segunda-feira, 7 de setembro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Ricardo Costa
Por Ricardo Costa
Diretor
 
7 de Setembro de 2015
 


Do pepperoni à piscina: variações sobre Sócrates 


A semana anterior acabou com Sócrates e a que agora se inicia começa… com Sócrates. Peço desculpa pela minha falta de imaginação, mas não consegui arrancar com outro assunto. E nem foi por falta de temas importantes, porque o país e o mundo, felizmente, têm sempre muito para contar. Foi porque o assunto caiu sobre a campanha com a mesma determinação com que um piano de cauda cai de um andar alto em cima de transeunte.

Há três dias que a campanha ficou mais ou menos reduzida a isto: a pizza de Sócrates, as visitas a Sócrates, o bolo de aniversário de Sócrates, as obras na rua onde agora mora Sócrates, a porta entreaberta por onde se vê Sócrates, a piscina da casa onde está Sócrates…

Os candidatos, é certo, não falam do caso judicial, mas acabam por tropeçar em Sócrates frase sim frase não. Basta ver um noticiário de qualquer canal de notícias e contar as vezes que o nome do ex-primeiro-ministro aparece na boca de quem anda nas habituais voltas pelo país.

Com isto, estamos com as sondagens empatadas (pode rever aqui a mais recente do Expresso) e a dois dias do único frente-a-frente televisivo entre Pedro Passos Coelho e António Costa. Uma das perguntas que mais se coloca é esta: a semana vai ser do debate decisivo ou de Sócrates?.

Neste momento, tudo indica que o ex-primeiro-ministro vai continuar com a estratégia que seguiu enquanto esteve em Évora, falando à comunicação social e confrontando a Justiça em permanência. Os primeiros sinais foram dados pelos seus advogados, que deram uma dura conferência de imprensa no sábado de manhã e depois muitas entrevistas. Só falta o ex-primeiro-ministro falar.

E qual vai ser o seu calendário? O jornal i garante que José Sócrates só fala depois do debate televisivo que vai dar em simultâneo na SIC, TVI e RTP e que depois estará calado durante a campanha. Ou seja, falará entre a próxima quinta e o arranque oficial da campanha a 20 de setembro. Pelas minhas contas são dez dias. Hum…

Só para encerrar este assunto, o jornal i faz as contas aos socialistas da subespécie socratista (homo socraticus no rigor latino da taxonomia política) que vão visitar o amigo a casa. Vai ser um rodopio.

O Público lembrou-se de uma curiosa questão: Como vai votar Sócrates?. E parece que só há duas soluções, ou uma escolta policial ou a câmara ir a casa recolher o voto. Sempre é um salto intelectual em relação à profunda discussão em que o país se enredou por causa da telepizza.

Já o DN foi ouvir 52 (!) pessoas ilustres para saber se Sócrates deve ou não dar entrevistas. O resultado é o normal depois de se ouvir 52 pessoas: há gente que diz que sim, outros que dizem não e ainda os que acham que a decisão cabe ao próprio. Claro.

Volvidos 2677 carateres deste Expresso Curto, vamos então a outras notícias.


OUTRAS NOTÍCIAS
A Festa do Avante encerrou ontem com novo discurso de Jerónimo Sousa, agora muito focado na ligação do PS ao PSD e CDS. O secretário-geral do PCP sabe bem o que o voto útil pode fazer ao seu eleitorado e colocou os socialistas na sua mira.

Um dos grandes acontecimentos da Festa do Avante foi a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, que desembarcou no Seixal com uma boina parecida com as que Portas usava quando ainda declinava o substantivo lavoura. Marcelo optou por um padrão neutro, longe do ‘padrão CAP’ que Portas tanto usava em feiras.

E foi assim, de boina cocuruto, que Marcelo mostrou aquilo que todos já sabíamos. Pode ir ao Avante (onde já tinha ido sete vezes), a um encontro de monárquicos, de fanáticos de Hayek ou de adeptos vegan, e está sempre em casa. Só muda de boina.

A crise de refugiados e migrantes continua, mas agora, felizmente, com grande atenção dos governos europeus. Depois de anos de hesitação (a guerra na Síria tem quatro anos), de fechar os olhos (morreu muita gente a tentar chegar à Europa este ano) e a assobiar para o lado (só na Turquia estão dois milhões de refugiados sírios), as coisas começam a compor-se para uma decente resposta conjunta.

A Alemanha continua a dar cartas nesta frente. Não só vai receber 800 mil refugiados como o está a fazer de uma forma impressionante. As imagens das chegadas à estações de caminho de ferro são comoventes.

Sobre este assunto, recomendo a leitura do texto de Clara Ferreira Alves, As lágrimas de Crocodilo, publicado na Revista do Expresso de sábado (aqui na íntegra) ou A pedra de toque da nossa vida de Henrique Monteiro (pode ler aqui). São textos de jornalistas que não acordaram agora para o tema dos migrantes e refugiados e que muito têm escrito sobre o tema.

Na Grécia, as coisas estão a correr mal a Tsipras. Ontem saíram as primeiras sondagens onde o Syriza já é apanhado ou mesmo ultrapassado pela Nova Democracia. Ou seja, as suas sucessivas jogadas políticas, tão ousadas quanto arriscadas, podem começar a correr mal. As eleições são dia 20 de setembro e já se fala na hipótese de uma grande coligação nacional.

Sabe quem é o Panchen Lama? Se é fã da causa Tibetana deve saber e deve estar contente. É que as autoridades chinesas disseram ontem que a segunda figura na hierarquia do Tibete (depois do Dalai Lama), e que tinha desaparecido há 20 anos, está bem. Na verdade, a frase que Pequim divulgou é extraordinária e aterradora: “o Panchen Lama está a crescer com saúde e pede para não ser incomodado”.

Há vinte anos que ninguém sabia da 11ª reencarnação do Panchen Lama, que tinha sido escolhido pelo Dalai Lama em criança e que hoje terá 26 anos. Há vinte anos que esse prodígio democrático que é a China fez desaparecer a criança e se entretém em disputas intelectuais com o Dalai Lama sobre quem tem autoridade para decretar onde e em quem reincarnou o Panchen Lama. Bizarro.

Logo à noite, já sabem, o mundo para durante hora e meia e nem se vai falar de Sócrates. É que Portugal joga logo na Albânia, num jogo muito importante para o nosso apuramento para o Euro-2016 em França. 


FRASES
“Fui, porventura, o deputado que mais oposição fez ao antigo primeiro-ministro, achei que a sua política levaria Portugal à ruína e levou mesmo". Paulo Portas a falar de Sócrates sem falar de Sócrates

"Está nas mãos de Sócrates facilitar ou dificultar o processo de campanha eleitoral". Marcelo Rebelo de Sousa na TVI

"PSD, PS e CDS entregaram o país ao estrangeiro e ao seu programa de saque e terrorismo social". Jerónimo Sousa, no encerramento da festa do Avante


O QUE EU ANDO A LER
Vou fazer alguma inveja aos fanáticos, mas já ando a ler Purity de Jonathan Franzen. O livro só está à venda amanhã em Portugal, mas tive a sorte da Cecília Andrade (editora da Dom Quixote) me ter enviado um exemplar no final da semana passada para a redação. A oferta da Cecília teve o duplo efeito de me dar cabo de parte do planos que tinha para o fim de semana e de me ter atirado para dentro de 694 páginas de um magnífico romance do grande escritor americano do momento.

Franzen é hoje o mais que tudo da imprensa literária e de críticos em todo o mundo. Em matéria de grandes escritores americanos, o meu coração continua sempre a saltitar para trás e para a frente na rigorosa linha Fitzgerald-Hemingway-Faulkner com uma enorme vénia para Saul Bellow, o mais brilhante, rigoroso e inultrapassável dos escritores judeus americanos. Mas sim, Franzen é Franzen, escreve maravilhosamente e apanha o espírito do tempo como poucos.

Purity é nome do livro e da personagem principal, que gosta de ser tratada por Pip e que anda às costas com uma enorme dívida por causa das propinas, tem um emprego detestável, uma mãe que só desajuda, vive numa casa de ocupas disfuncionais e tem uma relação difícil com os homens e ainda mais difícil com as mulheres. O livro é mesmo muito bom. Ainda me faltam 400 páginas para acabar, mas duvido que mude de opinião até lá. Tem aqui o artigo de José Mario Silva no Expresso de sábado e atenção que este livro vai dar que falar por muitas semanas.

No Expresso, já sabe, andamos sempre às voltas no Expresso Online e agora com duas novas frentes dedicadas às eleições: uma no Snapchat (siga-nos em Snap-Expresso), com uma adesão que nos está a surpreender nos jovens, e outra no WhatsApp, que arrancou mal e nos obrigou a parar no fim de semana por excesso de subscrições e problemas de software.

Hoje, esperamos que quem nos siga no WhatsApp (966281213) já possa ter o serviço a funcionar depois de termos passado dois dias a resolver um modelo que já foi testado com enorme sucesso editorial pelo New York Times e pela BC. É o que dá estarmos sempre a inventar.

Lá para o fim da tarde, já sabe, temos mais uma edição do Expresso Diário e amanhã bem cedo está aqui a minha colega Cristina Peres, a germanófila da redação, para mais um Expresso Curto. Bom dia.
 

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