quinta-feira, 26 de novembro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Miguel Cadete
Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
 
26 de Novembro de 2015
 
Que Governo é este?
 

Toma hoje posse, pelas 16h, no Palácio da Ajuda o XXI Governo constitucional. Está cheio de particularidades, a mais discutida das quais é ter sido formado por um partido que não ficou em primeiro lugar nas legislativas.

Grande parte da direita ainda não foi capaz de assimilar o facto de não ter maioria absoluta no Parlamento e ainda ontem, passados 53 dias desde as eleições de 4 de outubro corriam piadas nas redes sociais sobre a legitimidade política do Governo liderado por António Costa. Qualquer coisa como “mensagem para o português que ganhou 162 milhões de euros no Euromilhões: foge! Se António Costa sabe disso junta todos os outros que jogaram e diz que foram eles que ganharam”.

As particularidades do Governo que hoje toma posse não acabam, no entanto, aí. O argumento da golpada ou da ilegitimidade política está aliás por demais batido e, no fim de contas, resulta de um pedido do Presidente da República que exigiu uma “maioria estável e duradoura no Parlamento”.

No Expresso Diário, Henrique Monteiro percebeu isso mesmo e reclama da Oposição que deixa de esgrimir a ideia da golpada: “as conversas indignadas, a visão de ameaças apocalípticas só reforçarão o Governo e atirarão a coligação PSD/CDS para um lugar distante do centro político”. Deixem o Governo trabalhar, remata, citando Bernardo Ferrão, editor de Política do Expresso que, por sua vez, recorreu a uma conhecida expressão de Cavaco Silva quando este era primeiro-ministro.

Dizia que este Governo tem ainda outras particularidades. E mostra por isso que é diferente, o que na perspetiva da alternância própria das democracias só pode ser visto como positivo. Vamos a elas:

É grande! Tem 18 ministros e, desde o executivo de Pedro Santana Lopes que não houve outro maior, notou Martim Silva. Marca, por isso, o fim do micro-governo poupadinho de há quatro anos, em que existiam ministérios mastodônticos como o da Agricultura cujo acrónimo recuso repetir. Como se sabe, o Governo poupadinho foi crescendo ao longo do tempo e a frugalidade exagerada pode ter outras consequências que decorrem precisamente da questão orgânica.

Se contarmos com os secretários de Estado que amanhã também tomarão posse então já se pode dizer que se este Governo é uma autêntica orquestra. São 41 as secretarias deste Governo.

É multicultural! O líder, António Costa, tem ascendência goesa; a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, nasceu em Angola e é a primeira negra a ocupar um lugar num Governo de Portugal. Carlos Miguel, secretário de Estado das Autarquias, é filho de pai cigano: também ele o primeiro a chegar ao Governo de Portugal. Isto sucede mais de 41 anos depois do 25 de Abril. Se este Governo for realmente uma orquestra, pode ser de world-music. Mas não é, certamente a banda do eixo Cascais-Restelo.

É familiar! Pela primeira vez, num Conselho de Ministros estarão sentados marido e mulher. É o caso de Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino, como bem notou o “Diário de Notícias”. O primeiro é o braço direito de António Costa, assumindo o cargo de Ministro Adjunto, a segunda é Ministra do Mar. Caso os dois utilizem a mesma viatura oficial, este será certamente um passo atrás na luta contra a austeridade.

Mas há ainda outra célula familiar na orgânica do XXI Governo Constitucional que hoje toma posse. Vieira da Silva, ministro da Segurança Social, é pai de Mariana Vieira da Silva, secretária de Estado Adjunta. Será caso para dizer “quem meu filho beija, minha boca adoça”

É politicamente correcto? É. Mas o que é isso num país a que falta incorreção política? Ana Sofia Antunes assume a Secretaria de Estado para a Inclusão de Pessoas com Deficiência. E é cega, como ela própria prefere dizer. A primeira de sempre a fazer parte de um governo. Em sentido contrário: neste executivo, a quota de mulheres é inferior à daquele liderado por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Ao todo são quatro mulheres em 17 ministérios contra as mesmas quatro que se sentavam no anterior Conselho de Ministros de 15 membros.

É teso! É um governo constituído por maduros da política, pronto para resistir e para o combate, de acordo com a avaliação que Pedro Santos Guerreiro fez de cada um dos ministros. Há também primeiros violinos como Mário Centeno mas o que marca a equipa liderada por António Costa é ter “uma guarda estratégica do passado e à sua frente uns estreantes, que poderão ser construtores de edifícios ou meros brincas-na-areia”. A ver vamos, já não sei quem dizia. Mas “deixem-nos trabalhar!”

OUTRAS NOTÍCIAS

Benfica apurado para os oitavos de final da Liga dos Campeões. O tempo deu mais tempo a Rui Vitória. Temeu-se o pior, atentou Mariana Cabral. Apesar de ter estado a perder com o Astana até aos 72 minutos, o Benfica chegou ao empate com dois golos de Jiménez. Um pontinho valioso, tirado a ferros no Cazaquistão. Mercê da derrota do Galatasaray ante o Atlético de Madrid no outro jogo do grupo, agora basta um empate com o Atlético de Madrid no jogo que falta ao Benfica para garantir o 1º lugar.

Real Madrid descansa. Apesar de estar a ganhar por quatro aos 70 minutos, o Real Madrid permitiu uma recuperação sensacional do Shaktar Donetsk que esteve perto de empatar. Em 11 minutos marcaram três golos. O Real já estava apurado e Cristiano bisou.

Bon Bon ganha estrela Michelin. Os restaurantes portugueses ganharam uma estrela Michelin e perderam outra, contou ontem a partir de Santiago de Compostela, na Galiza, o crítico de gastronomia do Expresso, Fortunato da Câmara. O restaurante Bon Bon, no Carvoeiro, conquistou a sua primeira estrela. Rui Silvestre é o chef. Já o L'And Vineyards, em Montemor-o-Novo perdeu a única que ostentava. Os outros restaurantes portugueses mantiveram as suas distinções, com destaque para o Bel Canto (Lisboa), Ocean (Armação de Pêra) e Villa Joya (Albufeira) que continuam com duas estrelas.

Alemanha vai combater Estado Islâmico no Mali. Merkel decidiu enviar 650 soldados para o Mali, de maneira a ajudar a França no combate ao ISIS. O assunto tem grande destaque na primeira página do “Público” e também no “El País”. Em Espanha, o primeiro-ministro não avança mas sofre pressões de vários quadrantes para que explicite como vai lutar contra o terrorismo jiadista. O Rei e o partido Ciudadanos pressionam Rajoy para que este defina a participação de Espanha nesta batalha mas a proximidade das eleições, a 20 de dezembro, tem retraído o líder do governo conservador espanhol.

O que aí vem de impostos. O Governo que hoje toma posse e que na sexta-feira reúne em Conselho de Ministros para aprovar o seu programa, começa a definir a sua política fiscal. Fernando Rocha Andrade, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais a partir das 16h, adiantou ao “Diário de Notícias” o calendário da implementação das medidas. O IVA da restauração baixa já de 23% para 13%, novos escalões do IRS só em 2017. A sobretaxa baixa para 1,75% no próximo ano e será igual a zero em 2017. O IMI penalizará as casas mais valiosas pesadamente. Mas só em 2017.

Montepio em véspera de eleições. Estão concorridas as eleições para a presidência da Associação Mutualista do Montepio às quais concorrem cinco listas. Na manchete de hoje do jornal “i” surge mais uma acusação: “Montepio emprestou 75 milhões sem garantias”. O processo já estará no Banco de Portugal.

Volkswagen não indemniza na Europa. Os proprietários de veículos fraudulentos na Europa não serão indemnizados, ao contrário do que sucede nos Estados Unidos da América. Aí, onde existem 480 mil viaturas da marca alemã, cada proprietário receberá mil dólares (cerca de 940 euros) e assistência gratuita ao longo de três anos. Enrico Beltz, porta-voz da Volkswagen, disse ontem que “estes dois mercados não são comparáveis” acrescentado: “Nos Estados Unidos, o diesel é minoritário, um segmento muito pequeno” do mercado automóvel, sublinhou, acrescentando que os proprietários de veículos a diesel pagam mais pelos carros e têm de “pagar o combustível mais caro” que os automobilistas alemães.


FRASES

“Pessoalmente já estava à espera que isto sucedesse, porque nos últimos meses aconteceram muitos incidentes do mesmo género” Ismail Demir, secretário da Defesa da Turquia

“Queria ser médico. Acho que ainda tenho a síndrome do ajudante”. Jürgen Klopp, treinador do Liverpool

“Quero ser a primeira banda a tocar no Bataclan quando reabrir. Os nossos amigos estviram lá para ver rock’n’roll e morreram. Quero voltar atrás e viver”. Jesse Hughes, vocalista dos Eagles of Death Metal

“No Benfica deitam-se e acordam a pensar no Jesus”. Octávio Machado, dirigente do Sporting

“A experiência demonstra que a violência, o conflito e o terrorismo se alimentam com o medo, a desconfiança e o desespero, que nascem da pobreza e da frustração”. Papa Francisco, em Nairobi


O QUE EU ANDO A LER E VER

Caravaggio. Ou uma parcela minúscula dos quadros de Caravaggio. Sem discutir a importância da sua obra – ainda que exista quem defenda que é o maior dos pintores italianos logo depois de Miguel Ângelo – a vida de Caravaggio cumpriu a ideia romântica de artista romântico, entretanto quase extinta passados mais de 400 anos.

Do que se conhece das suas andanças, ele que morreu aos 38 anos, sabe-se que era um tipo truculento, sempre metido em brigas. Morreu de insolação, depois de uma longa caminhada debaixo da torreira do sol. Consta que se envolvia amiúde na prostituição, masculina e feminina. Causou espanto por utilizar modelos oriundos desses meandros nalgumas das suas mais famosas telas. Mas o escândalo era mesmo incontornável quando a Nossa Senhora era inspirada em prostitutas.

Em Roma é fácil ver quadros de Caravaggio sem se gastar um tostão. Ou então pagar um bilhete e ver coisas a mais. É o que pode suceder no Museu do Vaticano, que tem uma pinacoteca imensa onde tudo cabe. É lá que também está a “A Descida da Cruz” (também chamado “O Enterro de Cristo”) pintada por Caravaggio, coisa que sendo das mais admiradas deste pintor apresenta pormenores perturbantes capazes de acentuar mais e mais o dramatismo. O corpo de Cristo não tem sangue, e já descansa, mas o dedo de um dos homem que o segura (Nicodemus?, José de Arimateia?) a penetrar a ferida no tronco muda tudo.

Na Igreja de São Luís dos Franceses, também em Roma, podem ver-se mais três grandes quadros de Caravaggio sem se pagar nada, havendo naquela cidade mais uma dezena e meia de outras obras. São três quadros que contam a história de São Mateus.

Neles, Caravaggio acabou com o maneirismo e inaugurou definitivamente o barroco. Os mais antigos pintores desprezaram-nos mas os novos ficaram conquistados. Tornou-se então o mais famoso pintor de Roma mas aos 35 anos matou um rapaz numa briga e teve que fugir. Morreu três anos depois na mesa de uma taberna.

Tenha um excelente dia mas escusa de se preocupar com o sol. Acompanhe todas a atualidade no Expresso online e, mais logo, não perca a opinião, a análise e as notícias do dia de amanhã no Expresso Diário. Amanhã estará por aqui o Henrique Monteiro.

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