"Se temos dez bens, como devemos distribui-los por
uma população que os deseja? Num curso de economia aprende-se que é esta
a função do mercado. Mas há diferentes "mercados". No mercado clássico,
os bens são todos iguais, expostos no mesmo local, e por isso vendidos
ao mesmo preço. Para algumas pessoas, o bem vale 100 euros, para outras
vale 90 euros, e por aí diante. Se para a décima pessoa em ordem
decrescente de valor, se este for 70 euro, então é esse o preço final do
bem. O preço é só um e ficam a ganhar todos para quem o bem valia mais
do que 70 euros. Esta é uma descrição apropriada do mercado das maçãs ou
do trigo. Noutros mercados, a história tem de ser diferente.
Por
exemplo, no mercado que distribui os professores do ensino público
pelas diferentes escolas, os bens (as escolas) são todos diferentes - na
localização, nos colegas, ou nos alunos - e os consumidores (os
professores) também têm todos as suas características. Para alguns
candidatos, dar aulas de Química aos alunos do 8.o ano na E. S. Augusto
Gomes é a primeira escolha; para muitos outros, ensinar Matemática aos
alunos do 12.o ano da E. S. da Boa Nova é um emprego de sonho. Neste
mercado não há preços, mas antes pares escola-professor.
Uma
propriedade desejável de uma colocação é não ser possível que dois
professores e dois diretores de escola se encontrem num café e percebam
que ficavam os quatro mais felizes se trocassem de lugar. Os economistas
dizem que esta colocação é estável. Para muitos, ela é simplesmente
eficiente ou justa.
O matemático Lloyd Shapley propôs o seguinte
conjunto de regras: cada professor escolhe a sua escola preferida. Os
diretores de escola que tiverem mais de um candidato escolhem o que
pretendem. Na ronda seguinte, os professores que não foram escolhidos
podem propor a sua segunda escolha. As escolas voltam a decidir, podendo
as que já tinham um candidato trocá-lo por uma nova oferta. As rondas
continuam até todos os professores estarem colocados. Shapley mostrou
matematicamente que estas regras produzem uma colocação estável.
O
economista Al Roth começou com este resultado, refinou-o e aplicou-o.
Ele estudou se os candidatos podiam manipular as regras e como evitá-lo.
Ele redesenhou as regras para que o processo fosse mais rápido com
menos rondas. Ele ajustou o mecanismo às circunstâncias e convenceu
pessoas a aplicarem-no na colocação dos médicos em estágios, de alunos a
lugares nas escolas, e até de doadores de rins com pessoas que precisam
de um transplante. O prémio Nobel da Economia deste ano premiou este
trabalho.
O exemplo que dei com os professores não se aplica a
Portugal. Os diretores das escolas não escolhem os membros dos seus
quadros, mas sujeitam-se às ordens do Ministério da Educação. Impera o
modelo soviético socialista de planeamento central em vez da abordagem
económica. A investigação de Shapley e Roth não se limita a diagnosticar
a injustiça e ineficiência do nosso sistema. A economia oferece também a
alternativa para um sistema melhor."
Professor de Economia na Universidade de Columbia, em Nova Iorque
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