* pg 753 do dicionário da língua portuguesa, 8ª edição revista e actualizada 1998 [porto editora]...
"Sabe de onde vem a palavra pê-u-tê-a? Se calhar não sabe que é mais
velha do que a profissão mais velha do mundo. Esta é a história do
"asneiredo" nacional. Palavrão a palavrão.
de Rita Cipriano
Apesar de muitas vezes serem considerados ofensivos, os palavrões
fazem parte da linguagem do dia-a-dia da grande maioria das pessoas. São
um “hábito”, uma “convenção que se aprende”, que dificilmente se
consegue largar, como defende o psicólogo norte-americano Timothy Jay. Estão por todo o lado, e não há como lhes escapar.
A
maioria dos palavrões existe há várias centenas de anos e está longe de
ser uma invenção dos tempos modernos. Melissa Mohr, especialista em
literatura medieval e autora de Holy Sh*t: A Brief History of Swearing, defende que o hábito de dizer asneiras vem desde o tempo dos romanos
.
“Os romanos são importantes na história dos palavrões porque
as asneiras que usavam eram baseadas nos tabus sexuais e de excreção,
como acontece na maioria das línguas modernas”, explicou a autora ao
Observador. “Eram baseados no corpo humano e em ações. Mas, como
tinham um esquema sexual muito diferente, alguns dos seus palavrões
eram usados de maneiras diferentes.”
A pior maneira de insultar um homem, por exemplo, era sugerir que este “era sexualmente passivo” porque um “homem tinha sempre de ser um parceiro ativo”. Era por isso que palavrões como Cunnilingus (praticar sexo oral a uma mulher) eram especialmente maus, porque queriam dizer “que um homem era passivo em relação a uma mulher, uma posição muito vergonhosa em Roma”, assegurou Melissa Mohr.
Em inglês — como em
português –, muitos palavrões são, de facto, de origem latina. “No
‘núcleo duro’ dos chamados ‘palavrões’ encontramos palavras que em rigor
não são portuguesas, pois facilmente as reconhecemos nas línguas
românicas que nos são mais próximas”, disse ao Observador João Paulo
Silvestre, investigador do Centro de Linguística da Universidade de
Lisboa (CLUL) e especialista em lexicologia.
Exemplo disso são palavras como merda (em espanhol mierda e em francês merde) ou puta (em espanhol puta e em francês putain),
que provêm exatamente da mesma língua — a dos antigos romanos.”Todas
estas palavras provêm do mesmo étimo latino e foram transmitidas pelos
romanos. Eram palavras frequentes e naturalmente usadas para
referir uma prostituta, os excrementos ou as relações sexuais”,
salientou o linguista.
Apesar disso, a origem de alguns palavrões nem sempre é clara, como no caso de caralho. Apesar de se considerar que teve origem no espanhol carago,
a palavra pode até ser anterior à romanização. “Em todo o caso, são
palavras antiquíssimas e inequívocas quanto ao significado”, referiu
João Paulo Silvestre. A história do “asneiredo” é longa e está longe de
ter terminado.
Já Steven Pinker, psicólogo e linguista que se tem dedicado ao estudo dos palavrões, acredita
que a raiz histórica de muitos palavrões — principalmente aqueles que
surgiram durante a Idade Média — é a religião. “Para entender as
asneiras religiosas, temos de nos pôr no papel dos antigos linguistas,
para os quais Deus e o inferno eram uma presença real”, referiu o
professor da Universidade de Harvard.
Na Idade Média, usar o nome de Deus ou de Cristo de forma
blasfema era como usar o pior dos palavrões. “Acreditava-se que isso
deixava Deus furioso e que era visto como uma forma muito de discurso
muito negativa”, explicou Melissa Mohr. “Jurar pelas partes do corpo de
Cristo — pelas unhas de Deus, pelas chagas de Cristo,
etc. — era particularmente mau, porque se acreditava que esses
juramentos podiam magoar fisicamente o corpo de Cristo, que estava no
Céu, sentado à direita de Deus.”
Foi também durante a época medieval que surgiram expressões como vai para o diabo, em parte devido à superstição existente em torno de determinadas palavras (como é o caso de diabo).
Para a autora norte-americana, porém, não é apenas uma questão de
religião. O surgimento dos chamados palavrões “religiosos” está também
relacionado com a definição de tabu e de privacidade que existia na
altura.
..."
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no observador...
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