A decisão de Cavaco: Pim, pam, pum, cada bola...
Bom dia,
Pim, pam, pum…
Andámos durante meses em campanha para as legislativas e quase sempre a falar de presidenciais. Agora, chegada a hora da campanha das presidenciais, não paramos de falar das legislativas e das suas consequências e cenários e desfechos. É a vida, diria o engenheiro…
Hoje começo esta newsletter com um pequeno exercício (que talvez não seja recomendado para os estômagos mais fracos). Imagine o leitor por momentos que é Cavaco. Cavaco Silva. Que está em Belém. Que está indeciso e confuso e com dúvidas sobre o que fazer. Que pede os jornais do dia para ver se tem alguma ideia e luz para resolver o assunto. Há quem diga que vai dar posse ao Governo de Passos e Portas. Há quem diga que dá posse a um Governo de Costa se o primeiro chumbar. E há quem diga não faz nada disto e que vai manter um Governo de gestão até se ir embora de Belém, lá para Março.
No meio disto, se calhar o melhor é usar mesmo uma lenga-lenga para resolver o assunto:
Pim, pam, pum
Pim, pam, pum
Cada bola mata um
Da galinha p’ró perú
Quem se livra és tu!
Vamos lá então por partes:
Uma das notícias do dia é que o rio secou e Rui Rio já não vai ser candidato às eleições Presidenciais. Caminho ainda mais aberto para Marcelo.
Na novela da formação do Governo há mesmo muita matéria.
O foco agora volta-se com maior intensidade para Cavaco. Ontem ao final do dia o Expresso Diário afirmava que Cavaco deverá mesmo dar posse ao executivo minoritário liderado por Passos Coelho. Mas sobre o que o Presidente fará no caso, cada vez mais provável, deste chumbar logo na apresentação do seu programa, o aritgo da Luísa Meireles não apresentava uma solução fechada.
À noite, este trabalho publicado no Expresso Online traçava os diferentes cenários de governação para os próximos tempos, com as respectivas forças e fraquezas, apoios e críticos.
Hoje de manhã a confusão adensa-se. A generalidade da imprensa alinha pela tese de que Cavaco deverá mesmo manter a tradição e empossar um Governo liderado pela força que venceu as eleições. Mas depois as teses quanto ao que se pode passar a seguir são contraditórias. O jornal i afirma de forma taxativa que Cavaco recusará dar posse a um governo de esquerda e preferirá manter um executivo de gestão até deixar Belém. Só que a manchete do DN afirma rigorosamente o contrário, dizendo que Cavaco dará posse a um governo de Costa depois de Passos ser chumbado no Parlamento.
A coisa está pois confusa. Pim, pam, pum…
Entretanto, já temos a composição do próximo Parlamento completa, embora não saibamos como vai ficar a questão do Governo. Ontem ficou a saber-se, e aqui a tradição ainda é o que era, que a coligação conseguiu três parlamentares, contra um do PS, nos círculos da emigração.
Assim, PSD e CDS ficam com 107 deputados, o PS com 86, o BE com 19, a CDU com 17 e o PAN com 1. Mas há outras contas: a coligação tem mais dois deputados que a soma de PS e BE. Fica a nove da maioria absoluta. Os três partidos de esquerda somados têm sete deputados acima da maioria absoluta.
Quem votou PS não queria isto. O País está atónito com o que está a acontecer. Os eleitores isto, os eleitores aquilo. Estamos a ser inundados por afirmações definitivas a propósito de quase tudo o que está a acontecer. Mas raras vezes nos são dados dados sobre o que significa exatamente, e o que não significa, o voto dos eleitores. Este estudo sobre o comportamento do eleitorado nacional pode trazer algumas luzes. Tem, digo eu, a marca de água do Pedro Magalhães, provavelmente o nosso melhor politólogo.
Nas últimas horas houve imensas declarações e posições sobre este tema que domina a agenda política.
O PCP continua as suas afirmações carregadas de táctica, com Jerónimo a meter a sua acha na fogueira, dizendo que nada impede o PS de formar Governo. Independentemente do desfecho das negociações com os socialistas.
Já o Bloco, através de Catarina Martins, voltou a afirmar o seu empenho no processo negociar em curso e garante que o seu partido não faz simulacros de negociações. A mesma Catarina vai encontrar-se em Bruxelas (onde hoje estão também Passos e Costa) com… Tsipras. Lá vai António Costa ter de tomar mais uns sais de fruto.
Um consultor de Cavaco Silva veio defender que um governo de esquerda em Portugal ainda assim ficaria a milhas do que o Syriza andou a fazer na Grécia.
Consequência também das eleições, o PCTP/MRPP prepara-se para afastar o seu líder e dirigente histórico Garcia Pereira. Por incompetência e anti-comunismo primários, depois dos resultados eleitorais de dia 4, em que não elegeram qualquer deputado e reduziram a sua votação em quase três mil votos.
Muito importante para se perceber o que se pode passar lá mais para a frente é este alerta do conselho das finanças públicas, liderado por Teodora Cardoso, que vê no horizonte um arrefecimento da economia (fruto da conjuntura internacional) com consequências cá dentro. Isto é, a tal grande folga que todos andam a prometer pode ser poucochinha poucochinha…
OUTRAS NOTÍCIAS
Cá dentro,
O presidente do INEM Paulo Campos já foi afastado na sequência do polémico transporte de uma doente não prioritária de helicóptero.
Marques Mendes vai passar o seu comentário semanal na SIC para os domingos. Mais uma consequência da candidatura presidencial de Marcelo.
O presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, continua a fazer tudo para estar sob os holofotes mediático e agora diz que o Benfica pode descer de divisão.
Os encarnados é que não se ficam e parecem desta vez contra atacar com toda a força. A Sábado revela o processo do Benfica contra Jesus, o assunto é manchete do Correio da Manhã e parece que o clube da Luz quer que o agora treinador do Sporting pague… 14 milhões de euros. O caso já deu entrada no tribunal do Barreiro.
Golos de Moutinho e de Ronaldo foram escolhidos para figurar na lista dos dez melhores marcados por todas as selecções durante a fase de qualificação para o Euro 2016 de França.
Lá fora,
O conflito entre judeus e palestinianos em Jerusalém está a conhecer nova escalada nos últimos dias. Um conjunto de esfaqueamentos está a causar receios entre a população israelita e já há novos checkpoints a serem levantados as divisórias dos bairros judeus e palestinianos.
Na Grécia, o ministro das Finanças Tsakalotos aprovou um diploma que permite aos religiosos levantarem mais dinheiro nas caixas multibanco que o comum dos cidadãos.
A CNN mostra, neste trabalho muito curioso, quais foram alguns dos maiores escândalos empresariais e financeiros. Está lá a Volkswagen, mas também a Enron e a Petrobrás. São muitos milhares de milhões.
Nos EUA, esta análise no Politico mostra como Hillary parece ter saído mais forte na luta presidencial depois do debate com os candidatos democratas. E isto quando para a semana tem de responder perante o parlamento a propósito do caso dos mails enviados de uma conta pessoal quando era a responsável pelos Negócios Estrangeiros dos EUA.
O papel do Irão na guerra da Síria continua a aumentar, com centenas de militares iranianos a serem enviados para combater ao lado das forças de Bashar al Assad.
Uma ponte provisória caiu em cima de uma estrada na África do Sul, fazendo dois mortos e dezenas de feridos.
Marlon James ganhou o Man Booker Prize. Mas afinal o que vale o livro do jamaicano? O Financial Times diz-nos. E aqui ficamos a saber como o escritor jamaicano é um caso fantástico de persistência. O seu primeiro livro foi rejeitado 78 vezes antes de ser publicado.
O músico americano Jay Z foi a tribunal responder pela acusação de ter copiado uma música. A acusação vem de um músico egípcio.
Ainda no mundo do showbusiness, Miley Cyrus estará a pensar em montar um espetáculo em que a grande novidade é o facto de tanto ela como a sua banda aparecerem em palco… nus.
Vem aí um novo livro do Astérix. E tem um personagem inspirado em.. Assange. Será o bardo Assangecourix?
Dez jogadores da Eritreia pediram asilo depois de terem ido ao Botsuana jogar contra a selecção do país nas qualificações para o Mundial de Futebol de 2018.
NÚMEROS
4
Quatro por cento foi o aumento de produção de energia pela EDP Renováveis nos primeiros nove meses deste ano.
300
FRASES
“Os partidos não deixam de ser quem são de um momento para o outro”, Francisco Assis, em entrevista à RTP3, mostrando-se muito crítico de um entendimento do PS à sua esquerda.
“Num país profundamente centralizado, lançar uma candidatura vencedora a partir de uma cidade que não a capital do país, é uma tarefa muito próxima do impossível”, Rui Rio, em estilo calimero, num artigo no Jornal de Notícias em que justifica a não candidatura a Belém.
“Ou o Bloco e o PCP estão mesmo disponíveis para os papéis de troféus de caça, ou é a cabeça de Costa que Corre perigo”, João Miguel Tavares, no Público
“Quem tem biografia limpa para atacar a minha honra?”, Dilma Rousseff, presidente brasileira, depois de o Supermo ter travado a votação do pedido de perda de mandato.
O QUE EU ANDO A LER
Aqui há uns anos, um fenómeno literário foi a trilogia Millenium, do sueco Stieg Larsson. Quem leu os livros certamente se recorta do seu ritmo frenético, da teia policial-cibernética que nos deixava sem fôlego e terá levado muitos, como eu, a irem a altas horas comprar o volume seguinte a uma FNAC com receio de entretanto acabarem um dos livros e não terem o seguinte para voltarem a mergulhar naquelas páginas.
Agora, Lisbeth Salander e o jornalista Mikael Blomqvist voltam às nossas vidas. Com uma nuance, que é mais que uma nuance. O autor dos livros morreu entretanto. Mas a fórmula foi um sucesso tal que a trilogia deu origem a um novo livro, agora chegado às bancas, “A Raparida Apanhada na Teia de Aranha”, de David Lagercrantz, convidado pelos herdeiros de Larsson para dar seguimento à história.
Já li o novo livro. Recomendo, sobretudo para os amantes da trilogia. Os ingredientes estão lá todos. Crime, NSA, espiões, máfias russas, ritmo alucinante. Claro que a fórmula acaba por se esgotar ou cansar, e embora se possa dizer que o quarto volume já não é a mesma coisa, ainda assim são umas horas bem empregues. E para quem segue avidamente a loucura da vida política portuguesa, mergulhar no submundo de Estocolmo até parece história de embalar bebés.
Deixo-lhe ainda outra sugestão de leitura, encontrada quando andava a navegar na redes sociais. No site True Activist apareceu esta história:
Do que trata? Simples como isto: Uma das mais icónicas fotos de desporto de sempre, e de certeza que se lembra, é aquela imagem de dois atletas negros americanos que no pódio das olimpíadas do México de 68 levantaram o punho direito em sinal de protesto. A imagem ficou para a história. Mas a história menos contada é do atleta branco que também estava no pódio. Que, afinal, era tão ou mais herói pelos direitos cívicos e humanos que os outros dois. Mas que acabou ignorado e ostracizado. Acredite no que lhe digo, leia esta impressionante história de vida. Um verdadeiro exemplo. O nome? Peter Norman.
A ver ando a quinta temporada de Homeland. Que hoje tem o segundo episódio. Aqui, caso não se lembre, tem um resumo do que mais importante se passou para trás, nas quatro séries anteriores.
E pronto, por hoje é tudo.
Tenha uma grande quinta-feira
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