"Nos termos da Lei
aprovada pela Assembleia da República, hoje não é feriado nacional. Mas
nem por isso devemos deixar de assinalar o aniversário da revolução de 5
de outubro de 1910.
Fazemo-lo com a convicção de que esta data
constitui um momento de reencontro com os valores republicanos e com os
princípios que, há mais de cem anos, levaram à instituição da forma de
Estado que hoje é a nossa: a República Portuguesa, independente e
soberana.
O sonho dos que fizeram a revolução de 1910 mantém-se
vivo, naquilo que tinha de mais profundo e de mais perene: os ideais do
civismo e da ética, o triunfo da igualdade de oportunidades, a
valorização do mérito e do trabalho em detrimento das prerrogativas de
nascimento ou dos privilégios reservados apenas a alguns.
Nos
nossos dias, como há mais de cem anos, permanece atual o princípio
republicano segundo o qual o exercício do poder deve ser colocado ao
exclusivo serviço do povo, nunca para benefício de interesses
particulares, mas sim em prol de toda a coletividade.
Na
República, não há cidadãos de primeira nem de segunda. Na República,
vigora a regra da inclusão plena: ninguém pode ser privado dos seus
direitos de cidadania, seja no plano político, seja no plano económico
ou social. Trabalhadores no ativo ou reformados, jovens ou idosos,
homens ou mulheres, empregados ou desempregados, todos são cidadãos de
pleno direito – e devem ser tratados como tal, no respeito pelos
princípios da igualdade e da dignidade humana inscritos na nossa Lei
Fundamental.
Por outro lado, se todos somos cidadãos iguais nos
direitos que temos, ninguém está acima da lei e dos imperativos
patrióticos de cidadania. Ninguém pode eximir-se do dever de contribuir
para o bem comum, sobretudo nos momentos em que todos, sem exceção,
somos chamados a fazer pesados sacrifícios, em nome de um futuro melhor
para Portugal e para as gerações vindouras.
Precisamente por isso,
os valores republicanos devem ser interiorizados pelos Portugueses e
concretizados no seu dia-a-dia, com maior empenho e mais produtividade,
com um cuidado acrescido na educação dos seus filhos, com um sentido
cívico mais profundo de participação na vida democrática.
É essencial que os cidadãos tenham um forte sentimento de pertença à Res Publica. Portugal somos todos.
É imperioso mantermos a coesão da nossa República, bem como a confiança dos Portugueses nas suas instituições.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Numa
República, ninguém está acima da lei e dos deveres de cidadania. Daí a
necessidade de não baixarmos os braços na defesa da ética republicana e
dos valores da integridade, prevenindo e combatendo a corrupção ou
situações menos transparentes de relacionamento entre o poder público e
os interesses privados.
Mas, do mesmo modo, numa República ninguém
possui o monopólio da ética, ninguém pode arvorar-se em proprietário da
moral pública. Nas conjunturas de crise, há sempre quem pretenda
cultivar e tirar proveito de sentimentos adversos às instituições,
contribuindo de forma irresponsável para aprofundar o distanciamento e o
desinteresse dos cidadãos pela vida coletiva de uma República a que
todos pertencemos.
É essencial criarmos as bases de uma cidadania
mais esclarecida e mais informada. Nesse contexto, não só os governantes
têm um especial dever de informação junto dos cidadãos, como a
sociedade civil e a comunicação social devem ter consciência das suas
responsabilidades.
A escola é o espaço de formação da cidadania
republicana. É na escola que se concretiza, desde logo, o ideal
republicano do sucesso pelo mérito e pelo trabalho.
A exigência e o
rigor no ensino são, na sua essência, valores profundamente
republicanos. O facilitismo na avaliação de alunos e docentes favorece o
privilégio e acaba, de facto, por promover a desigualdade.
É num
contexto de exigência que se distingue o mérito e o talento, que se
recompensa o esforço e o empenho em saber mais. A defesa da qualidade do
ensino, a busca da excelência e o reconhecimento do papel
insubstituível dos professores correspondem a princípios essenciais de
um civismo mais esclarecido, mais informado, mais amadurecido.
Numa
República, a escola é o mais importante instrumento de mobilidade
social. É através do saber e do conhecimento, avaliados objetivamente,
que se combate a tendência para perpetuar desigualdades fundadas nas
origens sociais de cada um. Se o ensino perder critérios de exigência e
rigor, serão penalizados, em primeira linha, os alunos de mais baixos
recursos, aqueles que só através da educação e do mérito podem progredir
na sua vida escolar e, mais tarde, na sua atividade profissional.
No
entanto, o saber e o conhecimento não podem ser encarados apenas como
um meio de promoção social ou como um fator de empregabilidade. Se o
mérito escolar promove, indiscutivelmente, o sucesso profissional, a sua
importância vai muito para além de uma visão meramente instrumental do
conhecimento, da ciência, da cultura.
Na verdade, a cultura tem um
valor intrínseco enquanto forma de enriquecimento espiritual de cada
um. Daí, em particular, a importância de valorizarmos o conhecimento da
nossa História, de salvaguardarmos o património que herdámos do passado,
de cumprirmos um dever de memória perante as gerações que nos
precederam.
Numa democracia, a memória coletiva, justamente porque
é coletiva, constitui um património de todos. Numa República, a
História não é monopólio de ninguém. A História é uma narrativa aberta,
que todos são chamados a estudar e conhecer.
Em nome de uma
República vivida em democracia e em liberdade, temos de dar a conhecer o
passado, sem que isso implique alimentar versões oficiais da História
ou nacionalismos passadistas, próprios de regimes autoritários como
aquele a que pusemos termo em abril de 1974.
No próximo ano,
iremos celebrar o quadragésimo aniversário do 25 de abril. Juntamente
com o 5 de outubro, a revolução de abril constitui um dos lugares de
memória da nossa democracia, que devemos preservar e legar às gerações
futuras.
Devemos ter presente que, da mesma forma que nenhum de
nós viveu o 5 de outubro de 1910, milhares e milhares de portugueses já
nasceram após 1974. A relação que mantêm com o 25 de abril tem
afinidades com a perceção longínqua que muitos de nós temos do 5 de
outubro.
É essencial, neste contexto, revitalizar a mensagem de
1974, naquilo que ela tem de comum com a mensagem de 1910: a aspiração
por um Portugal mais livre e democrático, mais justo e desenvolvido.
Evocando essa esperança de liberdade e de justiça, saúdo todos os Portugueses neste 5 de outubro de 2013.
Obrigado"
para quem goste de ver [ouvir]... fica aqui o vídeo...
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