"O Ministério da Educação e Ciência devia orientar a política educativa. Mas não. O ministério desorienta-se e desorienta.
Contrariamente ao que ministro pensou, disse e redisse
ao longo dos anos, aumentou o número de alunos por turma, para 30,
levando à diminuição de horários e de professores.
A revisão curricular em marcha e o reforço do
mega-agrupamentos expulsam das escolas mais uns milhares de professores.
Mas o ministro reinventando-se garantiu, há dois dias, que haverá lugar
para todos os professores do quadro e "ainda mais". Não sei se estará a
pensar nalguns robots andróides promovidos docentemente, ele que é um
cientista, para limparem os corredores das escolas.
O ministro asseverou que "todos os professores são
necessários para o sucesso dos nossos alunos". Todos menos uns
larguíssimos milhares do quadro e contratados. Não quis reparar que,
segundo os dados divulgados ontem pelo Instituto de Emprego e Formação
Profissional, o número de professores inscritos em Junho nos centros de
emprego aumentou, só num ano, 151%, comparado com igual período de 2011.
No conjunto de medidas tomadas não se vislumbra outro
objectivo que não seja estritamente economicista. Não deixa de ser
desconforme, por isso, que alguns professores passem a receber 100 euros
(um rebuçadinho sofisticado) por cada colega a quem façam a avaliação
externa, para além de perceberem ajudas de custo quando se desloquem
mais de cinco quilómetros. Antes a avaliação não era remunerada.
"Todos os professores são necessários para o sucesso
dos alunos". A realidade desmente a hipocrisia da afirmação. A verdade é
bem outra. O maior número de professores é necessário para o seu
próprio insucesso. Para engrossar o indigno cortejo dos desempregados.
Ou empurrá-los para empregos para os quais têm de desqualificar-se. Ou
para tentarem os caminhos incertos do exílio abandonando a família.
É sempre possível piorar. Nada disto se esperava do
"opinion maker" Crato. Nunca foi tão angustiante, desmotivador e
assustador o ambiente nas escolas. Basta falar com uma dúzia de
docentes, que por lá penam, para entender o estado de alma de gente que
acreditou numa vida profissional empenhada e gratificante, dedicada a
aumentar os conhecimentos e as competências de crianças e jovens,
ajudando-os a preparar um futuro.
O mal que se faz a estes professores reverte
directamente para o mal que se faz ao país. E cá se fazem, cá se pagam.
Mas as maiores vítimas serão os jovens a quem se prometeu e de quem se
espera muito."
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