segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

leitura... da educação... (das) agenda privadas e corporativas [anseios subliminares... e de economia de escala...?]... 2... via paulo guinote...!

"A cortina de nevoeiro que envolve as opções do Governo em matéria de anunciados cortes, como se fossem algo inevitável e decorrente de uma realidade objectiva e incontornável, não é especialmente densa.

Parece é existir pouca vontade em dissipá-la por parte de muita gente que, mesmo quando critica as opções feitas ou anunciadas, não parece excessivamente interessada em ir até aos detalhes. A razão fundamental é simples, pois há muito que os números se tornaram meros instrumentos de arremesso para justificar opções políticas muito duvidosas e em que demasiada gente está de acordo, apenas tendo este Governo decidido extremar posições por razões puramente ideológicas.

Vejamos o número de 4 mil milhões que se apresenta como algo incontestável para o montante dos cortes a fazer nas funções sociais do Estado e que mesmo na área do PS nem sempre é devidamente contestado 8o Galamba conta pouquinho) na sua formulação, mas apenas nas metodologias para os fazer. O número apareceu no ar pela boca de Gaspar e Passos Coelho, com a aparente chancela da troika e do FMI. Ou seja, pela boca daqueles que mais erraram estimativas, previsões e execuções (a par de Sócrates, mas isso não é desculpa, é ofensa suprema) no nosso país nos últimos tempos. Acho que até a direcção do Sporting não terá feito tão ridícula figura nos últimos dois anos do que o nosso PM, o nosso pausado ministro das Finanças e as instituições debaixo de cuja asa se abrigam sempre que precisam anunciar qualquer coisa (que vai sendo tudo) de negativo.

Qualquer pessoa de bom senso tem razões para duvidar de qualquer número dado das bocas de Passos Coelho e Vítor Gaspar. A sua manifesta incapacidade para lidar com rigor com qualquer realidade quantitativamente enunciável na área das Finanças e da Economia vai-se tornando proverbial. pelo que toda a ladaínha em torno dos 85% (não será 385%, já agora?) de despesa do Estado com funções sociais e de mais 85% de despesas com pessoal, por exemplo, na área da da Educação (não serão 850%?) deveria despertar tédio, bocejo e nula credibilidade.

Mas não… a maior parte de quem faz notícias ou comenta, mesmo quando é contra, assume como bons os números que lhes são fornecidos, parecendo não reparar que estão a fazer algo equivalente a tomar como prosa bela e escorreita qualquer ditado feito por um disléxico profundo durante um episódio vagal. Os números que Gaspar vai debitando fazem-me lembrar, para pior, os horários dos comboios da CP na margem sul durante os anos 80… eram tabelas meramente indicativas, com escassa aproximação à realidade.

E assim vamos acreditando que gastamos e gastámos imenso – acima das nossas possibilidades – em funções do Estado destinadas a facultar serviços públicos básicos e apoios sociais aos mais necessitados.Quando apenas estamos ligeiramente acima da média como se pode constatar na publicação da OCDE Is the European Welfare State Really More Expensive?

Welfare1
Welfare2















Querem ainda fazer-nos acreditar que estamos a fazer um ajustamento similar ao que é feito em outros países, o que é rematada mentira, pois estamos em contra-ciclo com a maioria dos países que aumentaram as despesas sociais para acudir à situação de crise, enquanto nós estamos a fazer exactamente o contrário
Between 2007 and 2010, national aggregates suggest that social spending in real terms increased by 10% or more in most OECD countries, and this increase was 20% or more in Chile, Estonia, Korea, Luxembourg, Spain and the United States. Overall, real spending trends are estimated to be relatively flat from 2009/10 onwards in most countries. Pronounced falls in real social spending after 2008/09 as a result of fiscal tightening are estimated for Greece, Hungary, Iceland, Ireland and Portugal.
A situação é muito simples, quando se retira o véu ideológico – modelo tea party americano – dos olhos: numa situação de crise económica e social, a maioria dos países reforças as políticas sociais. Entre nós passa-se exactamente o contrário, em virtude das políticas inspiradas (tal como aconteceu na Irlanda e Grécia, sendo curiosa a presença neste lote da Islândia para alguns… que pensam ser lá o paraíso na Terra…) nas teorias da troika, aquela que já admitiu por diversas vezes ter falhado previsões quanto aos efeitos económicos e sociais das políticas de austeridade.

Mas lá vamos alegremente tomando como boa a informação deformada e manipulada daqueles que, com nulo espírito de solidariedade com os mais necessitados, querem fazer avançar um programa ideológico e assumindo serrem rigorosos números que ninguém explica verdadeiramente, limitando-se a anunciá-los como mandamentos divinos.

E é nessa base que se pretende emagrecer um Estado Social que entre nós é, mais do que um luxo, uma frágil barreira contra a miséria generalizada."

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