"É esta a conjugação do verbo "ajustar" segundo a gramática de Passos
Coelho e Vítor Gaspar: eu pago, tu pagas, ele suga, nós pagamos, vós
pagais, eles sugam mais um bocadinho.
As medidas anunciadas na quarta-feira já eram
esperadas, mas a receita do ministro das Finanças continua a ser a mesma
de sempre: 1) Ir roubar à mesa da classe média para continuar a dar de
comer ao monstro. 2) Ser rigoroso quanto às medidas do lado da receita e
vago quanto às medidas do lado da despesa. 3) Chutar lá mais para a
frente (agora é 2014) a verdadeira reforma do país.
É
isso que começa a ser difícil de engolir mesmo para quem compreende a
retórica da austeridade e não lhe vislumbra alternativa. É que se
estamos todos obrigados a passar por isto, ao menos, por amor de Deus,
aproveitem para mudar Portugal de cima a baixo e diminuir o peso
avassalador do Estado na nossa economia. Ora, na sua conferência de
imprensa, o ministro das Finanças acabou por admitir duas coisas: 1) Que
a velha história da consolidação vir dois terços da despesa e um terço
da receita é tanga. 2) Que a obrigação do Estado em diminuir
estruturalmente (ou seja, sem ir todos anos ao bolso dos funcionários
públicos) a sua despesa em quatro mil milhões de euros não é coisa para
2012 nem para 2013.
É para quando, então? É para
2014, diz Gaspar. Um ano antes das eleições, se o Governo chegar lá. Eu,
francamente, prefiro acreditar no Pai Natal. Não admira que o portuga
que chumbaria nas cadeiras de António Borges comece a ter sérias dúvidas
em sacrificar-se. Borges, Passos e Gaspar ainda vão olhar à volta e
perceber que estão sozinhos na sala de aula."
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