"Espero que o Ministério das Finanças não deixe de patentear a rede de
pesca fiscal que laboriosamente desde há um ano vem tecendo, de trama
dir-se-ia fisicamente impossível: apanha sardinha miúda e carapau do
gato e deixa passar o peixe graúdo. O segredo está no material usado,
inteiramente de concepção neoliberal nacional: uma legislação fiscal
labiríntica e imune a investidas débeis e desorganizadas mas que
facilmente dá de si quando o "investidor" é de peso.
Agora, depois de, com o fim das deduções de despesas de saúde em
sede de IRS, ter poupado os consultórios médicos privados à maçada da
passagem de recibos, o Governo assesta as armas pesadas para o pequeno
café da esquina, a cabeleireira de bairro, o biscateiro do fim da rua.
Imagino que Passos Coelho tenha, numa das suas saídas pelas traseiras,
entrado em alguma tasca de vão de escada para tomar uma bica, observando
à saída, indignado, a Vítor Gaspar: "Viste que a velha não me passou
factura? Agora como vou meter os 50 cêntimos nas despesas?".
Assim,
a partir de 2013, ou a velha passa factura ou pagará 3000 euros de
multa. Toda a gente, até a velha, consideraria isso mais que justo se
processos de milhões como os de Américo Amorim ou Soares dos Santos não
se arrastassem nos tribunais fiscais sem fim à vista ou se as Finanças
não se tivessem desinteressado de colectar as luvas do "caso dos
submarinos"."
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