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Hoje por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
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27 de Março de 2015 |
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Sócrates nas asas do desejo
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Bom dia! Aqui Miguel Cadete, um seu seguidor.
Eu quero um like! Outro seguidor. Uma partilha. Um retweet. Ser
favorito. E não sou o único. As redes sociais instalaram a cultura da
validação. Quem, entre nós, não quer mais seguidores, muitos likes,
muitos retweets e outras tantas partilhas? Quero dizer, eu recomendo-me e
agora vamos a votos! Não vos maço mais: hoje queremos que nos validem,
recomendem e gostem de nós. Estamos longe da afirmação sonhadora do Maio
de 68, da Internacional Situacionista ou do punk rock que entre meados
de 60 e 80 fizeram vingar o direito à diferença. Hoje só queremos
o direito à igualdade. E vem isto a propósito do artigo de Francisco
Assis publicado ontem no Público com o título “A coragem de desagradar”, sobre a lista VIP e o acesso às contribuições fiscais que tanta tinta fez correr, depois dos artigos da revista "Visão".
É de um “escasso amor pela liberdade”, diz, e de uma “doentia tendência
para a confusão entre o valor primacial da igualdade e a sua forma
degenerada que constitui o igualitarismo, vertiginosa atração por um discurso moralista de baixíssima qualificação ética” que afinal se trata.
É esse vórtice ordinário que continua a vir plasmado na capa de alguns
jornais: “Lista negra dos devedores dispara nos últimos meses” ( Jornal de Notícias)
ou “Milhões do Futebol nas Contas Secretas” (Correio da Manhã, sobre
Sócrates e direitos televisivos). Eu cá vou pelo meu camarada Nicolau
Santos que me assegura ser a primeira linha do Inferno ocupada por abstencionistas. Pois bem: sou pelo direito à diferença.
Talvez por isso, tenho um diabinho pousado no ombro esquerdo que me diz ter que falar da queda do avião da GermanWings. Andreas Lubitz, 28 anos, não disse nada mas arfava enquanto conduziu, durante oito minutos, o Airbus 320 com mais 149 pessoas a bordo contra o solo dos Alpes franceses.
É o que se ouve na gravação captada no cockpit, já depois de o
comandante ter sido deixado de fora para que o co-piloto despenhasse o
avião e destruísse tudo o que ia com ele. Coragem de desagradar,
também, mas sem que saibamos encontrar-lhe o sentido. Oito minutos em
queda livre com o piloto e, por fim, os passageiros, a rogar clemência
não revelaram até agora qualquer dever de lealdade. Nada, nem o terrorismo nos salva de entender. Quantos seguidores, quantos likes?
Já em Évora,
a advogada de Carlos Santos Silva, o amigo de José Sócrates que também
se encontra detido por fraude fiscal e branqueamento de capitais, acusou
António José Morais de estar a pressionar a mulher do seu patrocinado
para que este altere o seu depoimento, agora de maneira a comprometer o ex-primeiro-ministro.
António José Morais, que entretanto foi constituído arguido, era
professor de José Sócrates no polémico curso de Engenharia da
Universidade Independente. Foi a revista Sábado que deu conta desta
possível alteração na estratégia de defesa de Carlos Santos Silva que,
até hoje tem corroborado os depoimentos de Sócrates. Na versão do
ex-professor foi, porém, a mulher de Santos Silva quem demonstrou
interesse nessa mudança: "Disse-me que não estava a gostar da estratégia
de defesa que estava a ser seguida, que o marido estava a ser prejudicado.
Pediu-me para ir falar com ele à prisão e tentar convencê-lo a mudar o
depoimento que tinha feito." Sócrates em queda livre e, desta vez, sem
romper o segredo de justiça. Mais notícias sobre a Operação Marquês
surgiram ontem no Observador que anunciou a morte de Bart, o cão do juiz Carlos Alexandre, envenenado às mãos de quem também não queria mais likes.
OUTRAS NOTÍCIAS
Teixeira dos Santos no Montepio. A notícia é da SIC,
mais tarde repetida noutros órgãos de informação. O ex-ministro das
Finanças de José Sócrates será o próximo presidente executivo da
instituição, substituindo Tomás Correia, que passa a dirigir o conselho
geral de supervisão. A indicação de Teixeira dos Santos sucede depois da
separação da gestão da caixa económica e da associação mutualista, de
acordo com o Jornal de Negócios. Outros diriam ser o banco bom e o banco mau.
Amanhã, a Revista do Expresso divulga em rigoroso exclusivo a última sessão fotográfica de Herberto Helder.
O poeta abriu as portas da sua casa, em Cascais, ao fotógrafo Alfredo
Cunha, um mês antes de morrer; ou, para sermos mais rigorosos: foi no
dia 19 de fevereiro de 2015 que
Herberto Helder se deixou fotografar, algo que não sucedia há muito.
Manuel Alberto Valente, o editor dos seus últimos livros, o jornalista
Luís Pedro Nunes e Alfredo Cunha estiveram então com Herberto Helder
para uma curta sessão que não durou mais de 15 minutos e na qual o Poeta
se fazia acompanhar pela sua mulher, Olga. São essas imagens que o
Expresso divulga na edição em papel de amanhã (e também na sua edição
digital), junto com textos de Clara Ferreira Alves, Tolentino Mendonça,
Pedro Mexia e Ana Cristina Leonardo. Uma entrevista em Paris a Sebastião Salgado, por Jorge Calado, nas vésperas da abertura da sua exposição na Cordoaria Nacional também faz parte desta edição da Revista E.
A fama de Mariana Mortágua chegou ao Bloomberg.
A deputada do Bloco de Esquerda, que se tem distinguido na Comissão
Parlamentar Interbancária que investiga o caso BES pelo seu empenho e
argúcia tem sido elogiada amiúde nos meios portugueses. Agora chegou à
imprensa internacional e logo a um bastião da comunicação social
dedicada à informação financeira e económica (isto é, ao capitalismo).
Além da dureza das questões que coloca a quem vai testemunhar à
Comissão, no Bloomberg destaca-se também o vestuário desportivo de
Mariana, que diz ser vista a deambular em torno do Parlamento calçada
com ténis Converse All Star. A filha de Camilo Mortágua, militante da
LUAR e amigo de José Afonso, fez crescer a audiência do Canal
Parlamento. Dados da auditora GfK citados no artigo do Bloomberg dizem
que os índices subiram 45% nos dois primeiros meses deste ano face ao
período homólogo de 2014. Um dos seus vídeos conta mais de 200 mil
visualizações no YouTube e a sua página no Facebook já não aceita mais
amigos.
A ERC demonstrou dúvidas sobre a nomeação de Daniel Deusdado
para diretor de programas da RTP. A equipa apresentada pela nova gestão
(Gonçalo Reis, Nuno Artur Silva e Cristina Vaz Tomé) propôs novos
elementos para (quase) todas as direções mas o nome de Deusdado está a gerar alguma controvérsia,
segundo o Público, por ser proprietário, com a sua mulher, de duas
produtoras, a Farol de Ideias e a Pequeno Farol. A mesma questão surgiu
com Nuno Artur Silva, que tinha uma participação nas Produções
Fictícias, mas este acabou por a vender depois de aceitar o cargo na
RTP. No caso de Deusdado, tal é mais complicado pois a sua mulher também
é proprietária da produtora, o que é agravado pelo regime de bens que
adotaram no casamento. É a possibilidade de favorecer as suas produtoras
que preocupa a ERC.
O Papa Francisco vai visitar Barack Obama
no próximo mês de setembro. A vista do Sumo Pontífice à Casa Branca foi
ontem anunciada. Ambos conversarão, a 23 desse mês, sobre os "valores
que partilham" disse fonte da Casa Branca ao revelar a visita que levará
Francisco aos Estados Unidos da América. O Papa também irá ao
Congresso, além de visitar Nova Iorque e Filadélfia naquela que é a sua
primeira viagem aos EUA durante o seu pontificado.
FRASES
"Convidei-vos
para anunciar que nós terminámos a nossa carreira, depois de longos
anos e de muitos sucessos e também insucessos. Já chorei muito, já ri
muito, mas principalmente rimos muito. Vivemos juntos grandes momentos". Naide Gomes em conferência de imprensa, ao lado do seu treinador Abreu Matos. Só faltou uma medalha olímpica.
"Não tenho qualquer razão para não ter confiança no senhor secretário de Estado". Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças, no Parlamento, enquanto defendia Paulo Núncio a propósito do imbróglio da Lista VIP.
O QUE ANDO A LER
As
memórias de Kim Gordon, a baixista dos Sonic Youth, que entretanto
implodiram, depois de o casal que formava com o guitarrista Thurston
Moore se ter separado com estrondo (e ruído, claro) nos meandros da
música popular. Não, esta não é mais uma biografia rock devidamente
transformada em hagiografia. Não, aqui também não se glamouriza aquilo a
que se decidiu chamar o estilo de vida do rock'n'roll. Em " Girl in a Band"
(Faber & Faber, 2015), os mitos que geralmente associamos ao rock, à
arte e aos artistas são desfeitos com zelo, ao mesmo tempo que nos
defrontamos com a realidade, contada com desvelo, de uma mulher num
grupo de música formado por homens, mediatizado na imprensa escrita por
homens, num universo do entretenimento dominado por homens. Talvez por
isso, o livro começa pelo fim: o tiro de partida é dado com o relato -
ia dizendo reportagem - do último concerto dos Sonic Youth, cerca de
trinta anos depois de terem sido fundados algures em Nova Iorque. E diz
logo ao que vai: “Girl in a Band" é um ataque sem tréguas a Thurston
Moore, o marido infiel que, com Kim Gordon, representou durante décadas a
imagem do casal mais feliz do indie-rock. Um sonho que acabou. Leitura
só para aficionados da música e dos Sonic Youth em particular? Nem pense
nisso.
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