"Os portugueses são dos “menos produtivos do mundo”, “muito ineficientes” e pensam que ser “ambicioso é negativo”, afirma.
O fundador do Conselho da Diáspora Portuguesa defende que às universidades falta reconhecimento internacional e aos trabalhadores portugueses uma melhor capacidade de autopromoção. Licenciado na Universidade Nova e com o MBA em Columbia, António Simões não vê que Portugal possa competir nos mercados internacionais pelos baixos salários, mas lembra que tudo depende da saúde da economia nacional.
Foi aluno da Nova e chegou à presidência de um banco inglês. As escolas nacionais estão ao nível das internacionais?
A Nova, claramente, tenho fazer alguma publicidade. Para ser honesto, também a Católica como a Faculdade do Porto são universidades que nos rankings internacionais têm tido reconhecimento e recebido muitos prémios. Formei-me há quase 17 anos e o sistema da Nova já era muito baseado no sistema norte-americano, com um corpo docente óptimo. Comparando o lado técnico, fiz o mestrado na Universidade de Columbia, uma das melhores do mundo, e aprendi mais na Nova. A preparação ao nível académico e técnico é muito forte, mas falta visibilidade que, apesar dos ‘rankings', ainda não é suficiente. Faltam-nos a reputação.
As universidades nacionais ainda não são um bom cartão de visita internacional?
As universidades nacionais ainda não são um bom cartão de visita internacional?
No HSBC são, porque sou português. Anualmente organizo uma apresentação em Londres para que estudantes portugueses possam falar com as pessoas do banco. Depois, o processo é o mesmo para todos, a meritocracia é uma questão importante. Estive em Columbia e acabei no Goldman Sachs. Fizeram-me três entrevistas e apresentaram a proposta, é a diferença. O Goldman Sachs não vem a Lisboa, os portugueses têm de ir a Londres ou a Nova Iorque. Os alunos são óptimos, menos num ponto. Não se apresentam nem se vendem bem e acham que ser ambicioso é uma coisa negativa. Somos o oposto dos norte-americanos, eles vendem-se muito bem e têm pouco conteúdo, nós temos óptimo conteúdo, mas vendemo-nos pouco.
Qual é a percepção dos portugueses nos mercados ?
Ninguém conhece bem Portugal. Obviamente que em Inglaterra e Espanha conhecem, mas na Ásia ou nos EUA há um desconhecimento total. Somos vistos de uma forma neutra, o que é bom porque ninguém tem nada contra Portugal, não somos uma nação odiada. Por outro lado, o que sabem também é um pouco condescendente, é um país acolhedor, simpático, com bom tempo e, quem conhece um pouco mais, sabe da História. Em relação aos portugueses, a imagem é que são trabalhadores, honestos e desenvencilhados. É uma imagem relativamente positiva, mas a maior marca é o desconhecimento.
Numa altura em que em Portugal se discute o ordenado mínimo, é possível estar motivado com um salário de 450 euros?
Portugal não pode competir somente pelos salários baixos, não pode ser o ponto de diferenciação. Como economia, temos pontos fortes que não vendemos suficientemente bem. Temos um nível de educação alto, uma infraestrutura boa, uma posição geográfica única e um funcionamento institucional que não é mau. Em quase todos os ‘rankings' da facilidade para se fazer negócios somos melhores que Espanha, Grécia ou Itália, mas é uma coisa que não vendemos. Mas tem de existir uma relação qualidade/preço, o nível salarial é um reflexo directo da competitividade do país, da oferta e da procura. Se a economia se tornar mais produtiva, os salários têm de subir. Temos de nos diferenciar pela qualidade a bom preço. Não vamos ter os salários mais altos da Europa porque não há economia que sustente isso, mas temos de ter salários que sejam sustentáveis no longo prazo.
O maior pecado do português é não se saber vender?
Trabalhei pouco tempo em Portugal, mas o grande problema é que somos dos menos produtivos do mundo. Inteligentes, bem formados, com história, capacidade de trabalho e muito dedicados, mas nunca se chega a horas, as reuniões não são bem preparadas, somos muito ineficientes. O segundo problema é que somos pouco positivos. Um português vê as dez razões porque algo é difícil ou as cinco que a vão tornar impossível. Para os norte-americanos, tudo é óptimo, são todos acima da média, o que até é matematicamente impossível. Estão no outro extremo e precisávamos um pouco desse espírito positivo.
E a melhor mais valia?
É a adaptabilidade. É quase genético, temos uma história de adaptação, de abertura ao mundo e de versatilidade, é um pouco lugar comum, mas temos a capacidade de nos adaptar a locais e culturas diferentes."
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