terça-feira, 25 de novembro de 2014

importante... mesada, semanada... ou nem por isso...?


no observador...

"Não à mesada, sim à semanada. Tanto a coach parental Cristina Valente como o pediatra Mário Cordeiro concordam nesse ponto. A quantia monetária – que deve ter em conta a capacidade financeira da família e a idade da criança – é mais fácil de gerir num curto espaço do tempo, pelo que os pequenos aprendem com maior rapidez os conceitos de “gestão”, “poupança” e “consumo”.

Numa altura em que o Parlamento debate o Orçamento do Estado, o Observador preparou um guia para pais sobre o orçamento dos filhos — porque é fundamental perceber a partir de que idade se pode dar dinheiro, qual a quantia indicada e onde devem os mais novos gastar a semanada.

Ambos os entrevistados defendem que a criança deve ter a oportunidade de errar, ao gastar mal o dinheiro, e que deve existir um ligeiro controlo da parte do pai ou da mãe. Acima de tudo, a semanada não deve incluir tarefas que, à partida, já fazem parte da rotina diária das crianças — como arrumar o quarto — ou servir de pretexto para quebrar regras instituídas no seio familiar.

O importante é, tanto filho como pai, honrarem os compromissos. Diz Mário Cordeiro que a semanada não é uma brincadeira e que os progenitores são convidados a encarar o assunto com seriedade, como se de um contrato de trabalho se tratasse. E não esquecer: “Tão importante como ensinar a administrar o dinheiro e os bens, é transmitir noções de solidariedade e de partilha. É bom que a semanada (ou parte dela) sirva para coisas que a criança ou o jovem vá oferecer (…) São práticas que ajudam a formar o caráter”, esclarece Mário Cordeiro.

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Andreia Reisinho Costa

Quando é que se começa a dar dinheiro aos filhos?
 
Para Cristina Valente, entre os seis e os dez anos de idade não se deve dar qualquer tipo de quantia monetária. A coach parental considera que é a partir dos dez — e mediante a capacidade financeira da família — que a criança pode receber dinheiro e ficar responsável por ele.

Mário Cordeiro, por seu turno, argumenta que a partir dos seis anos a criança começa a entender melhor a grandeza dos números e torna-se uma consumidora ativa, pelo que o ideal é começar a entrar em contacto com o mundo financeiro. É também nesta fase que se estabelece uma “melhor relação entre trabalho e esforço, por um lado, e recompensa, pelo outro”, explica.

Semanada ou mesada?
 
Semanada, sempre, e para todas as idades. A periodicidade em causa permite uma melhor e mais fácil gestão da verba e permite ao adolescente controlar o dinheiro com maior facilidade dado o curto espaço de tempo, alega Cristina Valente. “Caso faça um gasto exagerado, só terá de aguardar sete dias, no máximo, para voltar a ter liquidez”.

O pediatra é da mesma opinião, explicando que a mesada poderá dar à criança uma sensação de ter muito dinheiro e poder gastá-lo mais rapidamente. “Creio que um dos objetivos de receber este dinheiro, que passa por obter os desejos de uma forma calculada e controlada, terá maior êxito com uma semanada”.

“Os pais nunca podem estar dependentes das circunstâncias das outras famílias para decidirem que educação dar aos filhos. O que é comum e popular nem sempre é o melhor.”
Cristina Valente
 
Quanto dinheiro de semanada?
 
O pediatra defende que a quantia deve ser “muito pequena”, de forma a evitar que as crianças fiquem demasiado entusiasmadas e porque o valor do dinheiro pode ainda não ser totalmente entendido. Seguindo a mesma lógica, não é conveniente que esta seja reduzida em excesso, correndo o risco de humilhar a criança — a quantia depende dos pais, das famílias, dos hábitos e das tradições. Mário Cordeiro dá o exemplo: “Sugiro 2 euros para o 1º ano, 2,60 no segundo, 3 no terceiro, 4,50 no quinto e por aí fora. A partir de certa idade (9º ou 10º), os gastos começam a ser diferentes porque a autonomia da criança/adolescente já obriga a outro tipo de consumo”.

O essencial é que, independentemente do valor, a semanada não crie a falsa ilusão de que se vive acima de um nível que é o da família. Ou seja, se a família estiver a passar por dificuldades, a semanada deverá ser mais contida. Caso contrário, se gozar de uma certa folga financeira, a quantia poderá ser um pouco mais elevada. E o que as outras crianças ganham não serve de argumento para ajustes financeiros desapropriados.

Pode-se aumentar a semanada com o passar do tempo. O pediatra explica que considera ser saudável que esta obedeça às regras do mercado e que haja aumentos substanciais tendo em conta as fases de transição na vida de uma criança.

Cristina Valente traz outras realidades à equação: “Os pais nunca podem estar dependentes das circunstâncias das outras famílias para decidirem que educação dar aos filhos. O que é comum e popular nem sempre é o melhor”. E quando o assunto resvala para os irmãos? “Os mais velhos, tendo mais responsabilidades e competências, deverão receber mais do que os mais novos”.

“Conheço famílias sem recursos que promovem a educação financeira nos seus filhos e famílias de classe média alta que falham nessa tarefa O segredo está na forma como os pais ensinam (ou não) a lidar com o dinheiro e não propriamente com a existência abundante dele.”
Cristina Valente
 
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