"A recente regra que, em nome do economicismo que está a desmantelar o que de bom ainda resta na Escola Pública (maiúsculas propositadas), proíbe a abertura de disciplinas de opção com menos de 20 alunos é a estocada final no ensino do Latim e do Grego no sistema público de ensino secundário em Portugal.
Num país que tem aversão à sabedoria, às coisas difíceis, à maturação do raciocínio, ao esforço e concentração intelectuais, à reflexão demorada, ao pensamento abstrato, ao conhecimento de matérias sem visibilidade ou aplicação aparentemente imediatas – onde, em suma, as “ciências da comunicação” ou a “organização de eventos” estão mais cotadas, social e academicamente, do que a matemática, a física, a química, a história, a filosofia e a gramática, onde o lema dos concursos televisivos com maiores audiências parece ser “quanto mais boçal melhor”, onde os pais preferem inscrever os filhos em Espanhol em vez de Francês baseados na suposta maior facilidade daquele e na miragem de que tal escolha lhes abrirá um dia as portas de Medicina em Salamanca –, era esta a medida que faltava para acabar de vez com as línguas clássicas na oferta curricular efetiva em Portugal.
Como se não bastasse a sacrossanta pergunta de pais, professores e diretores de escola – “Latim e Grego para quê??!!” – impõem-se agora duas perguntas ainda mais desesperantes: “Latim e Grego onde?”; “Latim e Grego como?”.
Trata-se de uma situação que me incomoda. Incomoda-me como ex-aluno de Latim, como professor de Humanidades, como estudioso e especialista de Português, como pai de um jovem de 15 anos que quer ser arqueólogo e que quer muito matricular-se em Latim e Grego no 10º ano já no próximo ano letivo e incomoda-me como cidadão que, com a companhia de muitos outros compatriotas, quer um país culto, informado, sábio, melhor, mais elevado e mais instruído."
Num país que tem aversão à sabedoria, às coisas difíceis, à maturação do raciocínio, ao esforço e concentração intelectuais, à reflexão demorada, ao pensamento abstrato, ao conhecimento de matérias sem visibilidade ou aplicação aparentemente imediatas – onde, em suma, as “ciências da comunicação” ou a “organização de eventos” estão mais cotadas, social e academicamente, do que a matemática, a física, a química, a história, a filosofia e a gramática, onde o lema dos concursos televisivos com maiores audiências parece ser “quanto mais boçal melhor”, onde os pais preferem inscrever os filhos em Espanhol em vez de Francês baseados na suposta maior facilidade daquele e na miragem de que tal escolha lhes abrirá um dia as portas de Medicina em Salamanca –, era esta a medida que faltava para acabar de vez com as línguas clássicas na oferta curricular efetiva em Portugal.
Como se não bastasse a sacrossanta pergunta de pais, professores e diretores de escola – “Latim e Grego para quê??!!” – impõem-se agora duas perguntas ainda mais desesperantes: “Latim e Grego onde?”; “Latim e Grego como?”.
Trata-se de uma situação que me incomoda. Incomoda-me como ex-aluno de Latim, como professor de Humanidades, como estudioso e especialista de Português, como pai de um jovem de 15 anos que quer ser arqueólogo e que quer muito matricular-se em Latim e Grego no 10º ano já no próximo ano letivo e incomoda-me como cidadão que, com a companhia de muitos outros compatriotas, quer um país culto, informado, sábio, melhor, mais elevado e mais instruído."
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