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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

opinião... (da) colocação de professores [por via da atribuição do nobel da economia]... de ricardo reis... no dinheiro vivo...!

"Se temos dez bens, como devemos distribui-los por uma população que os deseja? Num curso de economia aprende-se que é esta a função do mercado. Mas há diferentes "mercados". No mercado clássico, os bens são todos iguais, expostos no mesmo local, e por isso vendidos ao mesmo preço. Para algumas pessoas, o bem vale 100 euros, para outras vale 90 euros, e por aí diante. Se para a décima pessoa em ordem decrescente de valor, se este for 70 euro, então é esse o preço final do bem. O preço é só um e ficam a ganhar todos para quem o bem valia mais do que 70 euros. Esta é uma descrição apropriada do mercado das maçãs ou do trigo. Noutros mercados, a história tem de ser diferente.

Por exemplo, no mercado que distribui os professores do ensino público pelas diferentes escolas, os bens (as escolas) são todos diferentes - na localização, nos colegas, ou nos alunos - e os consumidores (os professores) também têm todos as suas características. Para alguns candidatos, dar aulas de Química aos alunos do 8.o ano na E. S. Augusto Gomes é a primeira escolha; para muitos outros, ensinar Matemática aos alunos do 12.o ano da E. S. da Boa Nova é um emprego de sonho. Neste mercado não há preços, mas antes pares escola-professor.

Uma propriedade desejável de uma colocação é não ser possível que dois professores e dois diretores de escola se encontrem num café e percebam que ficavam os quatro mais felizes se trocassem de lugar. Os economistas dizem que esta colocação é estável. Para muitos, ela é simplesmente eficiente ou justa.

O matemático Lloyd Shapley propôs o seguinte conjunto de regras: cada professor escolhe a sua escola preferida. Os diretores de escola que tiverem mais de um candidato escolhem o que pretendem. Na ronda seguinte, os professores que não foram escolhidos podem propor a sua segunda escolha. As escolas voltam a decidir, podendo as que já tinham um candidato trocá-lo por uma nova oferta. As rondas continuam até todos os professores estarem colocados. Shapley mostrou matematicamente que estas regras produzem uma colocação estável.

O economista Al Roth começou com este resultado, refinou-o e aplicou-o. Ele estudou se os candidatos podiam manipular as regras e como evitá-lo. Ele redesenhou as regras para que o processo fosse mais rápido com menos rondas. Ele ajustou o mecanismo às circunstâncias e convenceu pessoas a aplicarem-no na colocação dos médicos em estágios, de alunos a lugares nas escolas, e até de doadores de rins com pessoas que precisam de um transplante. O prémio Nobel da Economia deste ano premiou este trabalho.

O exemplo que dei com os professores não se aplica a Portugal. Os diretores das escolas não escolhem os membros dos seus quadros, mas sujeitam-se às ordens do Ministério da Educação. Impera o modelo soviético socialista de planeamento central em vez da abordagem económica. A investigação de Shapley e Roth não se limita a diagnosticar a injustiça e ineficiência do nosso sistema. A economia oferece também a alternativa para um sistema melhor."

Professor de Economia na Universidade de Columbia, em Nova Iorque

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