segunda-feira, 30 de novembro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Valdemar Cruz
Por Valdemar Cruz
Jornalista
 
30 de Novembro de 2015
 
Má onda gera mau clima num outono escaldante
 
Nos próximos dias não haverá como fugir ao clima enquanto tema e nas suas múltiplas aceções semânticas. Com o centro da Europa em estado de sítio, numa deriva securitária de complexos contornos, vão tornar-se inevitáveis confrontos como os de ontem em Paris, dos quais resultaram quase 300 detidos. O ambiente está quente, e não é apenas por esta extensão do Verão aparente. Há uma má onda a assolar a Europa. Resulta daqui um mau clima, num outono cada vez mais escaldante.

Representantes de 195 Estados reúnem-se a partir de hoje e até o próximo dia 12 em Paris na 21ª Cimeira sobre o Clima. Para lá da magnitude das questões de segurança suscitadas por um encontro deste nível ao qual assistirão 150 chefes de Estado e 40 mil pessoas poucos dias após os atentados terroristas que assolaram a cidade luz de súbito posta às escuras, e os incidentes inerentes a algumas manifestações que sempre rodeiam estas iniciativas, é bom centrarmo-nos no essencial. Isso passa por perceber quanto está em jogo num encontro cujo objetivo final será o de chegar a um primeiro acordo global para monitorizar as mudanças climáticas. Em apenas 4' e 18" o jornal "Le Monde", com algum humor à mistura, proporciona-lhe um filme de animação com tudo o que pode querer saber para compreender o funcionamento da COP 21.

Parece simples, e, como diria alguém cujo nome agora não importa lembrar, qualquer pessoa de bom senso perceberá a necessidade de serem tomadas medidas urgentes para evitar o aquecimento global. O objetivo de assegurar medidas capazes de garantirem que até o final do século a temperatura na Terra não subirá mais de 2 graus centígrados. A ONU considera insuficientes as decisões que têm vindo a ser tomadas e, segundo dados daquela organização coligidos a partir da análise de medidas voluntariamente adotadas pelos Estados, a temperatura média deverá subir 2,7 graus até 2100.

A situação é grave.Em causa está o facto de os chamados gases de efeito de estufa, em particular o dióxido de carbono (CO2), se acumularem na atmosfera e impedirem que os raios infravermelhos emitidos pelo planeta ao aquecer, se libertem e saiam para o espaço. Resulta daqui um aumento de temperatura com consequências nefastas. Estes gases sempre existiram na atmosfera, mas os seus efeitos, assumem a esmagadora maioria dos cientistas, têm sido potenciados pela ação do homem ao contribuir para romper o equilíbrio existente. A indústria, os transportes ou o modo como são usados os solos contribuem para aumentar a concentração destes gases.

Os EUA, primeiro ou segundo maior poluidor mundial, conforme as fontes, e a China, também à cabeça dos grandes poluidores, recusaram-se a assinar o Protocolo de Kioto, de 1997, de resto só subscrito por 37 Estados, dos quais 28 fazem parte da União Europeia. No conjunto representam apenas 12% das emissões globais. Os EUA e a China têm mantido uma política muito agressiva nesta questão. Para justificar a sua posição, os norte-americanosalegam que a diminuição das emissões de gases tóxicos originaria elevadas taxas de desemprego.

Prevê-se que em Paris Barak Obama se reuna com o presidente chinês, Xi Jinping. Os dois estabeleceram no ano passado um acordo para que as emissões de gases poluentes da China atinjam o seu pico em 2030 e depois iniciem uma redução gradual. Obama, por sua vez, fixou para 2025 uma diminuição das emissões dos EUA de 26% a 28% em comparação com 2005.

São números insuficientes e o grande receio da União Europeia, bem como de associações ambientalistas, é o de que EUA e China acabem por estabelecer um pacto unilateral do qual resultaria, de novo, um sentimento de frustração face a uma Cimeira em que foram depositadas elevadas esperanças. O grande objetivo da reunião de Paris é tentar um acordo que responsabilize os 195 Estados em conjunto pela adoção de medidas tendentes à diminuição das emissões de gases e assegurar que, até final do século, a temperatura na Terra não amente mais de 2 graus.

Se está interessado em aprofundar o tema, leia, entre muitos outros, estes bons artigos ou dossiês publicados em jornais ou revistas como o El Mundo , o inglês The Guardian , o italiano La Reppublica a falar do "I big Mondiale", a norte-americana Revista Time, ou o espanhol Diário Público .



OUTRAS NOTÍCIAS
São os efeitos da crise do petróleo. Em Angola haverá neste momento 80 mil portugueses com salários em atraso.

Os portugueses são quem mais recorre às urgências em 21 países da OCDE, revela o título principal do Público.

O jornal I assegura que o Governo não despede funcionários públicos na "requalificação".

A sobretaxa de IRS vai descer para todos no próximo ano, garante o Diário Económico.

Nos primeiros nove meses deste ano, dezassete empresas cotadas em Bolsa aumentaram os lucros em 1,1 milhões de euros.

A Caixa Geral de Depósitos propôs ao anterior Governo vender a privados até 49% do capital da sociedade e reunir numa "holding" as principais operações no exterior.

Poderá ainda não ter reparado, mas os combustíveis estão mais caros desde esta madrugada. O maior aumento será nas gasolinas, seja nas gasolineiras, seja nas cadeias de marca branca.

O aeroporto do Porto quadruplicou o número de passageiros numa década e tem planos para duplicar os atuais oito milhões de clientes em seis anos, adianta o JN.

Os diretores do Fantasporto, Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira, pagaram à Autoridade Tributária para lhes serem retiradas acusações e evitarem o julgamento por crime de fraude fiscal, adianta o JN.

A questão dos refugiados continua a alimentar o fluxo noticioso e parece dada vez mais um drama sem fim. Os últimos dados indicam que este ano terão entrado na Europa, sem autorização, 1,5 milhões de pessoas A Turquia vai receber 3 milhões de euros na suposição de que isso contribuirá para ajudar a conter o fluxo migratório.

Em Espanha, e não por acaso, a situação política portuguesa tem vindo a ser seguida à lupa. Os dados de uma sondagem divulgada pelo El Mundo confirmam a possibilidade de nas eleições de dezembro ser estilhaçada a alternância PP/PSOE. O novo partido Ciudadanos já terá ultrapassado o PSOE e estará a tão só quatro pontos do PP, com o Podemos em quarto lugar a quatro pontos dos socialistas.

Israel decidiu retaliar face á decisão da União Europeia de obrigar à colocação de etiquetas nos produtos importados dos territórios ocupados na Palestina e suspendeu qualquer contacto com as autoridades europeias a propósito do processo de paz com os palestinianos.

O tão incensado mundo dos treinadores portugueses sofreu ontem um rombo. Nuno Espírito Santo demitiu-se do Valência, antes mesmo de nova derrota, agora frente ao Sevilha. Como diz o jornal espanhol "Marca", "a era Nuno já passou à história".

FRASES
"Toda a gente está muito tranquila com a situação portuguesa". António Costa em Bruxelas

"Cunhal teve de combater propostas de Humberto Delgado como bombardear o Rossio". José Pacheco Pereira em entrevista ao I

"As dificuldades de Rui Moreira aumentaram significativamente nas duas últimas semanas. (…) Sendo o substituto (de Paulo Cunha e Silva) - mais um vereador do CDS - um desconhecido, o seu histórico nas redes sociais, designadamente na apologia de Salazar e no ressentimento face ao 25 de Abril, não prefigura nada de positivo...". Rui Sá no JN

"Às vezes, somos "Je suis...", outras, já nos apetece menos...". Ferreira Fernandes no DN

"Sem controlo das nossas fronteiras externas, o Acordo de Schengen vai passar à história". Donald Tusk, presidente do Conselho da Europa

"Eles exploram, eles poluem, eles lucram! A urgência é social e climática". Cartaz no cordão humano em Paris contra as alterações climáticas

O QUE ANDO A LER
E você? Aceitaria ser classificado como um pequeno, médio ou um grande racista? Ou o simples equacionar da questão é desde logo ofensivo para si, o que o colocaria num outro patamar? Experimente ler, então, o livro que me tem ocupado e pesado nos últimos dias, o muito premiado "Americanah", da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Aviso prévio: são 700 páginas lidas com grande voracidade. Ou seja, nem se nota o peso neste romance sobre emigração, poder, desventuras do sonho americano, amor, significados da cor da pele e... cabelo. Sim, os cabelos de uma mulher negra e o modo como são trabalhados podem constituir todo um tratado e fornecer pontes para um complexo fio narrativo à volta de questões de classe, género e dinheiro.

Na galeria de casos, situações e pessoas espalhadas por três continentes, emergem duas personagens. Primeiro Ifimelu, bonita, auto-confiante, uma negra africana com o coração junto da boca quando se trata de ripostar ou dizer quanto lhe vai na alma. Depois, Obinze, filho de uma professora universitária, muito sereno e meigo. São, nos anos de 1990, dois adolescentes apaixonados numa Nigéria sob domínio militar. Tal como milhares de compatriotas, acabam por partir. Primeiro Ifimelu, para os EUA. Mais tarde, Obinze. Ao ver-lhe fechadas as portas dos EUA após o 11 de setembro, tenta a sorte em Londres como imigrante ilegal, numa altura em que a relação entre ambos já está estilhaçada, sem que esteja a paixão machucada. Quinze anos mais tarde, e muitas vidas passadas por ambos, voltam a encontrar-se numa nova e democrática Nigéria. O importante, aqui, é o percurso, o caminho percorrido por cada um deles, com Chimamanda a entrar por territórios nem sempre bem explorados na literatura, ao trabalhar de forma cirúrgica uma questão tão sensível como a da vivência e das relações entre as diferentes etnias.Ou raças? Estão nas mesmas condições dois negros, um afro-americano e um africano? E um latino perante um asiático? E qual a importância da cor da pele? Ifimelu, com uma brilhante carreira académica, torna-se uma famosa "bloguer" nos EUA. É ali que espalha conceitos, desafios, reflexões, depois muito comentadas na imensidão da "blogosfera". Um exemplo: "Na América, o racismo existe, mas os racistas desapareceram todos. Os racistas pertencem ao passado. Os racistas são os brancos mesquinhos, de lábios finos, nos filmes sobre a era dos direitos civis. O problema é o seguinte: as manifestações de racismo mudaram, mas a linguagem não. Por isso, a quem não tenha linchado alguém não se pode chamar racista. A quem não é um monstro que suga o sangue a outros não se pode chamar racista. Mas alguém tem de ser capaz de dizer que os racistas não são monstros. São pessoas com famílias dedicadas, gente normal que paga os impostos (…)".

E os cabelos? Numa das cenas mais marcantes do início de "Americanah", Ifimelu, já nos EUA, dispõe-se a gastar seis horas num cabeleireiro manhoso para fazer tranças. Os cabelos são um problema quase filosófico, como se verá já muito para lá de meio do livro num extenso e delicioso "post" intitulado "Um Agradecimento a Michelle Obama e o Cabelo como Metáfora da Raça", onde chega a dizer que : "(…) Algumas mulheres negras, americanas ou não, prefeririam correr nuas pelas ruas a aparecer em público com o seu cabelo natural".

Desconcertante e provocador, "Americanah" aborda os dilemas e os conflitos suscitados pelo conceito de raça a partir de um verdadeiro caleidoscópio de pontos de vista e emoções.

Não perca o fio das notícias. O dia vai trazer-lhe muitas surpresas. O meu Curto hoje fica por aqui, mas amanhã estará cá o Pedro Candeias para o servir. Cuide-se do frio e não desdenhe o sol enquanto existe.

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