terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

leitura... da educação... refundar a educação: o financiamento... de alexandre homem cristo... no i...!



"A reforma do Estado está na agenda mediática. Todos falam dela. Mas ninguém a discute. Mais de uma semana após a publicação do relatório do FMI, todo o enfoque foi colocado nas suas deficiências. Quis-se enterrar o documento e, com ele, o debate. Mas este tem de ser feito. A realidade não espera. E, no sector da Educação, a urgência é clara. Afinal, grande parte do nosso futuro colectivo depende da qualidade do sistema educativo. Assim, entre o que propõe o FMI e o que o país realmente precisa, que reformas implementar? A mais estrutural das propostas, e talvez a mais interessante, é a revisão do modelo de financiamento das escolas públicas (do Estado e com contrato de associação). Comecemos por aí.

É sabido que o actual sistema de financiamento promove grandes disparidades nos gastos por aluno/turma. Ou seja, para prestar um mesmo serviço educativo, há escolas que recebem mais dinheiro do que outras. O facto foi confirmado e descrito pelo Tribunal de Contas (relatório 31/2012). Várias razões legítimas o justificam, mas juntas não conseguem explicar tudo. É que uma outra, ilegítima, existe: há escolas públicas que gerem mal os fundos e que, para suprir as suas necessidades, obtêm financiamento público a mais. Isso tem de acabar.

Como fazê-lo? A resposta é simples: crie-se uma fórmula de financiamento igual para todas as escolas públicas (do Estado e com contrato de associação). E, para garantir um financiamento justo, use-se como factor principal o número de alunos matriculados em cada escola, introduzindo outros factores para ponderação (o número de alunos com necessidades especiais ou as diferenças regionais nos custos, por exemplo). O mais difícil já foi feito. Com os estudos sobre o custo por aluno, do Tribunal de Contas e do próprio Ministério, determinar um valor de referência por aluno/turma é possível. E se os dados dos estudos são válidos para renegociar os contratos de associação, também o são, por definição, para calcular o financiamento das escolas públicas do Estado.

Sabendo que é exequível, importa sublinhar quatro vantagens imediatas desta reforma. Em primeiro lugar, traria mais eficiência à distribuição dos fundos públicos. E tornaria mais transparente a gestão orçamental da Educação, garantindo que um mesmo serviço educativo é financiado de igual modo. Em segundo lugar, não afectaria a comunidade escolar (alunos e professores), na medida em que não interfere com a oferta educativa. Em terceiro lugar, resultaria numa poupança directa de milhões de euros. Embora a estimativa do FMI (580 milhões de euros) parta de dados desactualizados (referentes a 2009/2010) e esteja, por isso, completamente inflacionada, é expectável que a poupança directa seja, mesmo assim, muito significativa. Por fim, esta reforma aprofundaria a autonomia das escolas quanto à sua gestão financeira. Assim, para além de gerir todo o seu financiamento sem interferência da tutela, as escolas poderiam obter, através de parcerias, fontes de financiamento privado. Estas possibilitariam diversificar a sua oferta educativa e, ao mesmo tempo, diminuir a sua dependência no financiamento público.

O modelo e as suas vantagens são claros. A sua implementação permitiria mais eficiência, mais poupança, mais autonomia e maior independência das escolas face ao Estado. Há reformas que, poupando muito, pouco ou nada mudam. E depois há reformas que, mesmo poupando menos, fazem a diferença e ajudam a construir o futuro. São estas últimas que se espera de uma refundação do Estado."

Sem comentários:

Enviar um comentário