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Um dia no Parlamento, entre o smile para Costa e o LOL de Passos
O "Feitiço do Tempo" é um filme incrível sobre um tipo que é meteorologista e revive o mesmo dia, todos os dias, até encontrar forma de quebrar o enguiço - como em todas as fábulas, é salvo pelo amor, no limite, depois de passar pela euforia e pela depressão de estar encurralado no tempo e no espaço, nos anos 90, numa cidade da Pensilvânia. Ora, o que é que isto tem a ver com título desta newsletter? A sensação que todos nós temos (e que roça a demagogia, bem sei) quando olhamos para o Parlamento: já vi este filme antes.
Sobretudo, já o vi neste trecho da Ângela Silva e do Bernardo Ferrão, que estiveram em São Bento para nos contar como foi: "Aliás, Mário Centeno não só endossou à Europa respostas sobre o Banif como replicou os argumentos que o governo de direita sempre usou quando era questionado sobre o Novo Banco: não deve ser o poder político mas sim o Banco de Portugal e o fundo de resolução a vigiarem a situação." Ou seja, o que era criticável em quem antes mandava, é criticável em quem manda agora.
Sabem o que aconteceu neste momento? Passos, que não falou, chorou a rir e este foi um dos episódios que marcaram a estreia de António Costa nas suas novas funções. Outro foi quando Mário Centeno foi comparado a Marx - não a Karl, mas a Groucho, o mítico comediante.
O PM apresentou 13 medidas no segundo debate sobre a legislatura e este foi o primeiro teste à solidez da triple entente da esquerda. O Observador anotou as reações do BE, do PCP, do PAN e d'Os Verdes, às coisas que Costa e o PS e viu palmas, sorrisos e rostos fechados. O Expresso fez parecido e reparou que nem comunistas nem bloquistas celebraram um dos sound bites de Costa: "Este Governo não servirá os portugueses contra a União Europeia". Isto não é para negociar, é para se ir negociando. E Costa, disse a mulher deste à Caras, é um bom ouvinte.
Mas o que promete o XXI Governo? Deixo-vos algumas linhas:
35 milhões de euros de fundos de apoio ao Sistema de Garantia Mútua
o "Programa Semente" para o empreendedorismo
Redução da taxa do IVA para 13% na restauração
manter o défice abaixo dos 3%
reverter as concessões aos privados dos transportes públicos de Lisboa e do Porto
Se quiser ler o programa, vá por aqui. Se quiser ver onde isto vai dar, ligue-se ao Expresso durante o dia e sente-se confortavelmente: Passos e Portas falarão e o PSD/CDS-PP apresentará uma moção de rejeição ao Governo que será chumbada no Parlamento no qual manda a esquerda.
Isto quer dizer, que é hoje que Costa e os seus entram em plenitude de funções. E já não vão cedo, de acordo com os Sindicatos, que, segundo o DN de hoje, querem pressionar o PM a mudar rapidamente o estado das coisas.Fala-se em greves.
OUTRAS NOTÍCIAS
Entretanto, no desporto
A história começa no Benfica, que transmite os seus jogos em casa, e que, por isso, estava à vontade para ouvir argumentos (€) e para contra-argumentar (€). Ouviu da NOS as coisas que queria e ficou fechado o maior negócio de sempre do futebol português: €400 milhões durante dez anos, em troca dos jogos do clube em casa e da BTV. (Este negócio foi explicado neste jornal, na terça-feira). Morre à nascença a ideia da centralização dos direitos televisivos que Pedro Proença e a Liga de Clubes procuravam neste mandato do ex-árbitro. Mas isto não ficará por aqui.
Porque a MEO (que será Altice) e a NOS andam de filofax numa das mãos a contactar clubes para lhes proporem os negócios que têm na outra. A MEO (Altice) está a oferecer aos emblemas mais pequenos entre dois a três milhões de euros para que estes lhes cedam os direitos de transmissão. Há duas nuances: têm de rescindir com a SportTV (contratos acabam em 2018) e ficar em exclusivo na plataforma da operadora. Segundo o Expresso, o Boavista pode estar a morder o isco. Isto acontece no momento em que a Liga Espanhola anuncia ter vendido os seus direitos televisivos por 2.650 milhões de euros (2016 a 2019).
Já que estamos a falar de futebol, ontem houve União da Madeira - FC Porto, jogo em atraso da 9.ª jornada que acabou antes de chegar a metade: 3-0 ao intervalo, 4-0 no final. Os golos foram de Herrera, Brahimi, Corona e Danilo; a frase da noite foi de Lopetegui: "Adormecemos o jogo? Sim, fomos a casa fazer uma sesta e voltar."
Para rematar o assunto, uma notícia surpreendente: sabe quem é o novo treinador do Valencia, o tal que há dias despediu Nuno Espírito Santo? Gary Neville, o defesa direito que se fez comentador, colunista, e selecionador-adjunto de Inglaterra. Não tenho nada contra ele, mas lembrei-me de três coisinhas: Gary Neville não tem experiência como técnico principal; Gary Neville é amigo do dono, Peter Lim, que é amigo de Jorge Mendes, o facilitador de serviço e de serviços; e Gary Neville é irmão de Phil Neville, há bem pouco adjunto de Espírito Santo e agora braço direito do mano mais velho. O que dizem os espanhóis nestas alturas? Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.
Lá fora,
Nos EUA, três atiradores dispararam sobre dezenas de pessoas em San Bernardino, na California, no Inland Regional Center, um edifício de serviços sociais daquele lugar. A contagem de corpos ainda não estava completa na madrugada, mas o número já ia nos 14 mortos. Barack Obama reagiu: "Temos um padrão de massacres como este que não tem paralelo noutro sítio do mundo." O presidente dos EUA propõe que se repense a lei das armas. A propósito disto, recordemos um trabalho do Guardian sobre incidentes estúpidos de homens e mulheres que pegam em armas e matam ou ferem indiscriminadamente - são quase mil, neste ano apenas.
Em Paris, a Cimeira do Clima continua como a chuva miudinha, que molha mas não ensopa, e só incomoda. As negociações estão tão enroladas que obrigaram Laurent Fabius, ministro dos negócios francês, a dizer isto: "A minha mensagem é clara, temos de acelerar o processo porque temos muito trabalho pela frente." Um representante do Greenpeace confessou ao Guardian que a Cimeira está "bastante confusa", porque há "grupos de contacto", "grupos de spinning", "encontros formais e informais" a atrasar conversas. Vejamos: lá dentro estão reunidos negociadores de 195 países diferentes que tentam chegar a um (atenção ao trava-línguas) pacto para aplacar o impacto da poluição no meio ambiente. Convenhamos, são muitos egos, talvez egos a mais. A Cimeira do Clima acaba a 6 de dezembro.
O que nunca acaba é o clima de escandaleira no Brasil. Na tarde de ontem no lado de lá do atlântico, noite dentro no lado de cá, Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, aceitou, finalmente, o pedido de destituição de Dilma Rousseff. Se gostam da série House of Cards, vão gostar disto: Eduardo Cunha, do PSDB, luta para se manter no cargo por estar implicado no caso Lava Jato e o seu lugar está em perigo porque três deputados do PT, de Dilma, votaram a favor da sua impugnação. "Isto não é vingança", diz Cunha. E isto pode não ser suficiente para retirar Dilma da presidência, mas chega para mergulhar o Brasil numa crise política, à qual se junta a financeira e a social. A "presidenta" poderá ter de abdicar do seu poder durante 180 dias enquanto o Senado procede a um inquérito. [Divirta-se com os memes que já circulam nas redes sociais]
A fechar, fique a saber que o Parlamento inglês aprovou (397 votos a favor, 223 contra) o bombardeamento de posições do Daesh na Síria. A discussão entre Conversadores e Trabalhistas - ou melhor, entre Cameron e Corbyn - foi dura e, sobretudo, ideológica,
FRASES
Este é um best of retirado do Parlamento:
"[A promessa da devolução de parte da sobretaxa] "é uma monumental fraude eleitoral" António Costa, a evitar duas palavras: colossal, em vez de monumental; e desvio, em vez de fraude
"Confirmámos que a sobretaxa era um embuste, que mais descobriremos a seguir?" Jerónimo Sousa, à Jacques Costeau.
"A fatura virá" Luís Montenegro, um portista a fazer lembrar Mourinho, nos tempos do portismo
"[LOL]" Passos Coelho, que não falou mas riu a bom rir ao ouvir Centeno
O QUE ANDO A LER
O livro não faz o meu estilo, mas a figura e a fama de Malcolm Gladwell foram-me deixando curioso nestes últimos anos. Queria perceber como é que este tipo conseguia escrever, descrever, explicar-nos e contar-nos a ciência e a economia e a vida recorrendo a metáforas mas também a exemplos concretos do quotidiano. E pedi o Blink emprestado. A obra tem uma premissa poderosa ("The Power of Thinking Without Thinking") e relata-nos estudos e acontecimentos que legitimam aquilo que dizemos sobre as primeiras impressões - que são as mais certeiras. Às tantas, Gladwell entrevista um homem que ganha a vida a filmar pequenos diálogos de casais num ambiente fechado e percebe, num instante, se o homem e a mulher se vão aguentar ou se se vão separar. E tem tudo a ver com o que se pensa muito antes de se pensar, lá está. É o instinto.
E o meu diz-me que amanhã, no Expresso Curto, teremos uma reflexão histórica da direita e da esquerda, e de Costa de Passos, sobre tudo aquilo que se anda a passar nos corredores do Parlamento. O Henrique Monteiro, que foi atleta e toca piano, contar-lhe á o que precisa de saber, com genica de um pulo e a destreza de um glissando. Hoje, vá passando os olhos no nosso site, às 18h tome um chá tardio com o Expresso Diário e não se esqueça que cada dia da semana que passa, é menos um dia que falta para chegar o fim de semana - e o Expresso.
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