Por onde começar – eis a dificuldade da escolha! Sócrates e a sentença da Relação? Ricardo Salgado e Angola? Amílcar Morais Pires e a denúncia? Paulo Portas e as críticas ao BdP? Subir Lall e as recomendações do FMI? Isto começa a parecer sempre igual.
Mais importante foi a eleição em Israel de um novo Parlamento (Knesset),
onde a azáfama da coligação já é uma constante. Durante a noite, a
frase mais escrita nas agências e ouvida nas televisões e rádios foi
“too close to call” (ou seja, que não podia ser aclamado um vencedor por
estarem os partidos Likud – direita - e União Sionista –
centro-esquerda) demasiado perto um ao outro. Isso mesmo dizem os
jornais esta manhã. Mas a verdade é que as sondagens pré-eleitorais e mesmo as que foram feitas à boca das urnas falharam redondamente: Benjamin Netanyahu, popularmente conhecido por Bibi, venceu pela quarta vez, com
30 deputados eleitos do Likud, contra 24 do centro-esquerda da União
Sionista. Agora vai formar uma coligação com outros partidos à direita e
provavelmente tentar cumprir o que prometeu: que com ele não haverá Estado Palestiniano.
Netanyahu, que tem sofrido o desgaste da quebra económica do seu país,
da oposição da Europa à sua política e, finalmente dos EUA de Obama, que
ele contornou para falar à maioria republicana do Congresso, pode
tornar-se o líder israelita com mais anos de poder, caso cumpra o
mandato. De salientar, ainda, que nestas eleições como terceira força emergiu a aliança dos árabes, com 13 deputados.
OUTRAS NOTÍCIAS
Vamos, agora, seguir o rasto do dinheiro, como manda a boa investigação.
A auditoria forense confirmou o que o Expresso já dissera. O dinheiro de Angola foi diretamente, e sem passar pela casa partida (como se diz no Monopólio), para Ricardo Salgado, Álvaro Sobrinho e Morais Pires. Ou, de forma mais direta, como titula garrafalmente o 'Jornal de Notícias' de hoje, "Salgado acusado de arruinar banco, clientes e investidores" - e se mais não foi é porque mais não haveria...
Amílcar Morais Pires, antigo administrador financeiro do BES, enviou uma
carta ao Parlamento, ou mais concretamente ao presidente da Comissão de
Inquérito, Fernando Negrão, a afirmar, como já fizera Pacheco de Melo, seu homólogo na PT, que os quase 900 milhões de euros que a PT pôs na Rioforte foram combinados diretamente entre Salgado e Granadeiro. Dois desmentidos já estão feitos...
Fernando Ulrich
não concordou com o modo como foi resolvido o problema do BES e não
recusa que andou por ali mão do Governo. Adiantou que avisou Vítor Gaspar (ainda ele era ministro das Finanças) para o problema no Espírito Santo. O presidente do BPI, porém, acrescenta que Gaspar avisou o Banco de Portugal
e que este atuou imediatamente mandando um alto quadro falar com ele
para colher mais dados. Problema antigo, portanto… Ulrich também entende
que o presidente do BES se tornou num mito.
Já o responsável do FMI, Subir Lall, depois de dizer que anda
tudo a pensar nas eleições, pelo que Portugal desistiu das reformas, vem
com um relatório que nem parece de Subir, mas sim de descer – ou seja, segundo Nicolau Santos, até é brando e traz boas notícias. O segredo, claro está, reside na conjuntura externa fantástica que se verifica: petróleo ao preço da chuva; taxas de juro próximas do zero e a célebre bazuca de Draghi
a funcionar. Mesmo assim, o FMI quer mais reformas e, sobretudo, quer
que os nossos empresários sejam melhores do que são. Também avança para a
crítica às rendas excessivas, nomeadamente a energia e os portos. Reformas, reformas – eis tudo o que pede o FMI, como nos conta João Silvestre acerca da conferência de Subir Lall na Ordem dos Economistas.
Entre a Alemanha e a Grécia as relações estão sempre a melhorar. Tsipras já disse que falaria com Merkel, depois do mal-entendido entre Varoufakis e Schäuble,
quando o primeiro pensou (erradamente, devido a um erro de tradução)
que o segundo lhe chamara tolo. O “taz.die tageszeitung”, um jornal
fundado em Berlim em 1978, como uma cooperativa e que tem apoiado,
sobretudo, os verdes, tinha ontem uma manchete que não deixa dúvidas sobre as boas relações. O texto diz “ A Europa mostra a Varoufakis o dedo do meio”, mas o grafismo é a não perder… Ver-se-á, num encontro entre o chefe do Governo grego, a chanceler alemã, Mário Draghi e Jean-Claude Juncker a anteceder a cimeira europeia que reunirá durante dois dias todos os líderes europeus.
A propósito de líderes europeus: Cavaco e Hollande estão em sintonia sobre os principais assuntos europeus e o crescimento português, francês e da Europa. Isto, no mesmo dia em que António Costa, num comício do PS, afirmava não querer voltar aos piores tempos do cavaquismo.
E chegamos a Sócrates. A sentença da Relação exarada ontem diz
que, de facto, o perigo de fuga não é um bom argumento para o
primeiro-ministro estar detido. Mas adianta que o perigo de destruição
de provas é real e - estocada final - os fortes indícios de crime existem. Foi mais uma derrota (dois dias duas derrotas) de um advogado que 24 horas antes mostrara dificuldades em lidar com elas. Como diz Ricardo Costa, “Pronto, Sócrates já só está nas mãos de Carlos Alexandre”
O gigante do comércio eletrónico na China, Alibaba (penso que por lá não seja conhecida a história dos 40 ladrões), está a trabalhar na hipótese de as transações serem feitas apenas com a nossa cara. Ou seja: olhamos para o ecrã e isso dispensa os dados do cartão de crédito. Chama-se “Smile to pay” – um oximoro, ou seja, uma combinação engenhosa de palavras contraditórias.
O QUE DIZEM OS NÚMEROS
Todas as crianças da minha geração aprenderam a não deixar comida no prato devido à fome que grassava entre as crianças do Biafra (uma tragédia humanitária e guerra secessionista que se travou na Nigéria). Mas hoje, sabe-se que o mundo desperdiça UM BILIÃO de euros em comida por ano, ou seja 4 MIL MILHÕES de toneladas de produtos alimentares em bom estado que vão diretamente para o lixo, enquanto no mundo morrem de fome 2,5 MILHÕES de crianças e 805 MILHÕES de seres humanos passam fome. Não serão precisas mais palavras para ter a ideia do horror destes números.
FRASES
"Se não houver dois Estados haverá um; e, se só houver um, ele será árabe", Amos Oz, escritor israelita citado hoje no "Público" por Jorge Almeida Fernandes. A lógica parece irrebatível.
“O nosso ajuste fiscal foi maior do que em outros países. Desde 2009,
foram introduzidos cortes na despesa e aumentos de impostos que
equivalem a um montante de mais de 45% dos rendimentos das famílias. Em
Portugal foi de 20% e em Itália 15%” Yannis Dragasakis, vice-primeiro-ministro grego, num artigo do Financial Times escrito em coautoria com Yannis Varoufakis, ministro das Finanças e Euclid Tsakalotos, ministro dos Assuntos Económicos. A ser assim, registe-se que, apesar de tudo, ainda tivemos sorte… ou outra coisa qualquer…
“A corrupção é uma senhora idosa e não poupa ninguém”, Dilma Rousseff,
presidente do Brasil, depois das enormes manifestações contra os
escândalos que abalam o governo daquele país. Perceberam? Eu nem por
isso...
“Não há qualquer ocupação da Crimeia”, Dimitri Peskov,
porta-voz do Kremlin, depois de a Crimeia ter celebrado a união com a
grande-mãe russa, a qual, como diria Dilma, é também uma senhora idosa.
O QUE EU ANDO A LER
Embora o título desta Newsletter seja inspirada no belo livro de Kazuo Ishiguro (apesar de nascido no Japão é um escritor inglês, pois vive desde os seis anos na Grã-Bretanha), cujo título é “Os Despojos do Dia” (The Remains of the Day),
tendo também dado um belo filme com Anthony Hopkins e Emma Thompson,
não é isso que ando a ler. Mas também é sobre despojos e desperdício.
Chama-se “The Bankers New Clothes”,
ou seja literalmente “A nova roupa dos Banqueiros”. Quem quiser esperar
pela tradução portuguesa – ainda este mês – verá que se chama “Os Banqueiros Vão Nus”.
A tradução é apropriada, porque o título em inglês baseia-se no célebre
conto “A Nova Roupa do Rei” onde o miúdo, no cortejo imponente, grita: “O Rei vai nu!”. E assim vão os banqueiros. Martin Wolf, o guru do FT, diz que é o livro mais importante que saiu nesta crise, já The Economist afiança que a solução dos autores é simples: os banqueiros deviam arriscar mais o seu próprio dinheiro e menos o dos outros. Mas talvez a melhor crítica seja de Emre Deliveli: “O que torna este livro um dos melhores, senão o melhor sobre a crise, é a sua simplicidade e acessibilidade”. Os autores são bem conhecidos dos economistas: Anat Admati e Martin Hellwig.
Ela é professora de Economia e Finanças em Stanford, na Califórnia e
escreve para o Financial Times, New York Times e Bloomberg; ele é o
diretor de um dos muitos institutos da Sociedade Max Planck, no caso vertente do Instituto para a Pesquisa de Bens Comuns, em Bona.
E é tudo.
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