"Os sindicatos dos professores rasgam as suas vestes, enquanto alguns
dos seus militantes têm um comportamento pouco edificante no Parlamento,
dando um péssimo exemplo às crianças e adolescentes que reclamam querer
proteger. Tudo isto, porque o Ministério vai contratar menos
professores, e porque alguns irão ficar sem turmas. Naturalmente, os
professores reclamam que tudo isto irá ter impacto negativo no ensino, e
escandalizam-se por haver turmas que, no limite, poderão ter trinta
alunos. As federações dos paizinhos, cuja representatividade conhecemos,
alinham pelo mesmo diapasão.
Ora, quanto ao número de alunos por
turma, e sabendo que a realidade é hoje bem diferente, nomeadamente no
que diz respeito a disciplina, lembro-me que fiz todo o Secundário em
liceus públicos, e sobrevivi em turmas que por vezes excediam os 40
alunos. Sucede também que no atual ensino privado há escolas que tem 30
alunos por turma, e que nem por isso deixam de funcionar. Não existe uma
correlação direta entre o aproveitamento escolar e o rácio de
professores por aluno. Prova disso é que o ensino não melhorou nos
últimos anos. Bem pelo contrário. Ora, o rácio de professor por aluno é
hoje de menos de metade do que era na década de oitenta do século
passado, porque o número de professores cresceu sempre até 2005 e o
número de alunos tem vindo a diminuir constantemente, sendo hoje cerca
de 2/3 do que era nos anos 80, pelas razões demográficas que tão bem se
conhecem. Perante o problema de natalidade que se vai agravar, seria
sempre impossível garantir emprego a todos os professores, porque não há
matéria-prima que os justifique e sustente. Esta é a realidade nua e
crua e que se sustenta em números: por cada professor, existem, na
escola pública, menos de oito alunos.
Por muito que custe aos
sindicatos, que tantas vezes invocam a Constituição da República, esta
apenas promete que os portugueses terão acesso à educação. Não conheço
nenhum capítulo da mesma lei fundamental que garanta que a escola tem de
assegurar emprego a todos quantos têm formação para dar aulas, tanto
mais que são muitos os professores que tiraram cursos não diretamente
vocacionados para o ensino, como sucede com a Economia, ou com o
Direito.
Por isso, muitos professores terão de procurar outras
oportunidades, ou estarão condenados ao desemprego. Entretanto, os
professores com horário zero irão para uma bolsa de substituição e
depois, nos próximos anos, serão usados para reduzir o número de
contratados. Entende-se que se sintam ameaçados por isso? Claro que sim,
mas dificilmente se compreendem as reclamações dos sindicatos que nunca
se insurgiram no passado contra o facto de haver muitos professores que
gozavam desse privilégio, até porque muitos deles eram, precisamente,
dirigentes sindicais.
O tempo mudou, e não apenas para os
professores. Sucede, contudo, que os problemas do Ensino, e os conflitos
com os professores são um problema endémico e, aparentemente, sem
solução. Tudo isto resulta, como António Barreto explicava, de ser o
Ministério de Educação o único patrão dos professores, o que tem, como
consequência, uma vantagem para os sindicatos e uma desvantagem para o
sistema, em que se incluem professores e alunos. A gestão dos recursos
humanos a partir do Ministério não pode funcionar. Por isso, torna-se
urgente dar maior responsabilidade a cada escola, ou a cada agrupamento,
para que faça as suas escolhas e para que determine o número de
professores de que necessita, em função das suas especificidades. Ou
seja, a Educação precisa de uma organização equivalente àquela que hoje
existe em todos os outros setores do Estado. Nunca se ouvirá o professor
Nogueira reclamar por isso, porque sabe bem que não resulta em seu
benefício. Pelo contrário, espera-se que, um dia destes, os bons
professores, que não compreendem as colocações, que não entendem os
critérios, que são prejudicados pelas regras cegas, que estão fartos dos
paizinhos e da indisciplina, que têm uma vocação que tem sido
desrespeitada e muitas vezes mal compreendida, se organizem e exijam o
fim de um modelo centralista e absurdo."
Sem comentários:
Enviar um comentário