"1) Recuperar a confiança dos professores em relação aos governantes na área específica da Educação. Mesmo que isso seja feito com mecanismos de tipo impositivo ou substituindo e precarizando parte da classe docente, nenhumas reformas (nem sequer as que sejam correctas) têm sucesso sem um envolvimento activo dos seus executores. Neste momento essa confiança está em patamares mínimos e nenhuma declaração apaziguadora do MEC ou dos secretários de Estado consegue atenuar minimamente o desânimo e desconfiança que existem. Para melhorar essa situação, não falando sequer nas questões estritamente laborais relacionadas com a remuneração e o congelamento da progressão, seria essencial restabelecer mecanismos formais de partilha das decisões nas escolas e agrupamentos, permitindo a existência de mais do que de um modelo único de gestão, cada vez mais personalizado e hierarquizado. Parece escusado dizer que, ainda neste aspecto, a actual inexistência de uma verdadeira carreira docente é um factor de acrescido desânimo para a larga maioria dos professores.
2) A medida mais urgente que poderia ser tomada em relação aos alunos relaciona-se com a capacidade de detectar precocemente as situações de potencial insucesso escolar e abandono, criando-se equipas com técnicos especializados nas áreas mais críticas de intervenção, não apenas ao nível da Educação Especial, mas em particular ao nível de assistentes sociais, mediadores culturais e terapeutas capazes de lidar com a multiplicidade de problemas com que se confrontam os professores do 1º ciclo e que não conseguem resolver apenas com os seus meios ou com aqueles que actualmente estão disponíveis na generalidade dos agrupamentos. é um erro grave pensar-se que os problemas não resolvidos no 1º ciclo, através do combate directo às causas do insucesso (de tipo cognitivo ou comportamental) ou do abandono (vulnerabilidade económica, exclusão social, diferença cultural), podem ser completamente ultrapassados nos outros ciclos de ensino, em especial com recurso a trajectos como o do ensino vocacional a partir dos 13 anos para quem tenha 2 ou mais repetências. A aposta em modelos baratos para encobrir o insucesso e as suas causas vai revelar-se, mais tarde, bem mais onerosa devido aos problemas sociais que permanecem quando se aposta em métodos que acentual a segregação educacional e se pretende generalizá-los a 40-50% da população escolar.
É indispensável que os agrupamentos disponham de equipas multidisciplinares para intervir rapidamente e de forma eficaz nos primeiros anos de escolaridade junto daqueles que mais precisam.
3) É de extrema importância rever o modo como a formação contínua dos professores caiu de uma rotina formativa subsidiada por dinheiros comunitários para um quase total vazio, dependente da boa vontade formadores internos às escolas ou a formações pagas, de fraca qualidade e oferta limitada. Mais importante, deve ser revisto um modelo de formação passiva, em que os professores parecem abdicar de produzir conhecimento na sua área científica de origem. Para poupar dinheiro e horas, os docentes deixaram de ter dispensa para participar em congressos, debates, conferências fora do âmbito dos centros de formação. Mesmo que apresentem comunicações, resultando de investigações ou reflexões pessoais, os professores não têm qualquer dispensa para participar em eventos que alarguem verdadeiramente os seus horizontes e não se circunscrevam a partilhar muito do que já é conhecido. É essencial que os professores não se fechem em si mesmos ou nas escolas e tenham a possibilidade – que já tiveram – para fazer a sua formação para além dos portões das escolas, não apenas como audiência mas igualmente como produtores de saber. Pode sair menos barato, pode implicar a necessidade de dispensas do serviço lectivo, mas o professor que sabe é aquele que se actualiza, mas que se actualiza de forma inovadora, em troca de experiências com outros meios e não apenas com aqueles que fazem o mesmo.
4) A deriva avaliativa dos últimos governos em matéria de Educação necessita de uma harmonização e uma articulação lógicas. A avaliação externa das escolas não pode estar totalmente separada da avaliação do desempenho dos professores, assim como a avaliação externa dos alunos não pode ser tão assimétrica como é actualmente, fazendo repousar até ao 9º ano toda a responsabilidade em duas disciplinas. Ou se procede a um alargamento do sistema de exames desde o 9º ano ou será mais adequado serem feitos exames de tipo generalista no final dos ciclos de escolaridade do Ensino Básico, com diferentes componentes na mesma prova, mesmo que ela seja feita em dois dias.
Quanto à avaliação dos professores, o modelo em vigor – avaliar sem um objectivo palpável perante a inexistência de progressão na carreira – é injusto, em primeiro lugar, e de péssima qualidade, em segundo, pois optou-se por uma solução barata (avaliadores externos mas de proximidade e poucas aulas a assistir) e sem garantias de qualidade (são avaliadores aqueles que já o foram, tenham sido bons ou maus a desempenhar tal função).
A avaliação das escolas e agrupamento, por fim, necessita evoluir num sentido novo, que abandone o modelo burocrático assente na análise do desempenho dos documentos produzidos (em nome de uma alegada objectividade) e se dedique mais a analisar a vida quotidiana das escolas e a forma como os alunos estão integrados e como a organização pedagógica procura resolver as suas dificuldades."
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