no educare...
"“A escola deve abandonar o seu modelo coercivo e de seleção, encontrando
formas de motivar os alunos, sem diminuir a qualidade das
aprendizagens”, escrevem Isabel Flores, estudante de Doutoramento em
Políticas Públicas, Rosário Mendes, pós-graduada em Análise de Dados em
Ciências Sociais, e Paula Velosa, também pós-graduada em Análise de
Dados em Ciências Sociais, todas do ISCTE, num texto que faz parte dos
contributos da investigação em educação do relatório Estado da Educação
2013 do Conselho Nacional de Educação (CNE). “O que se passa que os
alunos não passam?” é o título do documento que coloca o dedo em várias
feridas e onde se lê que Portugal terá mais problemas ao nível da
inclusão do que da exigência, uma vez que os alunos com sucesso têm um
excelente desempenho nos testes internacionais.
O que se passa então? Sabe-se que reter alunos não significa melhores aprendizagens e objetivos pedagógicos cumpridos. E que acabar com o problema das retenções passa pelo envolvimento de toda a sociedade com repartição de responsabilidades. As investigadoras esmiuçaram dados recolhidos pela OCDE, em 2009 e 2012, através do PISA – Programme for Internacional Student Assessment – que afere os conhecimentos em relação à Leitura, Matemática e Ciências dos alunos de 15 anos de diversos países. Em Portugal, em 2012, foi recolhida uma amostra de 5.722 alunos de 195 escolas e as taxas de participação foram elevadas: 96% para as escolas, 87% para os alunos e 85% para os pais.
Os alunos portugueses apresentam classificações similares à média da OCDE, mas afasta-se, pela negativa, no caso das retenções. “Segundo dados do PISA 2012, cerca de 35% dos alunos com 15 anos já repetiram pelo menos uma vez”. Anos em atraso, menos conhecimentos. “A situação torna-se ainda mais grave ao verificarmos que o número de duas ou mais repetições é o maior da Europa, sendo que 75% dos alunos já repetiram duas vezes ou mais”, escrevem as investigadoras. Se os alunos que já repetiram não entrassem na avaliação do PISA, a classificação seria “absolutamente fantástica” e o país chegaria ao oitavo lugar. Por outro lado, os resultados seriam desastrosos se apenas fossem contabilizados alunos com pelo menos uma repetição. O que demonstra que os alunos retidos são os que “não atingiram um patamar satisfatório de conhecimentos”.
Há resultados elucidativos: alunos do 9.º ano que nunca repetiram obtêm uma média de 504 a Matemática e alunos que já repetiram uma vez, no mesmo ano, obtêm 440. “Estes resultados mostram bem que se trata de alunos com dificuldades de aprendizagens que não são corrigidas pela repetição de ano”, sublinham. Há dois aspetos importantes que podem ajudar a melhorar o desempenho escolar dos alunos e que não devem ser colocados de parte: o prazer na leitura e as estratégias de estudo. “Se a leitura for de acesso fácil é mais provável que os alunos leiam e logo aumentem a sua possibilidade de sucesso escolar”. Os estímulos à leitura na infância são, por isso, fundamentais. “Se se utilizar o ESCS [Estatuto Económico, Social e Cultural] como variável de controlo conclui-se que, de uma forma agregada, para o mesmo nível económico, social, cultural, as raparigas têm uma menor possibilidade de repetir anos, assim como os alunos com maior prazer na leitura e aqueles que apresentam técnicas de estudo mais eficazes”, sustentam as investigadoras.
Visitar a escola por bons motivos
O que se passa então? Sabe-se que reter alunos não significa melhores aprendizagens e objetivos pedagógicos cumpridos. E que acabar com o problema das retenções passa pelo envolvimento de toda a sociedade com repartição de responsabilidades. As investigadoras esmiuçaram dados recolhidos pela OCDE, em 2009 e 2012, através do PISA – Programme for Internacional Student Assessment – que afere os conhecimentos em relação à Leitura, Matemática e Ciências dos alunos de 15 anos de diversos países. Em Portugal, em 2012, foi recolhida uma amostra de 5.722 alunos de 195 escolas e as taxas de participação foram elevadas: 96% para as escolas, 87% para os alunos e 85% para os pais.
Os alunos portugueses apresentam classificações similares à média da OCDE, mas afasta-se, pela negativa, no caso das retenções. “Segundo dados do PISA 2012, cerca de 35% dos alunos com 15 anos já repetiram pelo menos uma vez”. Anos em atraso, menos conhecimentos. “A situação torna-se ainda mais grave ao verificarmos que o número de duas ou mais repetições é o maior da Europa, sendo que 75% dos alunos já repetiram duas vezes ou mais”, escrevem as investigadoras. Se os alunos que já repetiram não entrassem na avaliação do PISA, a classificação seria “absolutamente fantástica” e o país chegaria ao oitavo lugar. Por outro lado, os resultados seriam desastrosos se apenas fossem contabilizados alunos com pelo menos uma repetição. O que demonstra que os alunos retidos são os que “não atingiram um patamar satisfatório de conhecimentos”.
Há resultados elucidativos: alunos do 9.º ano que nunca repetiram obtêm uma média de 504 a Matemática e alunos que já repetiram uma vez, no mesmo ano, obtêm 440. “Estes resultados mostram bem que se trata de alunos com dificuldades de aprendizagens que não são corrigidas pela repetição de ano”, sublinham. Há dois aspetos importantes que podem ajudar a melhorar o desempenho escolar dos alunos e que não devem ser colocados de parte: o prazer na leitura e as estratégias de estudo. “Se a leitura for de acesso fácil é mais provável que os alunos leiam e logo aumentem a sua possibilidade de sucesso escolar”. Os estímulos à leitura na infância são, por isso, fundamentais. “Se se utilizar o ESCS [Estatuto Económico, Social e Cultural] como variável de controlo conclui-se que, de uma forma agregada, para o mesmo nível económico, social, cultural, as raparigas têm uma menor possibilidade de repetir anos, assim como os alunos com maior prazer na leitura e aqueles que apresentam técnicas de estudo mais eficazes”, sustentam as investigadoras.
Visitar a escola por bons motivos
O
impacto da liderança nas escolas é um aspeto a valorizar quando o
assunto é retenções. Nesse sentido, aconselham-se os diretores a
refletir sobre o seu papel na escola “e tentar estabelecer mecanismos de
utilização de autonomia escolar para intervir na melhoria dos
resultados dos alunos”. Neste ponto, as investigadoras salientam que, em
Portugal, os diretores admitem nunca dar aulas de substituição de
professores em falta – 92,7% referem que nunca ou quase nunca – e também
admitem não ser prática observar aulas – 91,5% dizem que esta prática
nunca ou quase nunca acontece. “Mais de 50% também se considera afastado
do trabalho de monitorização dos alunos. Por outro lado, estão muito
empenhados na formação contínua de professores e em garantir que o
projeto pedagógico da escola seja cumprido por todos”. Em comparação com
o estudo internacional, os líderes das escolas portuguesas “assumem
menos responsabilidades de liderança do que os seus pares”.
A dimensão da escola tem uma correlação com a possibilidade de repetir anos. “Verifica-se que os alunos que estão inseridos em comunidades de maior dimensão têm mais possibilidades de sucesso e que a atual liderança das escolas em nada afeta a possibilidade de não repetir o ano”. O facto de ser uma escola pública ou ser privada não se mostrou relevante na questão do sucesso, sem peso no modelo global, “possivelmente devido ao desnível qualitativo das amostras, dado que apenas 13% dos alunos de 15 anos frequentam escolas do ensino privado e cooperativo, e que a taxa de repetição de ano é mais baixa para as escolas privadas, refletindo possivelmente a diferença de ESCS”.
Dados analisados, as investigadoras fazem algumas recomendações que, admitem, “podem parecer simples e até óbvias”, mas que não são demais lembrar e que estão aliçercadas nos resultados. Aos alunos, que leiam, que aprendam a gostar de ler para trabalhar a língua, a interpretação, a concentração, a cultura. E no estudo, não vale a pena saber tudo de cor, importante é estruturar o estudo, compreender conceitos. “Repetir vezes sem conta o mesmo procedimento e esperar que o resultado seja diferente não vale a pena”. Os pais devem rechear a casa com materiais de leitura e acesso a informação, estimular as brincadeiras, e visitar a escola por bons motivos. “Não vale a pena ir falar com os professores porque as coisas estão a correr mal, a probabilidade é de correrem ainda pior”.
As escolas devem, por seu turno, repensar procedimentos, aumentar a participação dos professores e diretores na vida e gestão escolares, apostar numa autonomia educativa vocacionada para ensinar e não tanto para avaliar. “Repetir o ano, por si só, não contribui para uma melhor aprendizagem. Embora não acreditemos que os alunos devam transitar sem atingir patamares mínimos de conhecimento, é importante pensar em estratégias para evitar que os alunos cheguem a um ponto sem retorno”. Ao Governo, fica a chamada de atenção para que invistam e implementem políticas de combate à desigualdade económica, social e cultural, uma das “grandes responsáveis pelo insucesso de aprendizagem”. Políticas que passam não só por apoios financeiros, mas pelo aumento da escolaridade de adultos e contribuições efetivas para a aquisição de mais cultura.
Portugal tem uma média de 14% de retenções, percentagem superior à média da OCDE. Retenções significam custos para o país. Se cada aluno custa, em média, 4.415 euros por ano, e com os dados disponíveis, o custo direto para o país é de cerca de 200 milhões de euros. E o que se poderia fazer com esse dinheiro? Diminuir o número de reprovações? Contratar mais professores? Melhorar quanta escolas? Quantos programas de apoio dariam para implementar? Quantas famílias poderiam melhorar o seu nível económico, social e cultural? As três investigadoras fazem essas perguntas. E não só. “Se ao custo direto se acrescentar o facto de que estes alunos têm expetativas de formação muito inferiores aos alunos que nunca repetiram, este é um custo que se perpetuará por vidas inteiras, tanto a nível financeiro, como de capacidade criativa e produtiva destes jovens, e consequentemente contribuição em capital humano e financeiro para todo o sistema”. Setenta por cento dos alunos que nunca repetiram querem ir para a universidade, número que desce para 30% dos estudantes repetentes."
A dimensão da escola tem uma correlação com a possibilidade de repetir anos. “Verifica-se que os alunos que estão inseridos em comunidades de maior dimensão têm mais possibilidades de sucesso e que a atual liderança das escolas em nada afeta a possibilidade de não repetir o ano”. O facto de ser uma escola pública ou ser privada não se mostrou relevante na questão do sucesso, sem peso no modelo global, “possivelmente devido ao desnível qualitativo das amostras, dado que apenas 13% dos alunos de 15 anos frequentam escolas do ensino privado e cooperativo, e que a taxa de repetição de ano é mais baixa para as escolas privadas, refletindo possivelmente a diferença de ESCS”.
Dados analisados, as investigadoras fazem algumas recomendações que, admitem, “podem parecer simples e até óbvias”, mas que não são demais lembrar e que estão aliçercadas nos resultados. Aos alunos, que leiam, que aprendam a gostar de ler para trabalhar a língua, a interpretação, a concentração, a cultura. E no estudo, não vale a pena saber tudo de cor, importante é estruturar o estudo, compreender conceitos. “Repetir vezes sem conta o mesmo procedimento e esperar que o resultado seja diferente não vale a pena”. Os pais devem rechear a casa com materiais de leitura e acesso a informação, estimular as brincadeiras, e visitar a escola por bons motivos. “Não vale a pena ir falar com os professores porque as coisas estão a correr mal, a probabilidade é de correrem ainda pior”.
As escolas devem, por seu turno, repensar procedimentos, aumentar a participação dos professores e diretores na vida e gestão escolares, apostar numa autonomia educativa vocacionada para ensinar e não tanto para avaliar. “Repetir o ano, por si só, não contribui para uma melhor aprendizagem. Embora não acreditemos que os alunos devam transitar sem atingir patamares mínimos de conhecimento, é importante pensar em estratégias para evitar que os alunos cheguem a um ponto sem retorno”. Ao Governo, fica a chamada de atenção para que invistam e implementem políticas de combate à desigualdade económica, social e cultural, uma das “grandes responsáveis pelo insucesso de aprendizagem”. Políticas que passam não só por apoios financeiros, mas pelo aumento da escolaridade de adultos e contribuições efetivas para a aquisição de mais cultura.
Portugal tem uma média de 14% de retenções, percentagem superior à média da OCDE. Retenções significam custos para o país. Se cada aluno custa, em média, 4.415 euros por ano, e com os dados disponíveis, o custo direto para o país é de cerca de 200 milhões de euros. E o que se poderia fazer com esse dinheiro? Diminuir o número de reprovações? Contratar mais professores? Melhorar quanta escolas? Quantos programas de apoio dariam para implementar? Quantas famílias poderiam melhorar o seu nível económico, social e cultural? As três investigadoras fazem essas perguntas. E não só. “Se ao custo direto se acrescentar o facto de que estes alunos têm expetativas de formação muito inferiores aos alunos que nunca repetiram, este é um custo que se perpetuará por vidas inteiras, tanto a nível financeiro, como de capacidade criativa e produtiva destes jovens, e consequentemente contribuição em capital humano e financeiro para todo o sistema”. Setenta por cento dos alunos que nunca repetiram querem ir para a universidade, número que desce para 30% dos estudantes repetentes."
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