temas mais recorrentes destes encontros são, inevitavelmente, o exemplo que damos e os castigos que aplicamos. Ou, posta a questão de forma menos punitiva, o registo, o tom e a atitude mais justos e mais eficazes para educar para os valores e orientar a personalidade. Não há respostas definitivas, claro, nem pistas infalíveis. Cada caso é um caso e só na história de cada um se consegue encontrar aquilo que faz sentido e é justo.
Aprendo muito nestes encontros, com as partilhas de muitos pais presentes, com as exposições e questões dos professores e educadores. Ouço episódios trágicos e cómicos, mas também me confiam muitas situações difíceis de suportar no dia a dia, que acabam por se converter em braços de ferro tensos, muitas vezes vividos em excessos verbais, mas também num silêncio ressentido, sem palavras, num tempo sem qualidade e em relações cada vez mais degradadas.
Não podemos esquecer-nos de que estamos a falar muitas vezes de famílias desfeitas e refeitas, de filhos só a viver com a mãe ou só com o pai, de crianças e jovens que vivem entre várias casas e de um dia para o outro herdam ‘irmãos’ crescidos, que apesar de serem desconhecidos chegam e ocupam o espaço físico e emocional, pois muitos filhos não vivem com os seus próprios pais ou mães, embora estes vivam diariamente com os enteados em casa (muitas vezes a invadirem os quartos que deviam ser dos filhos), enfim não podemos abstrair desta realidade-real que altera tanta coisa e transtorna quase sempre a desejada coerência pedagógica.
Nos primeiros anos importa saber dizer não, sem a tentação imediata e recorrente de compensar os filhos pelas ausências mais ou menos prolongadas, pelas separações ou divórcios. Todos os pais querem ser amados e respeitados pelos seus filhos, mas os filhos querem exactamente o mesmo: amor e respeito. Acontece que mais facilmente obtêm amor que respeito. Mesmo os bons pais – diria mesmo os melhores pais do mundo – têm alguma dificuldade em encontrar um ponto de equilíbrio relativamente ao respeito que devem aos seus filhos. Podem pensar que exagero, mas infelizmente a realidade prova o contrário. De que forma? Já veremos.
Vivemos numa vertigem de tempo, com horas a menos e compromissos a mais, num ritmo incessante de ‘casa-trabalho-trabalho-casa’, mais os transportes públicos e todas as obrigações domésticas, para não falar dos cúmulos de imperativos familiares das famílias (desfeitas e refeitas, insisto). Vivemos esta vida de doidos e, de certa forma, achamos que somos salvos pelo facto de termos telemóveis onde podemos ler mails e responder de imediato às urgências, bem como despachar trabalho e até ter reuniões em casa, no carro ao nos transportes públicos com pessoas que mesmo estando do outro lado do mundo, podemos ver cara a cara. Ou seja, vivemos na ilusão de que por estarmos ligados a tudo conseguimos chegar a todos os que precisam de nós. Filhos incluídos.
Na realidade conseguimos chegar a quase tudo e quase todos, mas descuramos muitas vezes os nossos. Pais e filhos ficam muitas vezes no fim da lista de obrigações e são os mais prejudicados pela nossa impaciência e indisponibilidade crónicas. Acontece-nos muitas vezes chegar a casa no pico mais alto dos nervos ou no ponto mais baixo da tolerância. Chegamos a casa e precisamos que nos deixem aterrar, se possível que não falem connosco nem nos exijam muita atenção. Ora acontece que até certas idades, os filhos esperam pela hora da nossa chegada a casa para matar saudades, para fazer perguntas (e birras!), para virem com todo o tipo de perguntas e exigências. E nós? Nós respondemos com impaciência, fingimos que ouvimos o que dizem, mas damos respostas vagas ou inconsistentes, e fechamos portas para, de certa forma, nos isolarmos um pouco no nosso mundo.
O respeito pelos filhos passa muito por aqui, hoje. Por lhes darmos amor, tempo e atenção, mas acima de tudo prioridade. É essencial que os filhos de todas as idades sintam que são a prioridade total e absoluta dos seus pais ou de quem os substitui. Se voltarmos a casa invariavelmente colados ao telemóvel, sem capacidade de os acolher, de os ouvir, de os ter como primeira e última prioridade, não nos podemos queixar. Acontece vezes demais sermos tentados a atender uma chamada, mesmo quando estamos com alguém que está fisicamente presente, que chegou primeiro e está a precisar da nossa atenção. Quantas vezes por dia não invertemos esta prioridade? Quantas vezes não suspendemos uma conversa porque alguém nos liga? E quantas vezes os nossos filhos não desistem de tentar ter a nossa atenção por saberem que vão ter que esperar como quem é obrigado a voltar para o fim da fila?
Está mais que estudado que nesta era da comunicação, em que estamos todos ligados e virtualmente próximos, podemos sentir-nos realmente muito distantes e viver uma solidão acompanhada, que é a pior forma de solidão. E se estes estudos estão feitos e publicados, que podemos fazer perante as conclusões? Ter mais atenção à maneira como usamos os telemóveis e apps que nos prendem a atenção, sobretudo quando nos distraem do essencial.
Neste sentido e porque o tema é o respeito que devemos aos nossos filhos, vale a pena desligar o telemóvel quando chegamos a casa, por exemplo. Ou até mesmo desligar a chamada pedindo compreensão ao interlocutor, justamente por estarmos a entrar em casa, onde temos filhos ou pais e familiares que nos esperam ao fim de um longo dia. Os filhos também se maçam nas escolas e também têm dias stressantes, não são só os pais que trabalham. E, por isso, precisam tanto dessa atenção reparadora. O mais extraordinário é perceber que só por desligarmos os telemóveis e, de certa forma, nos desligarmos do mundo para nos ligarmos só a eles, os nossos filhos ficam muito mais tranquilos e seguros. Parece magia.
Como podemos exigir respeito se nem sempre respeitamos os ritmos e as necessidades daqueles a quem pedimos esse mesmo respeito? Ser mais velho não é estatuto nem garante autoridade. Ter supremacia física também não é argumento, e passar o tempo a dizer ‘sim porque sim!’ ou ‘não porque não e porque sou eu que mando!’ também não é modo de vida. Assim sendo, há pequenos gestos que fazem toda a diferença e um deles é este de dar a prioridade absoluta aos nossos. Por incrível que pareça, se começarmos a desligar ou a não atender telefonemas nas horas mais críticas como o fim do dia, quando voltamos a casa, durante as refeições e nas horas de estudo, bem como ao deitar, os nossos filhos (e os nossos pais, mulheres, maridos e todos os que vivem connosco!) agradecem e mudam. Uns deixam imediatamente de fazer birras, pois passados 10 ou 15’ da nossa atenção, desligam naturalmente e vão brincar ou fazer outras coisas. Outros passam a viver com a certeza de que são ouvidos e atendidos. Outros, ainda, assumem que são realmente a prioridade dos seus pais e isso enche-os de segurança.
Parece fácil demais? Só experimentando e vendo os resultados se percebe que é uma matemática infalível, tipo 2+2=4. Aprendi esta técnica de comunicação parental e confesso que tento cumpri-la, embora nem sempre seja fácil. Mais: aprendi com especialistas em matérias comportamentais que podemos até sublinhar estes pequenos gestos, acentuando o que pretendemos acentuar, que é a certeza de que nada nem ninguém é mais importante que os nossos filhos! Como? Dizendo expressamente e de forma que eles possam ouvir, qualquer coisa do tipo: “desculpe, mas agora tenho que desligar porque estou a chegar a casa e os meus filhos já estão à minha espera!”.
É fácil conferir tudo isto na prática, especialmente se formos coerentes e consistentes neste pequeno-grande gesto e nos mantivermos fiéis à promessa de resistir a trocar prioridades. Posso garantir (através da minha experiência e de muitos outros pais, casados ou separados) que passado pouco tempo os filhos mais pequenos estão a fazer muito menos birras e os mais crescidos estão mais capazes de ter conversas que só temos quando há tempo e disponibilidade para as ter.

 no observador...

nota - e agora não tenho filhos pequenos, mas o sistema é exactamente o mesmo...