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sexta-feira, 11 de maio de 2012

avaliação [exames]... opinião [que convém ler]... de desidério murcho...!

"Estas afirmações são estranhas porque para nós é óbvio que as actividades públicas do pianista e do futebolista não são artificialismos escolares que pouca relação têm com a realidade das áreas respectivas. Se nessas actividades eles não se revelam bons profissionais, não há lugar para dizer que são bons profissionais, proficientes e competentes, mas que falham nessas avaliações públicas.

O que acontece sistematicamente com as avaliações escolares é não terem quase relação com a realidade dos conteúdos e competências da área que visam avaliar. É o caso do exame de filosofia de que
falei aqui: o problema não é tanto ter erros científicos de pormenor (errar é humano, e esses pormenores corrigem-se facilmente); o problema é que a prova não tem quase relação alguma com os conteúdos e competências próprias da disciplina. Na verdade, para responder a grande parte das perguntas, basta saber ler textos em português; e quando isso não acontece, o que está sendo avaliado são competências e conteúdos puramente instrumentais e não finais. É como avaliar um pianista obrigando-o a fazer exercícios de destreza manual, ou avaliar um futebolista pondo-o apenas a correr: quanto a tocar piano e jogar futebol, estas duas competências são meramente instrumentais e seria tolo avaliá-las em exames nacionais precisamente porque ao avaliar as competências finais reais do piano e do futebol estas competências instrumentais necessariamente se manifestam.

Em conclusão, a inquietação que muitas pessoas sentem com os exames nacionais e internacionais, e a que muito responsável e profissionalmente a Helena dá voz na excelente entrevista que deu, resulta de se ter em mente apenas um modelo errado de avaliação. Um modelo em que não é a realidade das competências e conteúdos da área a ditar o que se avalia, mas antes a facilidade de fazer perguntas de pormenor a cujas respostas é mais fácil atribuir notas. Este é um dos problemas centrais da avaliação: há sempre uma tensão entre o que é mais fácil avaliar e o que
realmente deve ser avaliado, tendo em conta os conteúdos e competências próprias da área. E nas avaliações feitas por pessoas não muito competentes profissionalmente na sua própria área avalia-se quase sempre o irrelevante e não se avalia o relevante. As pessoas que vêem isso manifestam então a preocupação a que a Helena deu voz."

aqui.

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