O PSD que olhe para a Maia, onde Belmiro de Azevedo
olhou para o Bloco de Esquerda e propôs que a Sonae passe a ter dois
presidentes. Desde que não seja Zeinal Bava e Henrique Granadeiro,
talvez funcione. Ou Marcelo e Santana, que têm em comum o amor pelo partido, o amor por deitar tarde e o amor pela Presidência. Dividirem o palácio de Belém seria inovador: um governo, uma maioria, dois presidentes…
A corrida à corrida a Belém está a transformar-se numa comédia, como se viu pelo afã com que Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Santana Lopes seconsideraram presidenciáveis,
numa interpretação criativa do que pensa Cavaco Silva. Depois de ter
falhado em 2013 uma proposta de acordo entre PS, PSD e CDS para um
governo de Salvação Nacional, o Presidente dedicou parte do prefácio do
seu livro Roteiros deste ano a desenhar o perfil do seu sucessor. Um tomo que, segundo o Nicolau Santos,
ficará “muito bem na estante a criar pó”. Se Marcelo comentasse Marcelo
diria que Marcelo soltou a franga; se Santana comentasse Santana diria
que Santana anda por aí à procura de vir para aqui. Como diria Herman
José nos anos 90, “eu é que sou o presidente da junta de salvação
nacional”.
Presidente foi Belmiro de Azevedo, quase desde o princípio até quase ao fim da sua carreira de quase 50 anos, que agora parece chegar ao fim. A proposta de que Paulo Azevedo e Ângelo Paupério dividam a presidência executiva da Sonae parece ser na prática duas passagens de testemunho:
a de Belmiro para Paulo como “chairman” (presidente não executivo); a
de Paulo para Paupério como “CEO” (presidente executivo). Paupério é um
histórico da Sonae e já em 2007 fora uma das hipóteses para a liderar.
Belmiro não é a única fotografia nas primeiras páginas do dia. O Correio da Manhã noticia que, em cinco meses, o Novo Banco descontou 13 milhões de euros para as pensões da equipa de Ricardo Salgado.
Estes descontos agravaram os prejuízos do banco, que foi o mais
perdulário de todos num ano em que, dos grandes, só o Santander teve
lucro. No Expresso Diário, somámos: os prejuízos da banca em 2014 foram de mil milhões de euros.
E isto sem contar, claro, com a anormalidade das perdas semestrais de
3,6 mil milhões com que o BES se despediu de nós em julho.
Hoje, Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, vai ser ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso Espírito Santo. Uma aposta que vai dizer que o grande desafio da banca é a rentabilidade?
O Bloco de Esquerda quer que nem mais um BES (nem mais um BPN, um BPP, um Banif, um BCP) nos ameace e fez uma proposta “para acabar com a promiscuidade na banca”. A proposta de Mariana Mortágua e Catarina Martins é simples: os bancos devem deixar de poder vender títulos que financiem grupos económicos com que tenham relações. Assim o BES não teria vendido papel comercial do GES. Segundo o Diário de Notícias, também o PSD e o CDS hão de apresentar propostas, no sentido de “apertar o cerco aos conglomerados mistos, como o GES, delimitando os negócios cruzados.”
Quem nunca tinha ouvido falar do BES era Marc Roche, autor de "Banksters - Uma Viagem ao Submundo dos Banqueiros",
que esteve em Lisboa para apresentar a obra. Como Cavaco, também Roche
escreveu um prefácio, mas sobre o colapso do BES. Roche deu uma longa
entrevista ao Expresso, que será publicada hoje no Diário. Para abrir o apetite:
os banqueiros escapam sempre, só os traders, os "soldadinhos" nos
computadores, ou os bodes expiatórios são julgados e encarcerados; os
reguladores também escapam ao juízo, saem por uma porta e entram por
outra, diz.
OUTRAS NOTÍCIAS
Dois helicópteros chocaram na Argentina nas filmagens de um “reality show”. Todos os que viajavam morreram:
dois pilotos argentinos e oito passageiros franceses, incluindo os
desportistas medalhados Florence Arthaud, Alexis Vastine e Camille
Muffat.
Nicolás Maduro pediu ao parlamento venezuelano para legislar contra a ameaça imperialista americana. É a reação à decisão de Obama de considerar a Venezuela uma ameaça à segurança nacional.
A Liga Portuguesa contra o Cancro é a entidade preferida pelos contribuintes na consignação de parte da colecta do IRS e donativo do benefícios social do IVA, noticia o Negócios. Ao todo, as Instituições Particulares de Solidariedade Social vão receber este ano 12,7 milhões.
Os encargos líquidos do Estado com parceiras público-privadas dispararam quase 60% no ano passado, para 1,544 mil milhões de euros, revela o Público. O valor está dentro das previsões, que foram refeitas para acomodar diversas derrapagens.
FRASES
“Consegue
ou não o Partido Socialista, sob a liderança de António Costa,
modernizar-se, e afirmar-se como mais liberal (essa palavra para alguns
maldita) e reformador”?, pergunta António Carrapatoso no Observador.
“O próprio Cavaco pode servir como referência [para o perfil do
próximo Presidente da República]. É com atenção como ele faz. E fazer
diferente”,Bartoon, no Público.
“O que Cavaco Silva não percebeu foi que esta simples distração [de
Passos Coelho com os seus descontos para a Segurança Social] faz ruir a
caixa-forte ideológica deste Governo”, Fernando Sobral, no Negócios.
“O caso Tecnoforma é mais grave do que o caso da Segurança Social. O
caso PT é mais grave do que o caso Tecnoforma. O caso BES é mais grave
do que o caso PT. E o caso Sócrates, a provar-se, é o mais grave deles
todos.” João Miguel Tavares, no Público.
O QUE EU ESTOU A LER
“O meu namorado do Estado Islâmico: a vida oculta de uma repórter com um terrorista”
(tradução livre) é a história de Anna Erelle, jornalista parisiense de
32 anos, que criou o perfil falso de “Melodie” nas redes sociais para
entrar em contacto com guerrilheiros no Daesh, o auto-proclamado Estado
Islâmico. Algum tempo depois, começou a “namorar” à distância com
Abou-Bilel, um jiadista na Síria. “Quando aqui chegares, serás tratada
como uma princesa”, escreveu-lhe. A relação evoluiu ao ponto de
“Melodie” se tornar conhecida na comunidade online. No final,
desmascarada, ficou ameaçada de morte: “Irmãos de todo o mundo: se a
virem, matem-na”, escreveram. A história vem contada no New York Post.
As “noivas da Jihad” são um fenómeno crescente, com centenas de
mulheres a voarem para a Síria desde a Europa para se casarem com
guerrilheiros jiadistas que nunca viram. No sábado, houve notícia pela primeira vez de uma mulher morta em combate: Ivana Hoffmann tinha 19 anos.
Não é um fim muito bem disposto da newsletter de hoje, concedo, o mundo é
o que é e a vida está como está. Mas o sol em Portugal também brilha
como brilha, neste março de adeus ao inverno. Amanhã estará aqui o
Martim Silva para lhe servir seu o Expresso Curto.
Tenha um dia bom.
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