quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

entrevista... somos governados pelo culto da imagem... de josé medeiros ferreira... na ensino magazine...!

"Tem uma larga experiência como docente e foi até recentemente presidente do conselho geral da Universidade Aberta. A educação é um setor atreito a transformações e convulsões, e as mais recentes vieram do anunciado aumento nas propinas e no corte dos recursos das faculdades. Há o risco de uma elitização do ensino?

Sempre houve uma tendência para a criação de dois sistemas de ensino superior. Há até uma universidade, da qual eu me vou abster de dizer o nome, que admite que está a trabalhar para criar uma elite de excelência. Creio, contudo, que de uma forma geral, a universidade portuguesa correspondeu razoavelmente ao desafio que lhe foi colocado nos anos 80 e 90. Depois, com Bolonha, desorientou-se um pouco. E porquê? Porque a maior parte das universidades adaptou-se a Bolonha com um espírito acrítico. Nesse sentido, creio que se perdeu alguma da independência das universidades. Como defensor que sou da independência, penso que existiu um retrocesso.

O pressuposto da racionalização dos meios é um bom ponto de partida para a fusão da Universidade Técnica e da Universidade de Lisboa?

Esta crise ensina-nos uma coisa decisiva: Não podemos voltar a esbanjar meios. É preciso mais ponderação. Vamos esperar pelo desenlace desse processo que está em curso. Espero, até porque ambas as universidades têm dois bons reitores, que deste processo saia um novo impulso. Mas creio que o ponto de partida para o êxito desta fusão seja a reunião da massa crítica suficiente para fazer uma grande universidade.

Não estamos a esbanjar meios intelectuais quando os nossos estudantes licenciados e doutorados rumam para fora do país?

Sem dúvida, estamos a dar de bandeja os nossos melhores recursos humanos. Estamos a fazer tudo o que os outros países que recebem essa emigração querem. Absorvem jovens muito mais bem preparados do que há 40 ou 50 anos e quem paga essa formação é o Estado português e os portugueses. Por muitas críticas que se faça ao sistema de ensino em Portugal a emigração qualificada baseia-se na formação que foi ministrada pelas nossas escolas. Trata-se de um investimento na educação que está a ser desaproveitado. É essa emigração que está a ser chamada para a Europa e para o estrangeiro. Podia ser um rumo que, em primeira análise, podia ser prestigiante, mas, no imediato, acaba mesmo por empobrecer a economia portuguesa.

Curiosamente, são as empresas alemãs e do leste europeu que mais cobiçam os nossos recém-formados…

A Alemanha nunca escondeu que queria atrair quadros qualificados para o seu território e aproveitou-se de uma consequência conhecida de uma zona monetária que é o seguinte: o fator trabalho segue o fator capital, onde quer que ele exista. Repare que há muitas vozes no centro da Europa contra as transferências financeiras que era uma das características da União Europeia, juntamente com os fundos de coesão e estruturais, com vista a reter as pessoas nos seus países de origem. Diminuindo os fundos essas pessoas são obrigadas a seguir para onde está o investimento e o capital.

O médico neurologista António Damásio esteve há semanas em Portugal onde inaugurou uma escola com o seu nome. Disse ele que «não é possível haver uma sociedade justa e com progresso se não houver educação». Subscreve?

Mantenho uma certa relação de afetividade com quem está no ensino em Portugal e discordo, completamente, da imagem que se formou. Penso que a Escola é muito pouco estimada em Portugal. E não é de agora, é um sentimento ancestral. Há uma cultura refratária que penaliza, quase sempre, a escola pública. Na dúvida, estou ao lado das escolas, porque acho que têm feito um trabalho admirável. Respondem aos problemas inerentes à comunidade escolar, para além dos problemas decorrentes da sociedade, seja dos menores rendimentos das famílias, pelo afluxo de imigrantes, a desagregação das famílias, etc. A escola tem vindo a aumentar o seu leque de funções de uma forma repentina, a que nem a sociedade e o poder político estão a conseguir dar resposta. São as crianças com fome, a gestão das cantinas, os jovens imigrantes que mal sabem falar português, etc. A escola está a funcionar como uma espécie de amortecedor das tensões sociais.

Os professores vão conseguir recuperar a autoridade junto dos alunos e da sociedade?

Houve um certo desvario, com culpas repartidas entre os professores e a tutela. Eu teria sempre tendência a negociar. O movimento sindical dos professores não pode deixar de ser um interlocutor. É preciso corrigir a lógica de ver no outro um antagonista e entender as partes do sistema numa logica de cooperação. No atual contexto económico, financeiro e social a educação será ainda mais determinante. Apesar da filosofia de economia de meios, que é uma das lições da crise, não é possível abandonar as populações à sua sorte, retirando-lhes a saúde e a escola. É preciso ter cuidado para não deitar fora o bebé com a água do banho."

aqui.

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