"A semana foi marcada pelas declarações de D. Januário Torgal Ferreira e
pelas reacções desencadeadas, na sua maioria em registo crítico e mesmo
indignado. Por mim, aprecio o testemunho cívico de D. Januário. Ele é
desassombrado, livre e denota sentido de servir a sua comunidade.
Num quase deserto de
referências morais, é uma voz incómoda para os instalados e os que se
querem instalar. Assisti, em directo, à retumbante entrevista conduzida
por Paulo Magalhães na TVI 24, que extravasou o tempo previsto, o que
demonstra o interesse provocado.
Gostei da
primeira parte da entrevista que considero notável, mas dei-me conta de
que, na parte final, o bispo deu mostras de alguma fadiga momentânea,
altura em que divagou mais em abstracto. Foi nessa altura que se referiu
a um "governo profundamente corrupto" e aos "diabinhos negros" que o
habitarão, o que deu o pretexto para ser amaldiçoado em vários púlpitos,
a começar pelo usado por Aguiar Branco. Este chegou a ameaçar o bispo
das Forças Armadas com a obrigatoriedade de uma opção entre tal cargo e o
de "comentador", a nova besta negra do governo.
A
crítica aparentemente mais sensata que se faz ao bispo é aquela em que
se pede a D. Januário que prove as afirmações de corrupção. Ora essa
crítica só pode provir de quem não vive em Portugal e exige mais a um
cidadão sobre matéria tão incandescente do que às instituições
vocacionadas para o efeito. Num país onde a PGR não conseguiu provar em
tribunal rastos de corrupção em casos como o de Portucale ou o do
Freeport, não se pode evitar que a opinião pública divague sobre outros,
como o dos submarinos, que nem chegaram a ser investigados em Portugal
quando o foram noutras comarcas estrangeiras.
E
não é verdade que, mal o actual governo procedeu às primeiras
privatizações (REN e EDP), já se suspeita de tráfico de influências,
abuso de informação privilegiada, fuga aos impostos e corrupção? Sim,
corrupção que a DCIAP estará a investigar actualmente. Claro, são
precisas provas para acusar em tribunal, e é bom que elas sejam
concretas e obtidas como deve ser. Mas essa gente não se confessa, nem a
D. Januário nem ao tribunal, e a sociedade alguma forma de travão deve
possuir. Nem que seja só a da opinião pública qualificada.
Não se cale, D. Januário Torgal Ferreira."
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