"Este é o País das Excepções. Afinal, o pagamento da crise não é igual
para todos. Os cortes são só para alguns. Os senhores que comem caviar,
que se banham em perfumes, que se passeiam de Bentley e jogam golfe não
podem ser prejudicados nas suas vidinhas. Era descaramento a mais do
Governo tratar todos de forma igual.
Rapazes bens cheirosos, charmosos e de porte elegante
merecem o estatuto de excepção. É justo. Os que vieram ao mundo para
sofrer e suportar a canga dos sacrifícios é que devem pagar a crise.
Pensar de outra forma é revelador de inveja, sentimento mais mesquinho
do indivíduo. E se refilarem, porrada neles.
Com o
fim do colonialismo, em que tínhamos brancos e negros, agora temos
brancos de primeira, segunda e terceira categorias. É a estratificação
social mais adequada e proporcional à importância do custo e do cheiro
do perfume de cada um. É assim que está o País, cheio de gente que luta
sem esperança. Tiram-lhes tudo sem sequer pedir licença. E todos
consentem no silêncio do sofrimento.
Para além do
estatuto de excepção, o Governo criou uma espécie de apartheid social.
Obrigar os homens do caviar a conviver, no mesmo espaço social, com
gente que nada tem, mal nutrida e que não é solidária com o estatuto de
excepção é de uma violência sem limites e piedade. Só a razão pública
pode potenciar a criação de sociedades menos injustas.
Governar
é fazer escolhas. As escolhas foram feitas e a lista dos privilegiados,
que gozam deste estatuto de excepção, tem crescido.
No
Orçamento para a Assembleia da República, aprovado por todos os
partidos, os deputados e os funcionários da AR mantêm os subsídios de
férias e de Natal em 2012; à semelhança do que se passa na TAP Portugal,
para a SATA, para a CGD e para o Banco de Portugal.
Reparem
bem: este ano, o Governo autorizou vinte e três empresas e institutos
públicos a terem regras mais abertas e flexíveis no que toca às reduções
salariais, quer dos trabalhadores, quer dos gestores. Os principais
beneficiários das excepções são os administradores de empresas públicas,
que levaram muitas delas à ruína financeira.
A
lista está a crescer não na medida das necessidades, mas da ganância:
CTT, NAV, ANA, Parque Expo, Instituto Nacional de Estatística e
Infarmed…
Haja decoro! Nenhuma razão pública justifica esta afronta de excepção na não partilha dos sacrifícios.
É muito injusta a sociedade que estamos a criar."
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