quarta-feira, 25 de julho de 2012

crónica [um tanto ou quanto 'sorumbática'...?]... da educação e desenvolvimento... de maria filomena mónica...!

"TODOS os dias surgem notícias de que há licenciados escondendo as suas habilitações a fim de arranjar trabalho. Não me venham dizer que não preveni os meus compatriotas: fi-lo, não uma, nem duas, mas uma centena de vezes. De quê, perguntar-me-ão? Dos perigos de se imaginar que mais escolaridade significava automaticamente mais desenvolvimento. Acredito que o engº Sócrates e o Doutor Cavaco Silva – à sua maneira, ambos analfabetos – não me tenham lido, mas lamento que a elite intelectual não dedicasse algum do seu precioso tempo a reflectir sobre a relação entre escola e crescimento. Só a Historia é capaz de explicar os motivos por que um país se desenvolve e por que outro estagna, mas em vez de assim terem analisado a questão, os políticos preferiram olhar devotamente as correlações que um punhado de economistas lhes pôs diante do nariz. O resultado está à vista: os adolescentes estão desesperados, os seus pais melancólicos e Portugal inteiro atónito.

Quem imaginou que o desenvolvimento económico se obtém apenas aumentando a escolaridade – a proverbial tese da esquerda – estava enganado. Em 1909, Léon Poinsard, um pioneiro da Sociologia, veio a Portugal. A conclusão a que chegou foi a seguinte: «A nação portuguesa é pequena e, além disso, pobre». Em grande medida, o diagnóstico mantem-se. Com raras e nem sempre honrosas excepções, a atitude oficial foi a de que o atraso nacional derivaria da existência de uma mentalidade retrógrada, susceptível de ser tratada a doses crescentes de instrução. A ser isso verdade, o recente investimento público no campo da educação deveria ter dado frutos. De facto, nos quarenta anos, entre 1970 a 2010, a percentagem do PIB conferida ao sector passou de 1,5% para 5%, um aumento significativo. E que vemos? Uma crise sem precedentes.

Num livro intitulado «Does Education Matter?», Alison Wolf critica os mitos relacionados com a educação, comparando dois países - o Egipto e a Coreia do Sul – que haviam investido somas avultadas neste sector. No final, verificou que tinham obtido taxas de crescimento bastante diferentes: entre 1960 e 2000, o primeiro apenas crescera 2% ao ano, enquanto, no segundo, a taxa ascendia a 7%.

Deus, ou alguém por Ele, dotou-nos de um solo infértil, de rios pouco navegáveis e de um mercado nacional desprezível. Isto para não falar da classe dirigente. Basta recordar D. Afonso Henriques, um jovem, como hoje se diria, problemático, para se notar quão antigo é o problema. Passada a febre do oiro, do incenso e da mirra, logo o dinheiro começou a rarear. Em 1974, o país estava, como de costume, na chamada cauda da Europa.

A terminar, peço que não me venham maçar com a acusação de que defendo o analfabetismo. O que digo, o que sempre disse, foi que a escola pode, e deve, oferecer muitas coisas, mas que, por si só, não conduz à riqueza das nações. Quem tal apregoou devia ser investigado pela DECO
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Expresso de 21 Jul 12

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