É minha convicção, não apenas pelo que
leio e ouço, mas mesmo por observação directa, que grande parte da
classe política tem um ódio – ou desafeição, para os casos menos graves –
particular pela classe docente, mesmo quando saíram dela ou em especial
nesses casos. É uma espécie de “luta de classes”, num sentido estranho e
algo esquizóide da parte daqueles que parecem querer encapsular-se num
mundo muito próprio de “eleitos” (em vários sentidos). Essa desafeição
ou ódio é partilhado por um conjunto alargado de gente com posições de
relevo na comunicação social. Não vou fazer consultas digitais ao
domicílio sobre as causas. Quando falamos directamente com algumas das
pessoas percebemos a razão, não sendo raro que depois de despejarem a
bílis nos digam que somos, claro, uma excepção à regra.
Isto aplica-se em especial aos que que
acham ser professor@s velh@s e inadaptados ao que eles acham as novas
tendências, seja da pedagogia “progressista” (caso de académicos, em
especial na área das ciências da educação e da formação de professores),
seja da “racionalidade financeira” ou da “nova gestão pública” (caso de
economistas de 2ª e 2ª linha ou transformados em políticos ocasionais
com aspirações a salvar a pátria, desde que paguemos aos bancos os
buracos e as rendas às empresas privatizadas ou parcerias
público-privadas).
Para essa gente – sim, começo a ceder a
uma linguagem mais agressiva perante a nova investida em curso de gente
medíocre com nome no mercado – @s professor@s, em especial @s que
nasceram ali pela década de 60 e inícios de 70, que andam pelos 45-50
anos e ainda não desistiram de resistir, são para exterminar pelo
esgotamento físico e psicológico ou pela humilhação pública. Querem-nos
fora da carreira, para dar lugar aos “novos” que ficarão profundamente
agradecidos pela “oportunidade”, pelo lugar no quadro, que se espera
serem adequadamente desconhecedores do que se passou no sistema de
ensino em outras décadas ou que, pura e simplesmente, se estão nas
tintas para isso, desde que empurrem os “velhos” borda fora. E borda
fora nas piores condições materiais, porque tudo deve ser feito de um
modo acintoso.
Conheci gente assim no PS e PSD, os dois
partidos que têm liderado a governação nos últimos 40 anos, a que se
junta alguma desconfiança do PCP em relação a tudo o que se possa
assimilar a “trabalho intelectual” e a concepções menos indiferenciadas
do proletariado. O CDS gosta de professores, se forem assalariados no
ensino privado, enquanto o Bloco oscila muito, porque há uma grande
diferença entre a velha UDP e os urbanitos do PSR e demais plataformas
criadas com a queda do Muro de Berlim.
Sim, é verdade, tenho uma tendência
esquizóide (a mesma lá de cima) que me faz sentir que a classe docente
não tem qualquer aliado natural nos partidos com assento parlamentar
permanente (nem falo do PAN, para não ser demasiado sarcástico e dizer
que nos defenderão apenas quandoformos assumidamente tratados como
animais), o que devolvo com a minha natural animosidade por todas as nomenklaturas
que trocam quaisquer princípios “fundadores” por conveniências
circunstanciais (sejam de nomeações estratégicas em comissões centrais
ou regionais, seja de distribuição de fundos locais e outras tenças com
origem europeia).
Sim, acredito que a classe docente não
pode ter qualquer esperança numa classe política que se define pela
qualidade/mediocridade de quem promove ou dos métodos que usa para
anular o poder judicial quando lhe chega aos calcanhares. E muito menos
aqueles que, na classe docente, têm idade e ainda têm condições para se
lembrar de onde vieram estes velhos jotistas e o que fizeram em verões
passados.
O que eles pretendem é domesticar qualquer autonomia dos docentes com capacidade crítica, mesmo quando defendem o “pensamento crítico para o século XXI”.
A menos que fiquem caladinhos e sossegadinhos. O “sucesso” e a
“inclusão” são apenas para os humildes e amochadinhos. E não perturbem
os acordos de bastidores ou pressionem os sindicatos para desalinharem
do que estava combinado. E muito menos contestem as “hierarquias”.
Se o fizerem, serão castigados em público
e, por acção ou omissão (dos sonsos e hipócritas que dizem que até
concordam com as queixas dos professores, mas que “é difícil”
satisfazê-las ou fazer qualquer coisa “atendendo às circunstâncias”)
pressionados até não aguentarem mais e depois serem apontados como maus
profissionais, absentistas ou falsos doentes. Infelizmente, cada vez
mais, com a colaboração de kapos locais, inebriados pela insignificância do seu poder na cadeia hierárquica e pela sensação de impunidade.
O Senhor certamente me perdoará a prosa dura no seu dia, pois em nada contraria a sua palavra (Êxodo, 20:16)."
comentário:
desde os primórdios da blogosfera que há vários nomes que tenho guardados, por bons e maus motivos...
é claro que não os vou citar, nem àqueles nem a estes.
mas salvaguardo um, que hoje me merece destaque pelo tórrido texto que produziu no seu 'quintal' e deve (deveria causar) causar 'fanicos' a muito boa gente (como se viu al longo destes últimos anos) - falo do paulo guinote.
o meu agradecimento pela lucidez em pôr, preto no branco, o que muita gente pensa mas não tem coragem, sequer, para verbalizar quanto mais deixar com a sua marca pessoal.
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