"Os incêndios florestais repetem-se em cada Verão, destroem uma das
nossas maiores riquezas, ceifam vidas, representam um prejuízo de largos
milhões de euros. Os fogos têm origem muitas vezes em acções criminosas
de incendiários. Mas a sua principal causa é outra: um não menos
criminoso abandono do território, em particular da floresta, por parte
do Estado português.
A falta de prevenção, a ausência de um programa de
manutenção das matas públicas, o abandono dos baldios transformam o
território rural num potencial de combustão que deflagra ao mínimo
rastilho. A incúria, o descuido e períodos de calor extremo fazem o
resto.
Há, no entanto, excepções, florestas onde
raramente há incêndios. É o caso do Pinhal de Leiria ou das zonas sob a
protecção da Portucel que se destinam à produção de pasta de papel;
também não consta que haja problemas nos terrenos detidos por fundos de
investimento imobiliário florestal; são ainda escassos os fogos em zonas
de produção de cortiça. Os privados gerem estes largos milhares de
hectares de floresta apostando mais na precaução e não tanto em meios de
combate a incêndios. Já a nível da gestão pública, a incompetência
domina. Falta um cadastro florestal, não há prevenção, não se procede à
limpeza sistemática das matas. Falta investimento em centrais de
biomassa, que poderiam servir, em simultâneo, os propósitos de
rentabilidade e de manutenção das florestas.
Entretanto,
morrem bombeiros. Gastam-se fortunas num combate a incêndios desprovido
dos meios necessários, descoordenado e ineficaz. Desperdiçam--se os
muitos milhões de euros que seriam gerados directamente pela actividade
florestal. E degrada--se o ecossistema. Só será possível debelar esta
série de calamidades com uma efectiva política de prevenção, que deveria
envolver as forças armadas e de segurança, bem como os serviços do
inútil Ministério da Agricultura. Claro que, em primeira instância, a
gestão destes processos competiria aos corpos de bombeiros, cujo
desempenho seria avaliado e remunerado em função das áreas que
mantivessem livres de incêndios e nunca, como hoje, pelo número de horas
de combate. Em vez de andar a pagar fogos, o Estado deveria, pelo
contrário, premiar a sua inexistência."
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