"Os pelouros de urbanismo nas câmaras municipais
deveriam planear o território e autorizar apenas construções que
respeitassem os planos. Mas, na prática, isto nunca acontece. Como os
vereadores de urbanismo estão subjugados aos promotores imobiliários que
dominam os partidos, estes ‘patos bravos’ compram por tuta e meia
terrenos agrícolas e, através de um despacho administrativo obtido na
câmara, transformam-nos em urbanizáveis.
Com esta simples operação, esquecem o interesse do povo, multiplicam o
investimento dez e mais vezes e garantem lucros obscenos, apenas
equivalentes aos do tráfico de droga. O rendimento fica desde logo
assegurado. Porque, das três, uma. Ou constroem, vendem apartamentos a
preços inflacionados e ganham fortunas. Ou acabam por vender caro ao
Estado, porque sobre o terreno, hipervalorizado, vai edificar-se um
qualquer equipamento público. Assim foi com as Scut, cujo custo resultou
em metade das expropriações de terrenos. Há ainda uma terceira forma de
garantir o lucro. Consiste em obter financiamento junto da Banca para
os empreendimentos que os promotores… não vão construir. Com a
cumplicidade de um administrador corrupto, devidamente colocado em
bancos de práticas mafiosas como o BPN, o banco financia todo o valor do
projecto, mas recebe como garantia apenas o terreno original… um campo
de couves. Estas práticas reiteradas levaram a que, nas últimas duas
décadas, tenha inchado uma bolha imobiliária gigantesca. Esta resulta da
disparidade de valores entre o que os bancos financiaram e o real preço
das casas. Sendo que este, em muitos casos, é perto de zero, pois as
casas nem construídas foram. As imparidades da Banca portuguesa resultam
da falta de garantias dos empréstimos, sendo que cerca de setenta por
cento da dívida privada nacional resulta de operações de especulação
imobiliária. No início da crise, em 2008, o crédito imobiliário
representava já 168,7 mil milhões de euros. O Estado português vai agora
endividar-nos a todos para pagar os prejuízos dos bancos, que resultam
maioritariamente do tráfico de solos levado a cabo por essas tríades
constituída por promotores imobiliários, vereadores de urbanismo e
banqueiros."
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