"Foram dias muito férteis em manobras políticas e tecnocráticas.
Começaram em Setembro, entre os estados-maiores de Passos Coelho e de
Paulo Portas a propósito dos impostos para 2013, ainda o grosso da
coligação se ocupava publicamente com os apelos de estilo à
solidariedade orçamental do PS.
Enquanto PSD e CDS divergiam na carga fiscal, as
atenções eram dirigidas para o voto acidental de António José Seguro na
futura proposta orçamental. Esta manobra de diversão ficou pelo caminho
quando Portas se remeteu ao silêncio "patriótico" sobre as medidas
fiscais em discussão com a troika, então abivacada em Lisboa. Foi nessa
ocasião que Passos Coelho em pessoa deu vida ao espantalho da TSU para
espantar tudo e todos em Portugal, e ainda as regras da concorrência na
UE. Só os caloiros de economia da classe "António Borges" tomaram a
nuvem por bens transaccionáveis.
Começou aí outra
manobra de monta, agora no seu curso final: a de nos fazer crer que,
quer o desentendimento CDS-PSD, quer a vasta mobilização popular se
deviam principalmente à anunciada alteração das taxas da TSU, de facto
demasiado obscenas para circularem assim. Grande parte da comunicação
social colaborou nessa manobra de Outono, e mesmo Portas acreditou que
podia sair airosamente do aperto caso houvesse recuo na matéria.
Ora,
a TSU, que fora apresentada há doze meses como um remédio para diminuir
os custos do factor trabalho e contribuir assim para uma maior
competitividade externa das empresas, passou a ser considerada pelos
anónimos tecnocratas de serviço como um meio de redução do défice e de
diminuição do desemprego. Foi por isso que Passos Coelho, quando deixou
cair esta medida no Conselho de Estado, disse que ia avançar com
"alternativas". Mas o que Vítor Gaspar apresentou foi a arma escondida
do aumento brutal do IRS, escaldado que estava do recurso transacto a um
IVA que não respondera à chamada. A pressa com que o visto prévio da CE
foi publicitado por Barroso destinou-se a dificultar a reacção política
de Portas, assim como da AR, encarregada de garantir a aprovação do OE.
Estas manobras de corredor, conduzidas
principalmente por técnicos anónimos, podem apressar o fim deste governo
num prazo mais curto do que o previsto."
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