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"Está há mais de 40 anos na escola pública. E garante que o ensino regrediu para condições iguais às que teve em aluno
Paulo
Guinote lançou o blogue “Educação do meu umbigo” quando percebeu que,
entre as guerras do ministério e dos sindicatos, os professores
precisavam de voz própria. Quase dez anos depois, decidiu encerrar
aquele que se tornou um espaço de debate, mas também de denúncia e
desabafo para quem vive na – e da – escola pública. Explica que o fez
para proteger a sua própria sanidade.
Todos os dias partilhava ideias e críticas no blogue em sequência. Já está em ressaca de escrita?
Não, não. A decisão já tinha sido pensada com alguma antecedência e foi sendo adiada.
E acaba porquê?
Este modelo de escrever todos os dias quando a actualidade se começa a
repetir cada vez mais e as pessoas são sempre as mesmas, o discurso é
sempre o mesmo, fez-me sentir repetitivo.
Numa entrevista que deu recentemente pareceu estar desiludido, cansado...
É uma mistura de tudo. Houve uma altura em que se sentiu que talvez
fosse possível mudar a forma como se discutia a educação. Passado um
punhado de anos, percebi que é como a história do pântano: há umas ondas
e depois começa a acalmar, até que olhamos à volta e estamos iguais ao
que estávamos há dez anos. Eu era mais um que andava aqui no meio.
Foram inquietações pessoais que o levaram a escrever?
Sim. A ideia era pôr textos sobre história da educação. Mas eu estava
de licença para a tese e a minha mulher chegava a casa e começava a
falar sobre o que se passava na escola. Depois comecei a ler o estatuto
da carreira docente, já em Maio de 2006. Estava a chegar à actualidade
nessa altura e a analisar os documentos dos anos 90. Comecei a fazer a
relação e a perceber as mudanças que se estavam a preparar. Pensei que
os professores estavam mal entregues.
Em que sentido?
A greve às avaliações correu muito mal e nós corremos o risco de ser
completamente cilindrados. Não é que um blogue fizesse grande diferença,
mas queria deixar a minha posição clara em termos públicos.
Além da análise que vai fazendo, há desabafos de professores, denúncias.
O final de 2007 e o início de 2008 são decisivos. Houve, em algumas
escolas, reuniões de pessoas não alinhadas com as posições oficiais e
começou a haver uma rede de contactos, a partir de pequenos blogues,
conhecimentos.
De professores?
Sim, de vários pontos do país. Na minha escola, em Janeiro de 2008,
reunimos professores que vieram desde o Alentejo até à zona de Coimbra.
Juntámo-nos, cerca de 30 pessoas, para perceber o que podíamos fazer
para contrariar a falta de representatividade. Há pessoas que avançam
para os movimentos independentes de professores, outros criam blogues e
alguns criaram nas escolas aquilo a que chamo sovietes, para preparar a
revolta. A minha ideia era a de que tudo isso não serviria se não
conseguíssemos passar para a comunicação social a mensagem de que não
somos nem assalariados do ministério nem joguetes dos sindicatos.
Tínhamos de mostrar que havia uma identidade própria, que não queremos
apenas os nossos privilégios.
Que não corporativistas?
Sim, mas com isso lido bem. Gosto até do termo. A certa altura assumi
o epíteto como uma coisa positiva, porque alguém tem de sê-lo.
Os sindicatos não vos representam?
Ser professor não passa apenas pelos direitos laborais que os
sindicatos defendem. Há outras questões práticas que só podemos defender
a partir de quem está na escola a tempo inteiro. Naquela altura
sentimos um défice de representação nas figuras tradicionais dos líderes
sindicais, que não sentimos como professores. Tinham posições demasiado
políticas e tácticas e com modelos de intervenção herdados de outro
tempo.
A Fenprof está comprometida?
Segue um esquema de intervenção. São estratégias que nem sempre
atendem às posições das salas dos professores. Nunca vi sair de uma
reunião sindical uma posição diferente daquela que lá chegou para ser
aprovada.
É a crítica de imobilismo que a própria Fenprof aponta ao governo.
É igual dos dois lados. Podemos estar próximos da posição sindical, mas nem uma nem outra reflectem o que queremos.
É
preciso uma gente com uma voz diferente que faça os dois lados
reconsiderarem as duas posições – e os movimentos independentes
conseguiram que a Fenprof, a dado momento, tivesse de mudar de
estratégias.
Que visibilidade alcançou no Umbigo?
O pico deve ter sido entre Março de 2008 e o fim de 2009, com uma entrada de 20 a 30 mil visitantes individuais.
Por dia?
Sim, o que dava cento e tal mil visitas.
Sentiu o peso dessa responsabilidade?
Temos sempre de funcionar sem pensar nisso. Senão, podemos entrar na
jogada dos compromissos. Por isso é que nunca quis publicidade. O blogue
chama-se “O meu umbigo”, é claramente uma coisa narcísica, pessoal.
Acusam-
-me de ter um ego desmesurado. Eu digo que tenho corpo para ter um grande ego, mas a ideia era ter ali a minha opinião.
O fim do blogue é também o fim de um espaço de debate e denúncia. Preocupa-o que assim seja?
Há outras formas de o fazer. Não me preocupa porque, em primeiro lugar, nada pode depender apenas de um blogue e de uma pessoa.
Isso não é nada narcisista.
Eu não sou salvador de nada, não tenho um complexo messiânico. Não
fujo ao confronto, mas também não tenho um partido nem um sindicato por
trás para, quando as coisas correm mal, estar lá o advogado.
Nunca pensou duas vezes a publicação de um texto, aquela sensação de estar a ir longe de mais?
Em alguns momentos achei que estava a ir longe de mais para o meu
próprio bem, estava a correr riscos muito altos. Quando confiscam os
computadores do blogue “Portugal Profundo”, avisei a minha mulher para
não se admirar se a polícia entrasse em casa e levasse as coisas.
Achou que podia chegar a esse ponto?
Sim, porque houve uma fase crítica em que o facto de o meu telemóvel
se ter tornado público – e nunca o mudei – e de ter o nome na lista
telefónica, sem nenhuma confidencialidade, fez com que tivesse
telefonemas às mais variadíssimas horas. Às vezes, só para me acordar às
tantas da manhã. Muitas chamadas desconhecidas.
E ameaças concretizadas?
Nunca passava da alusão. Chegou ao ponto de ligarem para a minha
mulher e dizerem: “Avisa o teu marido que, qualquer dia, ele sai da
escola e não sabe o que lhe acontece.” Mas isso são coisas que não me
preocupam muito.
É uma questão de fé? É religioso?
Não, não sou. Mas há a lei de Murphy: o que pode correr mal começa a
correr mal. E sou pessimista. Mas se não correr tão mal quanto isso,
fico satisfeito. Em alguns momentos senti devassa da minha vida privada e
sei que ela foi feita, mas nunca pensei que chegasse ao ponto muito
problemático para mim. Se chegasse, teria de encarar a situação.
Essas pressões tinham um objectivo.
Desmoralizar ao ponto de amaciar. Uma coisa é a intervenção sobre
mim, outra é ligarem para a escola da minha mulher, sabendo o horário
dela, ou irem para blogues anónimos onde diziam o pior de mim. Fizeram
alusões a pressões minhas sobre directores por causa da avaliação da
minha mulher, fizeram-se passar por encarregados de educação e ligaram
para a minha mulher. Esse tipo de intervenção começou a dar-me um certo
nojo. Uma coisa é enfrentar directamente as pessoas, outra é atacar quem
está à volta. Por isso nos perguntámos até que ponto estávamos para
aguentar aquilo. Mas, se cedemos, damos razão a quem nos faz pressões.
Nunca teve medo de que as alusões se concretizassem?
Tenho a vantagem de ter crescido em meados dos anos 70 na Margem Sul.
Aquilo por que passei e que vi enquanto aluno fez-me encarar muitas
coisas em perspectiva.
O meu pai foi do Partido Comunista até
morrer, em 2008, e eu sempre soube – pelo desagrado que sentia face a
algumas estratégias do ramo político – como funcionam as cartilhas de
intervenção que se aprendem nas jotas. Sei que a única hipótese é
resistir e não ceder. O que de pior me podia acontecer? Darem-me uma
tareia? Tudo bem, aguenta-se. Desmoralizarem-me publicamente? Com quê?
Escrevo de forma pública sobre certas pessoas, sabia que teria de haver
reacção do outro lado.
O que diz de nós enquanto sociedade esse tipo de ameaças de que era alvo? Questionou-se sobre isso?
Muitas vezes. E foi contra isso que, certas vezes, escrevi. Não
aceito esta forma de fazer as coisas, não aceito que determinadas
pessoas me aparecessem em casa, fazendo-se passar por amigos ou amigas,
quando apenas iam saber informações. O blogue promoveu almoços e
jantares e eu sabia que havia ali pessoas que só estavam para ver quem
estava. Para transmitir informações para fora.
Quem ler o que diz vai pensar que não passam de teorias da conspiração.
É assim que as coisas se fazem. Fui muitas vezes criticado por ter
aceitado ir jantar a um encontro de bloggers com o actual
primeiro-ministro, antes de ele o ser. Não temos de dizer mal das coisas
antes de as conhecermos. Não sou dos que diz que, por alguém ser deste
ou daquele partido, não aceito as opiniões dessa pessoa. Naquele jantar
quis perceber se as coisas funcionavam como eu supunha. Não é nenhuma
conspiração, é como as coisas se fazem. O aliciamento das pessoas, a
rotulagem é feita como eu sempre calculei que eram. O mundo funciona
como eu acreditava.
O fim do blogue nem foi uma desilusão. Já conhecia as regras do jogo.
Não, não. Não queria dar a sensação de que estes anos foram um imenso
perigo. Apesar de tudo, temos brandos costumes. Tudo isso apenas
assusta quem é assustável. E nunca foi feito nada muito grave de
concreto. Nunca houve aliciamentos pornográficos.
Nem de sindicatos nem de partidos políticos?
Dos partidos políticos, nunca. Normalmente perguntavam a pessoas
minhas conhecidas o que eu acharia de participar numa lista. Quem me
conhece dizia logo: “Nem te metas com ele, não te chegues a isso.” Houve
muita gente que acabou por ser enquadrada, mas quem entrou genuinamente
nunca alinhou nisso.
Que marcas ficaram desse período com Maria de Lurdes_Rodrigues no Ministério da Educação?
Mói muito o desânimo que vi em muita gente, a forma como muita gente
quebrou durante aqueles anos. Por isso é que nunca perdoarei àquela
ministra nem àquele primeiro-ministro. É impossível perdoar--lhes o mal
que eles fizeram, em termos psicológicos, a muita gente. Podia ter-se
feito quase tudo o que se fez sem aquela atitude de confronto: “Vamos
partir a espinha aos sindicatos.” Quando se faz uma acusação
generalizada a uma classe – no caso, os professores –, quando se cria um
clima em que os alunos começam a olhar para nós como se fôssemos muito
maus, como se só servíssemos para gastar dinheiro...
Criou-se uma imagem social dos docentes muito negativa.
Muito negativa. Mas os modelos que a ministra criou fizeram com que
as más práticas, desde que obedeçam às ordens do chefe, fossem mantidas.
As pessoas com o mínimo de consciência ou foram embora ou ficaram nas
escolas sem poder sair, numa situação de completa claustrofobia. Daí
aquelas manifestações. Nunca tinha havido uma manifestação daquela
dimensão. Acho que ninguém percebeu o grau de ofensa que aquilo produziu
nas escolas. Dentro das escolas, os anos 2008 a 2010 destruíram quase
por completo, psicologicamente, metade dos professores. Sentiram-se
socialmente injustiçados, profissionalmente ofendidos e pessoalmente
afrontados.
E conseguiu-se “suavizar” a classe?
Sim, muita gente saiu, reformou-se. Tem de medir-se a ofensa quando
alguém de quem se diz ser privilegiado prescinde de 30 a 40% da sua
reforma para sair das escolas. Isto está para loucos. Estamos a ganhar
menos, temos mais horas de trabalho e mais alunos nas turmas, temos mais
tarefas extralectivas, esquecendo-se uma coisa muito simples: o
desgaste diário.
De que resulta esse desgaste?
Eu tenho 120 a 130 alunos. Tenho de agir individualmente com todos
eles. Mas tenho colegas com mais de 200 alunos. A necessidade de tomar
decisões, justas, ainda por cima, perante turmas de 25 a 30 alunos, de
hora a hora, sabendo-se que os miúdos chegam lá fora e contam aos pais, e
os pais contam no café, e se eu fizer uma grandessíssima asneira na
sala já toda a gente sabe...
Preocupa-o a escola pública de hoje?
Preocupa-me muito.
A escola que devia formar cidadãos.
Se vivemos numa democracia e temos aquelas conversas muito bonitas
sobre a escola como laboratório da democracia, temos de exemplificar,
pelo funcionamento da escola, essa democracia. Ora, a democracia não é a
pura igualdade. As funções de cada pessoa devem ser respeitadas e
dentro desses papéis todos terem a sua palavra, a sua forma de estar e o
reconhecimento dos seus direitos e deveres. Mas perdemos a noção das
fronteiras dentro da escola.
Perdeu-se a autoridade?
Os anos 80 e 90 foram os do eduquês e do discurso fofinho._Eram todos
pares nas aprendizagens. Está bem. Se eu for aluno, posso encarar-me
como par de quem me está a ensinar, mas a pessoa está a ensinar--me e eu
estou a aprender. O problema é que essa fronteira se diluiu para os
alunos que foram criados nesse discurso e que agora chegaram a
encarregados. Alguns perderam a noção de que a escola não é um sítio
onde apenas se deixam os miúdos a entreter tempo. Eles têm de fazer
algum trabalho, seguir regras. A vida em comum tem regras. A solução não
é o autoritarismo, que não é o mesmo que autoridade. E essa tem de ser
reconhecida pelos outros. Alguns conseguiram conquistá-la pelo exemplo.
Há professores que não servem?
Exacto. Há excelentes transmissores de conhecimentos, mas que são péssimos nas relações humanas.
Isso é conciliável?
Há que perceber que há estilos diferentes. Se este professor tem um
estilo e aquele tem outro, tem de respeitar-se a diferença, tal como o
professor tem de respeitar as diferenças entre os alunos.
O que levou a ser professor?
Depois de experimentar várias alternativas profissionais, cheguei à conclusão de que era numa sala de aula que me sentia bem.
Quantos anos tem de ensino?
No mês passado fez 28 anos que comecei a dar aulas. De forma
ininterrupta, 23 anos. Se juntar os anos de aluno, são 44 anos. Estou
numa escola ininterruptamente desde 1971. Já deu para ver muita coisa.
Alguma vez a escola esteve tão mal?
Uma das coisas que mais me custa é que a minha filha tenha de passar
por condições similares às que eu passei. Isto tornou-se, em alguns
aspectos, tão mau como nos tempos em que era mau. A minha filha, no
sexto ano, tem turmas maiores do que as que eu tive em 1976. Tem
condições na escola – que não é intervencionada pela Parque Escolar
porque eu não vivo numa cidade onde foi feita uma escola para as elites –
em que é preciso pôr papel pardo nos vidros por causa do sol. Em 2015, a
minha filha tem piores condições de trabalho do que eu tive em 1975.
Não é que esteja pior do que já foi. Mas a tendência normal é de que as
coisas melhorem ou estabilizem. Estamos a ter uma involução que nos está
a reconduzir a situações a que não assistia, pelo menos, desde os anos
80.
Um dirigente do Conselho Nacional de Educação dizia-me há
dias que não há ninguém a pensar a escola pública em Portugal. O
problema está aí?
O que é a escola do futuro, as learning streets? É como vemos os
finlandeses, nas escolas mais belas do mundo, com o seu portátil? Então
não posso ter uma profissão com 1100 minutos de aulas para dar. Podemos
dar aulas abertas, mas imediatamente esbarramos com a burocracia do
horário e das centenas de metas de aprendizagens.
Então o que será a escola do futuro?
Gostaria que fosse uma escola em que os alunos chegassem à porta
alimentados, sem pais desempregados – agora é a minha faceta comunista. A
escola não pode resolver do portão para dentro todos os problemas que
os miúdos têm quando lá chegam. Se me chegam miúdos cheios de fome e à
espera do lanche que a escola lhes arranja, se a família está em
situação de desemprego, se os irmãos estão em situação de criminalidade,
a escola do futuro nunca vai ser construída sobre as bases ideais e
utópicas. Gostava que tivéssemos atingido um estado de desenvolvimento
em que a sociedade permitisse que essas condições existissem e a escola
reproduzisse um determinado clima e ambiente mental que fizesse com que
as gerações seguintes já estivessem adaptadas ao funcionamento dessas
escolas. Não é a partir de uma reforma que se muda a escola. Devemos ver
o que está a correr mal e fazer subir essa parte. Melhorando o que está
pior, empurramos o resto. A escola tem de ser pensada de forma
integrada, mas cada ministro chega e faz a sua reforma. A escola do
futuro vai ser esquelética.
Hoje já nem sequer é expectável que se façam reformas consensuais.
Ninguém está preocupado com a escola pública. Estão preocupados com o
seu mandato. Discutimos a escola pública com ministros do passado. E o
que lhes pergunto é: “Quando lá esteve, não fez isso porquê?” A resposta
é sempre: “O poder das corporações, o monstro do ministério.” Mas o que
quer isso dizer? Pensaram dirigir-se às escolas? Não há nenhuma reforma
que tenha sucesso em que os implementadores no terreno estejam em
desacordo com ela.
A escola pública é mais desigual?
Completamente. Temos liceus de elite nos centros urbanos, com
condições de primeiro mundo, e escolas com problemas como não poder
mudar estores, com portas partidas... Quando se aplicam mecanismos de
concorrência à escola pública dentro dela própria, temos professores de
fora a virem às aulas de nono ano angariar alunos.
É uma diferenciação que se estende, por exemplo, aos cursos vocacionais.
O ensino vocacional serve para limpar pautas. Este ensino não foi
criado para qualificar a população nem para lhe dar saídas
profissionais. Criaram estes cursos para limpar das turmas regulares os
alunos indesejáveis. Isso produz sucesso nas estatísticas oficiais. Não
esperava isto de Nuno Crato. Esperava que lidasse com os problemas de
frente.
E sobre o sucessor?
O António Costa vai buscar um ministro mais fofinho que acaba com os exames e tudo fica na mesma.
A evolução e retrocesso na escola levaram-no a pensar que já bastava? Que não devia ter seguido este caminho?
Nunca pensei que não devia ter vindo por este caminho. Já considerei a
hipótese de ir embora. Eu sei muito bem de que é que gosto. E há poucas
coisas que goste de fazer além de dar aulas. Confesso que a decisão de
acabar com o blogue tem muito a ver com a minha relação com a docência.
Se continuasse a escrever, ia perder o gosto por dar aulas.
Ficava mais áspero.
Sim. Eu gosto muito que os meus alunos me façam caricaturas. Se há um
traço que põem no meu desenho, é o sorriso. No momento em que chegar às
aulas e, durante um dia ou dois, eu não conseguir sorrir com os alunos,
vou embora e nem sequer faço contas com o Estado. Foi sempre o que fiz
noutros empregos.
Isso já esteve perto de acontecer?
Perto, ainda não estive. Mas tinha muito receio de que a minha
atitude crítica em relação às políticas e o facto de escrever
diariamente sobre isso me fosse esvaziando do brilho e empatia com os
alunos. Nunca reflecti muito conscientemente – estou a fazê-lo aqui pela
primeira vez – mas, progressivamente, a escrita e a reflexão diária
sobre educação poderia levar-me a dizer que não quero fazer parte disto.
Essa decisão acaba até por resultar de uma decisão de autodefesa.
Proteger a sanidade com uma pequena dose de loucura."
aqui.
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