sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

coisas da educação [ensino vocacional]... resultados da sondagem [via com regras]... reflexões para o fim de dia...!

Resultados da Sondagem | O ensino vocacional deve manter-se no ensino básico?

by Alexandre Henriques

Ficam os resultados e a análise de Paulo Guinote. Obrigado por votarem ;)

Ensino vocacional

 

Vocações Precoces

 

Paulo GuinoteEstou em claro desacordo com aqueles colegas que acham que o vocacional, sim senhor, até pode continuar, desde que lhe sejam feitas algumas alterações, alguns remendos, que o tornem melhor. O meu problema é que não sei bem que alterações podem ser feitas de modo a tornar algo que está, em meu entendimento, errado na sua própria lógica, muito em especial no que se relaciona com o Ensino Básico.
Se me disserem que o vocacional, neste sistema pretensamente dual, pode ser aplicado no Ensino Secundário, a alunos com mais de 15 anos, em situação de pré-entrada no mercado de trabalho após os 18 anjos, ainda posso aceitar. Mas como solução na partir dos 12-13 anos, no Ensino Básico acho-o uma mistificação, uma fraude completa, um engano servido aos alunos e respectivas famílias como saída para o insucesso escolar e às escolas e professores como solução para “limpar” esse insucesso das pautas de provas finais e circunscrever a maioria dos alunos problemáticos a turmas específicas, deixando em paz as restantes. Algo cuja aceitação pode ser compreensível em quem está muito desgastado com todo o peso do quotidiano, mas que está longe de ser uma solução razoável a médio prazo em todos os restantes aspectos. Não me parece que a fórmula “então, onde é que os metemos e o que fazemos com eles?” seja o método mais adequado para lidar com o risco de abandono e insucesso a partir do 2º ciclo de escolaridade, enquanto se finge que as “vocações” precoces são exactamente aquelas que se encaixam no perfil de qualificações ou 2vocação” dos professores disponíveis para levar estes projectos adiante. Mas podemos fingir. E auto-avaliar como bom, ou mesmo a raiar a excelência, aquilo que mais não é do que um truque e que, na prática concreta de muitas realidades, é apenas uma fast lane para despachar alunos com um mínimo de competências gerais e um certificação vocacional que nenhum empregador leva mesmo a sério. Há excepções, claro que há excepções. Se não existissem, nem dávamos pelas regularidades.
Vou procurar explicar de forma breve porque acho que no plano macro e micro os alegados cursos vocacionais até podem ser “úteis” na base de uma forma errada – e barata – de lidar com as estatísticas do insucesso e abandono escolar, ao mesmo tempo que se pisca o olho aos professores que querem expurgar as suas turmas de indesejáveis, pelo que apoiam a sua arrumação algures.
No plano da macro-escala, o encaminhamento de alunos com historial de insucesso para turmas de “ensino vocacional” é um modo de lhes dar um caminho que, evitando os exames ou provas finais, traz vantagens no curto prazo a todos. Os alunos porque ficam com o sucesso quase garantido (são muitas as exigências formais de rigor que na prática de quem aparece a inspeccionar não passam de garantias de responsabilização dos professores pelo insucesso dos alunos) e o Ministério da Educação porque pode apresentar estatísticas maravilhosas de certificação de tipo profissionalizante, sem que seja feito investimento sério numa verdadeira formação profissional a partir das escolas. Para os mais distraídos, esses dinheiros passaram a seguir para outros alfobres, os das formações dadas nas próprias empresas que nunca dariam um posto de trabalho sem verificação prévia de competências que estágios de um mês, arrancados a ferros, não podem garantir. Salvo as tais excepções. A via vocacional que nasceu da crítica aos CEF e PCA, negando-lhes as adaptações que agora querem para ela, tem problemas maiores para resolver do que aquelas vias tinha, Para além de quem amputa de forma bem mais precoce a formação básica dos alunos em áreas gerais do conhecimento em troca de um afunilamento para formações “específicas” que fazem pouco sentido ou terão dificuldade em progredir sem noções fundamentais das tais disciplinas gerais. Não é a partir do 5º, 6º ou 7º ano que se trunca alegremente um currículo generalista – retirando-lhes a História, a Físico-Química ou reduzindo os conteúdos da Matemática e do Português a caricaturas – sem consequências a médio e longo prazo. A concepção de ensino subjacente ao vocacional é do mais oitocentista possível.
À micro-escala, a criação de cursos vocacionais resulta da combinação da pressão da tutela sobre os órgãos de gestão no sentido de assegurarem essa “oferta” e assim coreografarem um combate ao “insucesso” em troca de uma avaliação de excelência nas lideranças, com a sensação de alívio que traz uma “alternativa” que arruma os alunos mais problemáticos em turmas “especiais”, para que seguem tanto professores que até tentam fazer o seu melhor nestas condições quanto outros que, na ausência de pessoal voluntário disponível, se vêem a braços com grupos de alunos heterogéneos, com perfis de aprendizagem muito diversos, sem uma verdadeira coerência “vocacional” para as áreas específicas disponíveis. Sendo que as exigências formais de rigor na assiduidade e avaliação, com alunos que têm um percurso contrário a esse tipo de práticas, desaguam quase sempre num malabarismo por parte dos DT e dos professores para simularem que a falta de assiduidade foi justificada e que a avaliação é mesmo uma avaliação e não mais uma simulação porque, afinal, aqueles alunos não estão ali para terem insucesso outra vez. E eles rapidamente percebem isso e todos os vícios de um sistema destes. O que, depois, lhes falta perceber é que ou a formação específica e pretensamente profissionalizante de nada lhes vale aos 14-15 anos e aos 17-18 só serve para terem um certificado na gaveta, pois a generalidade dos empregadores não a leva a sério e dificilmente a considera um factor decisivo na contratação do seu pessoal. Salvo, excepções, claro, que são sempre excepcionais.
Mas podemos fingir. Ou levar as coisas a sério, cheios de boas intenções, e ficarmos a pensar que aquilo que vemos não é a a realidade, que a realidade são os papéis a dizer o contrário.

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