terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

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Expresso
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Bernardo Ferrão
Hoje por Bernardo Ferrão
Editor

 
10 de Fevereiro de 2015
 
Grécia: uma ponte para lado nenhum
 
Bom dia,

Cheira a queimado. E não é pouco. A frente de fogo que arde na Grécia está a tornar-se incontrolável. São dias tremendos para a Europa. Haverá saída?

A semana é decisiva e o relógio corre acelerado. Faltam 24 horas para o Eurogrupo e 48 para a Cimeira. Mas as cartas já estão (quase) todas na mesa:

- A Alemanha mantém o seu “nein” e garante que não há “programas-ponte” para lado nenhum;
- Alex Tsipras faz voz grossa e quer que os bancos centrais devolvam 1,9 mil milhões de “lucros” que terão ganho com a dívida grega;
- O ministro da Defesa (dos Gregos Independentes) assegura que se não houver acordo, a Grécia tem um plano B (" a ajuda pode vir dos EUA, da Rússia, da China");
- O ministro dos Negócios Estrangeiros grego vai ao Kremlin na véspera do Conselho Europeu.
- Juncker avisa que a Atenas não deve assumir que a Zona Euro vá aceitar exigências;
- Portugal e Irlanda lembram que se houver alguma coisa, terá de ser para todos;

Nesta escalada, o “Grexit” (saída da Grécia da Zona Euro) volta a ganhar força. Estará a UE a brincar com o fogo como ameaçou Varoufakis? A Moody's baixou o rating de cinco bancos gregos, o dia foi agitado para as bolsas e para as yields das obrigações gregas. Madrid e Milão caíram cerca de 2%. A City de Londres começa a fazer contas. O Telegraph revela que no nº10 de Downing Street já se desenha um plano de contigência para preparar o “Grexit”. A pressão é enorme e Varoufakis, que ontem foi aplaudido de pé no parlamento em Atenas, não alivia: “Se a Grécia cair, o euro vai colapsar.”

Sobre esta hipótese da saída da Grécia, sugiro-lhe a entrevista a Philippe Legrain no Expresso Diário. O economista britânico acredita que o “bom senso prevalecerá”. E, na verdade, nem tudo é negro para os homens de Atenas. Os helénicos ganharam entretanto um novo amigo, a Áustria. Em Viena, o chanceler Werner Faymann pôs o dedo na ferida e criticou a atitude alemã do “wait and see.”

Em paralelo com a Grécia, a Europa tenta encontrar um caminho de paz para o conflito na Ucrânia. Quarta-feira, Minsk volta a ser palco da diplomacia. Mas Obama já assumiu, depois do encontro com Merkel, que armar a Ucrânia pode ser uma opção. Para já, os líderes europeus decidiram adiar por uma semana a entrada em vigor de novas sanções à Rússia.

OUTRAS NOTÍCIAS
O Governo quer devolver antecipadamente 14 mil milhões de euros, mais de metade do empréstimo do FMI, no prazo de dois anos e meio. O reembolso será discutido amanhã no Eurogrupo.

No Parlamento, continuam as audições do inquérito ao BES/GES. Os trabalhos arrancam com Stock da Cunha, presidente do Novo Banco. À tarde será a vez de Rui Guerra, ex-presidente do BESA.

Em Viseu começa o julgamento de Manuel Pinto Baltazar, mais conhecido por Palito, suspeito de ter matado duas mulheres e ferido outras duas em São João da Pesqueira, em abril do ano passado.

Em Espanha, o 'Podemos' “contratou” Falciani - o informático franco italiano, que revelou o esquema internacional de evasão fiscal que envolve o HSBC - para fazer um relatório sobre medidas de combate à fraude e evasão fiscal. O “swissleaks” (mais de 200 clientes portugueses) foi tema no Expresso Diário.

Nos EUA, e depois da decisão do Supremo Tribunal, os homossexuais já se podem casar no Alabama (um dos estados mais conservadores).

O grupo extremista Boko Haram sequestrou um autocarro nos Camarões. Vinte pessoas foram raptadas e 12 mortas.

Na Venezuela, o país onde há filas para tudo, os preservativos e pílulas anticoncepcionais tornaram-se um luxo escasso (já se fazem encomendas nas redes sociais). A Bloomberg diz que uma caixa de 36 preservativos custa 4760 bolívares, quase o salário mínimo, cerca de 650€ no câmbio oficial ou 25€, no mercado negro. As ONG alertam: "Na América do sul, a Venezuela tem o 3º maior índice de infeções de sida por habitante e uma das mais altas taxas de gravidez na adolescência".

FRASES
“É um horror o estado a que chegam alguns. Derrotem as pessoas pelas políticas desastrosas que praticam. Por favor, não entrem no justicialismo barato e vingativo”Isabel Moreira no Facebook, numa publicação intitulada “E agora, Ana Gomes?”

“Isabel Moreira que me ataca por tentar expor corruptos no [caso] dos submarinos era a mesma que assessorava Luís Amado para impedir o inquérito [sobre] os voos tortura CIA?”resposta de Ana Gomes a Isabel Moreira 

O QUE EU ANDO A LER

Eu sei que hoje é terça-feira, mas deixem-me voltar a sábado para vos dar conta das minhas leituras. É que este fim de semana, os problemas em Angola, motivados pela forte queda do preço do petróleo, voltaram ao caderno de Economia do Expresso. O Estado angolano quer agora recorrer a títulos da dívida pública para pagar as contas em atraso aos fornecedores portugueses. De Luanda chegam cada vez mais relatos (ou desabafos) preocupantes. E não é para menos, como nos conta este trabalho do Publico, "a descida acentuada das receitas com petróleo está a provocar o segundo choque económico em Angola desde 2009. Portugal, como principal fornecedor, enfrenta desafios como descidas nas vendas, cancelamentos de obras e mais atrasos nos pagamentos."

No final de janeiro, a Visão numa grande reportagem sobre as consequências desta crise do "petro-dolar", sublinhava o "fim do El Dorado angolano". Por tudo isto, já se fala de um novo adeus a Angola. Precisamente numa altura em que se assinalam os 40 anos dos grandes retornos para a metrópole em plena descolonização (aconselho este conjunto de artigos da Helena Matos).

É evidente que, apesar das situações de ansiedade e preocupação que agora se vivem (que alguns consideram exageradas), não há comparação possível com os dramas de desespero e violência vividos em 1975. O relato impressionante de Dulce Maria Cardoso no seu livro "O retorno" dá nos conta disso mesmo. As quase 300 páginas contam-nos a história de Rui e da sua família que embarcaram na ponte aérea para Lisboa, e não tendo para onde ir, acabaram num quarto de hotel de 5 estrelas carregado de retornados (a imagem da queda do Império). Publicado em 2011, pela Tinta da China, este é daqueles livros que não conseguimos largar. Comovente e tão cheio de realidade. É o que ando a ler.

Antes de terminar, e mudando de assunto, deixem-me recomendar a entrevista a Nuno Teotónio Pereira na Revista E (do Expresso) feita pelo José Pedro Castanheira. A arquitetura sempre marcou a minha vida (sou filho de arquiteto - Bernardo Ferrão, 1945-2004, FAUP) e, por isso, não pude deixar de ler este relato na primeira pessoa de um percurso invulgar não só nas artes, como nas relações com a política e com a religião.

Para quem não sabe Teotónio Pereira, que conta que Nuno Portas (pai de Paulo Portas) foi o arquiteto com quem mais gostou de trabalhar, é um nome maior da arquitetura portuguesa (quatro Prémios Valmor). Foi ele o autor do incrível edifício “Franjinhas” em Lisboa e de tantos outros projetos emblemáticos. Fez 93 anos, está cego mas mantém a barba que deixou crescer em 1963 depois de uma visita a Cuba onde ouviu Fidel e o Che. Hoje diz que a arquitetura é “demasiado dominada pela imagem”. Entrevista obrigatória.

Por hoje fico por aqui. Agasalhe-se porque lá fora continua um frio de rachar (nunca mais é verão!). E não se esqueça que amanhã o Expresso Curto é tirado pelo Ricardo Costa.  Até lá estamos no Expresso Online e às 18h00, como sempre, no Expresso Diário.

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