"Antero de
Quental, que foi um homem de pensamento, escreveu a Wilhelm Storck, intelectual
alemão, entre outras coisas estas palavras memoráveis: “Porque a verdade, meu
caro senhor, é que não é possível viver sem ideias”.
Direi eu,
relativamente à educação, que não é possível dirigir a educação do país
sem ideias. Lamentavelmente, neste domínio vejo o país um deserto de ideias.
Neste momento, em que O
Distrito de Portalegre vai gozar as suas merecidas
férias, parece-me conveniente expor aos leitores, até para conclusão das
reflexões que pude fazer nas últimas cinco semanas, um certo conjunto de ideias
nucleares acerca da educação em geral e da educação portuguesa em particular. Apresentá-las-ei
sob forma muito sintética, mas também com a clareza que devem ter as teses. São
quatro as ideias que apresentarei hoje. Tenciono completar o quadro a partir de
Setembro.
A primeira é a
ideia de educação. O cerne do processo a que damos o nome de educação é o ser
humano, na sua universalidade de espécie e na sua singularidade de
indivíduo. É a pessoa humana o lídimo sujeito da educação. Assim, educar é
personalizar, a educação é processo de personalização. É importante socializar,
é importante preparar para o exercício de uma profissão, mas tudo isso é pouco
para atingir a essência da educação, que é o processo de tornar pessoa, de
tornar-se pessoa.
A segunda é a
ideia de educando. Esta não coincide com a de aluno, ou de instruendo, nem
mesmo com a de aprendiz ou aprendente, ou a de estudante ou escolar. Há quem
ironize sobre o termo, considerando-o uma palavra do “eduquês”, pretensamente a
linguagem dos educadores profissionais e dos denominados cientistas da
educação. Enganam-se os que assim se pronunciam sobre um assunto da maior
seriedade. Educando é o nome genérico de todo aquele que está sujeito a um
processo de formação de si, ou educação. Não há processo mais importante do que
este, não há condição mais séria do que esta.
A terceira ideia
sobre a qual desejo reflectir sumariamente é a de educador. Trata-se do pólo
oposto ao de educando. O educador é aquele que intencionalmente serve o
educando no processo da educação deste. Ao falar do educador, no seu precioso
tratado De Magistro (O Mestre), São Tomás de Aquino apresenta-o como
sendo apenas o auxiliar do educando no processo de formação deste, não como o
sujeito desse processo. Quando, no pensamento pedagógico moderno, se confere o
primado à aprendizagem, em relação ao ensino, está a seguir-se a posição de São
Tomás de Aquino. Com efeito, o educando é da ordem da finalidade e o educador
da ordem dos meios. O educando não existe para o educador o educar ou ensinar,
o educador é que existe para o educando poder educar-se e aprender.
Avancemos para a
quarta ideia – a última de que me ocuparei hoje –: a ideia de família. Quando
falamos no educador, não queremos referir-nos apenas ao educador profissional,
aquele cuja obrigação profissional é educar e ensinar. Queremos referir-nos
também, e com a devida ênfase, à família, aos pais. Assistimos hoje a um
processo generalizado de afastamento progressivo da família em relação à
educação dos filhos, em grande parte em consequência da organização social e da
divisão social do trabalho, que coloca a lógica da economia acima da lógica do humano.
A ideia de “escola a tempo inteiro” é uma expressão dessa vontade de
subordinação da educação dos filhos aos imperativos profissionais dos pais. Ora
os pais são muito mais do que meros progenitores; são os primeiros e principais
responsáveis pela formação humana dos filhos, pela sua educação. É este um
ponto dos mais sensíveis relativamente à doutrina expendida pelo Papa Bento XVI
na sua encíclica Caritate in Veritate (Caridade na Verdade),
recentemente publicada. À luz deste importante documento, a educação só é
reformável em profundidade em articulação com a reforma estrutural da economia
e da sociedade. Entre os dedos e os anéis, quem hesita em apostar nos
dedos?!..."
Manuel Ferreira
Patrício
nota... escrito [por aqui guardado em formato de texto] apanhado por aí [desconheço... neste momento... a origem]...!
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