Nuno Crato está evidentemente pressionado por Vítor Gaspar, pelo Orçamento, pela troika, pela exigência da diminuição do número de funcionários públicos. Pretende reduzir drasticamente o número de professores - e já em 2014. A chamada "mobilidade especial" é um evidente eufemismo que visa despedir contornando a lei. O objetivo do plano é muito preciso: dispensar professores, acabar com os contratados. E isto só se faz carregando nos horários dos professores que fiquem.
Os sindicatos, como é habitual, defendem o que têm. Não querem saber da reorganização do Estado. Querem acreditar que o dinheiro chega para tudo, como quando o País, dirigido pelas mesmas forças políticas que agora o dizem querer colocar no bom caminho - que tinham comportamento típicos de seita mas agora são excelsos defensores da causa pública - gastavam sem pensar no amanhã e acrescentavam diária e levianamente os mapas de pagamentos.
Também todos sabemos a origem deste milagre. Esta contemporânea "competência" do Estado é alimentada a chicote pela troika. Os exames estão cada vez mais difíceis, mas ainda é este dinheiro que mantém o País em respiração assistida.
2. O plano de Crato tem, a reboque desta imediata necessidade financeira, uma outra dimensão que é, muito justamente, contrariada pelos sindicatos: trata os professores como operadores de uma qualquer unidade de trabalho intensivo. Numa área em que é preciso cuidar da qualidade, só se vê no ministério a preocupação pela quantidade. Não é apenas passar de 35 para 40 horas semanais, esquecendo que a atividade do professor - dos bons professores - sempre teve um enorme acrescento de horas, até aos fins de semana, no espaço familiar. Onde o plano de Crato se revela em todo o seu esplendor de miopia financeira é nas 22 horas da componente letiva, que até aqui tinham descontos devido à idade e aos cargos exercidos na escola, e que agora são obrigatórias para todos. Apenas porque, percebe-se, é preciso pagar a menos pessoas.
O Governo quer que os professores cumpram uma tarefa, com horários e números de alunos por turma que irão fazer Bolonha parecer um delírio perdido no tempo. Se os professores têm ou não condições para ensinar, é coisa que não parece estar presente nas preocupações do Ministério da Educação. E isso é grave. Merece, obviamente, esta polémica greve em que os alunos são escudos para os dois lados e não só de um.
3. O que separa Portugal dos países mais evoluídos, e com uma situação económica bem diferente da nossa, por desafogada, não é o número de horas de trabalho, como inocentemente acreditam alguns dos líderes portugueses, políticos e empresariais, mal preparados.
A competitividade não tem que ver, apenas, com o número de horas de trabalho. Os trabalhadores mais desonestos sempre passaram tantas horas no emprego, sem acrescentarem nada de relevante, quanto os seus líderes a negociar à mesa do almoço e do jantar.
O que separa Portugal dessas sociedades que coletivamente invejamos é a qualidade das decisões, a qualidade do trabalho. É isso que permite empresas e Estados prósperos, onde os cidadãos trabalham melhor porque também têm mais tempo para a família e são por isso mais felizes.
O Governo mostra-se incapaz de compreender isto. Está a produzir, em todas as áreas, um país de gente infeliz, revoltada, mesmo entre os que não fazem (ainda) parte do batalhão de desempregados. E quer, agora, transformar as escolas em exemplo vivo de tudo isto.
A necessidade não consegue explicar tudo!"
aqui.
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