Inês Gonçalves é aluna do 12.º ano, tem Português como específica e escreveu uma nota no Facebook, partilhada por milhares, a defender o protesto dos professores. Porque não foi ensinada por “mágicos ou feiticeiros”
Texto de
Amanda Ribeiro •
14/06/2013 - 17:23
Não foi ensinada por “mágicos ou feiticeiros”, mas sim por
“professores”. “Professores” que ensinaram milhares de alunos a serem
“pessoas, seres pensantes e activos, não apenas bonecos recitadores”. Na
noite de quinta-feira, Inês Gonçalves, aluna do 12.º ano, publicou uma nota no Facebook
em que se põe ao lado deles. “Estou convosco”, escreve. Agora, já conta
com mais de seis mil partilhas — e o número não pára de crescer.
“Os professores não fazem greve apenas por eles, fazem greve também
por nós, alunos, e por uma escola pública que hoje pouco mais conserva
do que o nome. Fazem greve pela garantia de um futuro!”, lê-se no depoimento, que está a atingir dimensões surpreendentes para a autora. “Nunca pensei”, confessa. Até porque tudo começou por um desabafo.
Finalista em Artes Visuais da Escola Secundária do Pombal, Inês
estava “farta” de chegar ao Facebook no final de mais um dia de estudo e
ver os seus colegas a manifestarem desagrado em relação à greve dos
professores convocada para 17 de Junho, data do exame nacional de
Português. “Escreviam coisas que nem sempre tinham base argumentativa”,
descreve, ao P3, a estudante que, lendo os comentários, se foi
apercebendo de um certo “clima de egoísmo entre os próprios alunos”.
“Estava mesmo farta”, repete. Por isso, decidiu escrever a pequena
nota que foi, inicialmente, enviada para alguns amigos com quem já tinha
partilhado a ideia. “Para saber qual era o ‘feedback’ e para
conseguirmos um diálogo em torno disso.” Depois, decidiu publicá-la no
Facebook. “Achei que, em vez do ‘boca a boca’ ou dos comentários, o
melhor seria demonstrar a minha raiva em alguma coisa em que pudesse
concluir o que eu pensava.”
Português é a "específica" de Inês
O que foi escrito “para fazer pensar” o grupo de amigos, está agora a
ser partilhado por “alunos, professores, encarregados de educação,
pais, avós, desempregados, precários e emigrantes forçados”, os “reféns”
que a aluna enumera, discordando do “sequestrador” que Nuno Crato designou.
“Está a ter o papel importante de fazer pensar”, espera. “Mesmo que a
greve não tenha resultados práticos — que espero que tenha — está a
fazer reflectir.”
Português é a específica para entrar em Ciência Política e Relações
Internacionais, o curso que quer seguir, mas considera que a
possibilidade de o exame não se realizar na data marca é “um pormenor
mínimo no meio do que está em jogo”. A “instabilidade”, claro, não traz
as “condições ideais para o estudo”, mas Inês recusa dramatizar. “Se o
exame não for feito agora, será depois. Não vamos deixar de entrar na
faculdade, nem ficar no limbo.” É “óbvio” que fará “mossa” na vida dos
alunos, mas “fazer a greve à hora do almoço não teria resultado”. Em
Pombal, muitos alunos terão de fazer quilómetros para o exame e, por
isso, consideram que a greve “é um egoísmo por parte dos professores”.
Inês, no entanto, considera que esses colegas se “focam demasiado no
próprio umbigo” e não olham para as “repercurssões a curto, médio e
longo-prazo”.
Nos três anos de ensino secundário, apanhou mudanças extremas. Só tem
aulas de manhã porque cortaram disciplinas — algumas, considera,
“fulcrais” para quem segue a área. Aponta o dedo ao governo e às
políticas educativas. “Não tenho a menor dúvida de que vamos mal
preparados para a universidade.” Para Inês, que é militante do Bloco de
Esquerda, as declarações em que o ministro da Educação garantiu
que a data do exame não será alterada demonstram “uma imensa
desconsideração pelos professores e alunos” e “contribuem” para toda a
instabilidade. Conta com o “bom senso” de Nuno Crato quanto às
candidatura deste ano à universidade, mas não desespera. “A nossa vida
não vai acabar no Verão.”
in p3, do público...
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