"Uma coisa os professores devem ter percebido, como os funcionários
públicos perceberão, como os estivadores, ou os trabalhadores dos
transportes, já tinham percebido. É que se quiserem resistir à avalanche
que lhes caiu e cai em cima, estão sozinhos. A boca cheia da
solidariedade é apenas isso, mas cada grupo profissional só pode contar
consigo próprio para tentar travar a acentuada desqualificação da sua
profissão, o reforço do autoritarismo de proximidade, de chefes e
directores, os despedimentos colectivos, o aumento por decreto do
horário de trabalho, a violação de todos os contratos e direitos.
Pode contar com a hostilidade de uma parte da população, acirrada pelos
inconvenientes das greves, pelo discurso de guerra civil do governo e
por uma comunicação social que, mesmo quando é muito da esquerda festiva
e cultural, muito simpática com o folclore dos “indignados”, é hostil
às lutas, às greves e aos sindicatos. Um dia, uma análise do grupo
profissional dos jornalistas, explicará muito sobre como as fraquezas da
profissão originam um dos discursos mais masoquistas, muito próximo do
discurso do poder.
A solidão dos que reagem e não se bastam com manifestações de protesto
que a mediatização trivializa, só pode ser invertida se os seus actos
forem corajosos, unidos e massivos no âmbito profissional. Ou seja, com
risco. Se mostrarem força, terão força e arrastarão consigo
solidariedades que nunca terão com protestos “simbólicos”. E terão a
simpatia de muitos que ou são indiferentes ou egoístas, porque, nesse
momento, então sim, as lutas de resistência à iniquidade destes dias de
lixo comunicam entre si. Nessa altura, polícias reconhecer-se-ão nos
professores, e pessoal da CP e da Carris nos polícias, os professores
nos estivadores, os funcionários públicos nos trabalhadores têxteis, os
despedidos de uma fábrica nos reformados, os enfermeiros nos jovens à
procura do primeiro emprego e nos desempregados de longa duração. O
mundo do trabalho no mundo do trabalho."
aqui.
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