"Em primeiro lugar, nunca haverá da parte dos responsáveis ministeriais
qualquer disponibilidade para discutir publicamente e de modo genuíno e
civilizado ideias opostas. A capacidade para admitir a diferença radical
num debate aberto e honesto é uma conquista de uma mentalidade
civilizada que não existe no país; os professores só são capazes de
fingir que discutem ideias quando toda a gente concorda quanto ao
fundamental. Quando há diferenças profundas — precisamente quando o
debate honesto é mais necessário — as pessoas abandonam a simulação do
debate civilizado e passam para os jogos de poder, a esperteza saloia e a
tentativa de silenciar e eliminar quem pensa de maneira muito
diferente. Em Portugal não há tradições de debate académico; as pessoas
não sabem fazer isso. Tudo o que conhecem é uma simulação de debate
académico, quando todos concordam e quando de qualquer modo se estão nas
tintas para o que estão debatendo porque são matérias abstractas e
académicas que não lhes dizem realmente respeito, pessoalmente; quando
se tenta debater matérias que as pessoas consideram que realmente lhes
dizem respeito e quando nesse debate há posições muitíssimo diferentes
das deles, o único modelo nacional de debate é o pseudodebate político,
cheio de retórica, seduções linguísticas, jogos de poder, desonestidade
intelectual e pessoal. Desculpa, Sara. Nós ensinamos os alunos a debater
de maneira intelectualmente proba, mas a generalidade dos nossos
colegas não só não sabem como tal coisa se faz, como não estão
minimamente interessados em fazê-lo. Na verdade, muitos deles nem
conhecem a palavra “proba”."
Sem comentários:
Enviar um comentário